O devir histórico (3)

Continuando.

A economia nacional tem tido uma constante coerente ao longo dos séculos: viver do que dá. Foi assim com África, com a Índia e com o Brasil. E se algo dava para ganhar dinheiro, mal se fazia notícia, era logo tudo a correr atrás do mesmo. Associada a tal tendência, a lógica do lucro fácil, criou-se a desastrosa matriz em que assentou a economia até aos dias de hoje. Enquanto houve colónias para exportar excedentes, e a santa protecção do “orgulhosamente sós”, a vida lá se foi compondo. Foi o fim do império e a abertura à concorrência, que revelou as nossas maiores fragilidades. Exactamente porque não estávamos habituados à concorrência. E não havendo concorrência, não há exigência. Se não há exigência, não há razão para evoluir, para ser melhor. Perante o desafio da entrada na então CEE, ao contrário do que seria aconselhável, voltamos a cair no engodo do dinheiro fácil que por cá entrava a rodos. Foi-se atrás do lucro fácil, e não se curou de se investir em conhecimento, ciência, técnica. Pelo contrário, o modelo económico foi-se desenvolvendo não só ao sabor dos dinheiros comunitários, muitas vezes a fundo perdido – tragicamente real a nomenclatura “fundo perdido”… -, e do financiamento bancário desregrado. Começaram os “poligrupos”, para comprar carro novo. E o financiamento à habitação própria, que viria a tornar a construção civil na grande base de emprego do país. Ou seja, uma base maioritariamente dependente do mercado nacional. Começou, também, o abandono das terras e dos mares. E começou a progressiva decadência da nossa independência financeira: com mais gente a pedir emprestado do que a depositar dinheiro, os bancos endividaram-se lá fora. Aos poucos, a lógica do endividamento enraizou-se no país: era crédito para obras, para carro, viagens, colchões magnetizados, extensões no cabelo, etc. A banca estava voraz, e o Estado cúmplice. Somaram-se os investimentos públicos sem retorno financeiro, até a esse refinamento catastrófico das Parecerias Público Privadas. O país foi deambulando, inebriado, pelo oásis dos tempos de Cavaco Silva, o pântano de Guterres, a tanga de Durão Barroso, o alto astral de Santana Lopes e o choque tecnológico de Sócrates. Uma constante, a lógica da facilidade e do imediato, fosse na economia ou no ensino onde se perde mais tempo a avaliar os professores do que os alunos. E pior agora, já sem os encantos do cheiro a canela, ou das riquezas das colónias.

Opções

Não, eu não sou também norte-americano. Fui por uns dias, faz hoje 10 anos.

Mas  também já fui guineense, caboverdiano, sãotomense, angolano, moçambicano, indiano e timorense.

A solidariedade é uma escolha e cada um faz a sua.