Franchsing – o renascer do velho cabeça de ovo!

10433271_685586041534786_8872707268429394864_n
Isto ia acontecer um dia. Depois das desvairadas recriações de famosas personagens literárias em filmes e séries de televisão, por vezes com recursos cénicos delirantes ou anacronismos patuscos – eventualmente com resultados interessantes, diga-se -, chegou-se ao puro gangsterismo editorial.

Um descendente/herdeiro de Agatha Christie, decidiu – e pode! – fazer negócio com uma escritora inglesa, à qual vendeu o direito de “continuar” a obra da mestra do policial, nomeadamente ressuscitando a figura de Poirot que vai, assim, continuar a exercitar “his little grey cells”. Isto é, Poirot é um franchising! Como asas de frango, cachorros quentes, hambúrgueres. Aposto que o pobre Hastings vai ser substituído por uma capitosa loira cheia de truques e o brioso chief inspector Japp por algum mutante especialista em artes marciais.

Mas o herdeiro e a autora estão felizes, que eu vi. Já lançaram o livro. E em vários países simultaneamente. Ousam declarar que vão continuar a obra de Agatha Christie e já prometem uma sequela. Se isto faz escola, vai ser o bom e o bonito. Estou a ver algum descendente de Proust autorizar um Em Gozo do Tempo Encontrado. De Eça poderá sair Padre Amaro II: o Gay ou A Reliquia II – o Regresso a Jerusalém. De Camilo, Amor de Perdição – Mariana Sabia Nadar!. E nem quero pensar nos heterónimos que Pessoa pode vir a ganhar. Para não falar na publicação de um Azul e Verde, que continuará, em variação cromática, Stendhal, ou na mina que seria continuar a obra de um velho moralista como Sade. E por aí fora. Tremei, escritores vivos! Um qualquer bisneto desusado pode continuar-vos. A possibilidades são infinitas. Basta arranjar um descendente/herdeiro com o adequado perfil de chulo.