Carta de uma professora aos governantes

Encontrei a referência no Paulo Guinote e resolvi deixar aqui uma tradução da carta que a professora Judy Willner enviou ao governador Tom Corbett e ao mayor Michael Nutter. Qualquer um deles poderia integrar o governo português, pois ambos se dedicam também à destruição da escola pública.

Caros governador Corbett e mayor Nutter

Por favor, venham visitar a sala do meu terceiro ano e explicar-me como ensinar 32 alunos, 24 dos quais são rapazes. Por favor, expliquem-me como lidar com crianças malcriadas e desrespeitadoras e manter, ainda assim, o controlo da minha aula. Por favor, expliquem-me como poderei criar grupos de leitura ou fazer planos de aula que possam melhorar a educação destas crianças. Por favor, expliquem-me como devo manter a calma, quando tenho crianças a correr pelos corredores e à volta da sala, incomodando os colegas. Por favor, expliquem-me como é possível ensinar um programa de Matemática sem livros e sem papel. Por favor, venham explicar-me como posso planear o meu dia de trabalho de modo a que não me limite a disciplinar as crianças. Por favor, ajudem-me a ajudar aqueles que querem aprender. Por favor, venham explicar-me como poderei ajudar todas estas crianças, quando sou apenas uma pessoa.

Salvo erro, cada um dos senhores tem pessoal que vos ajuda a dirigir a cidade e o Estado. Corrijam-me se estiver enganada, mas tenho a certeza de que ninguém grita convosco, ninguém vos ignora, ninguém vos insulta, ninguém foge do gabinete enquanto vos atira com alguma coisa. Corrijam-me se estiver enganada, mas penso que têm o material de que precisam para que os vossos gabinetes funcionem. Corrijam-me, ainda, se estiver enganada – alguém está a tirar-vos parte do salário e dizer-vos que é vossa obrigação pessoal “resolver o problema do orçamento”?

Não me venham dizer que outras regiões têm os mesmos problemas e que também terei de suportar tudo isto até ao fim do ano. Não se atrevam a dizer-me que não me preocupe com aqueles que não querem aprender e que me concentre naqueles que querem. Não me digam que estão a trabalhar para melhorar a situação de Filadélfia. Finalmente, nunca, nunca culpem os professores pelos problemas que afectam a nossa região.

Assim, façam o favor de me contactar quando estiverem dispostos a tomar conta dos meus alunos durante uma hora. Tenho a certeza de que não aguentarão dez minutos.