Jornais na madrugada

O cansaço dissipou o sono. É madrugada alta e é quase Natal. Leio jornais on line. Cai-me debaixo dos olhos a notícia da morte do actor António Montez. A memória recua a 1959, ao teatro anatómico da Faculdade de Medicina de Lisboa. Na mesa o corpo pequeno e magro da mulher com o número 36. À volta, um grupo de estudantes de anatomia. O José Gomes Ferreira, afamado locutor da RTP, paralítico das duas pernas, na sua cadeira de rodas. A Virgínia Morais, de Macau, boémia e rabulista, que vivia num apartamento com uma criada oriental a fazer petiscos com que todos nos regalávamos. O José Álvaro Morais, dividido entre a Medicina e o Cinema, acabando por ganhar este e com pompa, em Paris, onde foi realizador de mérito. A Clementina Diniz, elegante e sofisticada, que veio a ser psicóloga de nome feito pelo saber. A Sofia Borges, de Angola, sempre agitada e cheia de pressa. A Zita Neto Raposo, que veio de Minde com o seu sorriso franco e alegre. A Maria José Cardoso, cheia de verve e obstinação. Os manos Chung Kong Sin e Chung Su Sing, vindos da China via Macau. O António Montez, dividido entre a Medicina e o Teatro, e ganhou este fazendo dele um belo actor. O Luiz Frazão, pândego e cheio de piada. E eu, ida de Tomar  sem nada que me distinguisse. [Read more…]