O que acontece a quem comete uma ilegalidade?

O Tribunal da Relação considerou ilegal a definição de serviços mínimos para as greves dos professores de 2 e 3 de Março.

Já se sabe que impor os serviços mínimos a uma greve às aulas é indecente, para usar um eufemismo já pouco simpático. De qualquer modo, isso só poderia ser um problema para quem sentisse vergonha.

A partir do momento em que essa imposição foi considerada ilegal, a pergunta é: o que acontece a quem comete uma ilegalidade?

Luta dos professores – um vídeo do Ricardo Silva

Mais uma vez, vale a pena ouvir a voz esclarecida e apaixonada do Ricardo Silva.

Apesar de o vídeo ser muito mais interessante do que qualquer coisa que eu escreva, não posso deixar de notar a minha dificuldade de compreensão.

Não compreendo a que sítio esconso se vai buscar uma pergunta em que se insinua que a emotividade possa ser um problema, como se fosse possível uma pessoa ter razões para se revoltar, ficando impassível ou como se sentir ou mostrar emoções nos retirasse necessariamente a razão.

Não compreendo como é que é possível a maior confederação de pais e de encarregados de educação do país estar contra a luta dos professores. Note-se que ‘compreender’, aqui, significa ‘considerar inaceitável’. A CONFAP tem razões que o coração desconhece.

Ide ver o vídeo, ide, que há razão e coração em doses perfeitamente equilibradas.

Não são os “pais”, é a CONFAP

Pais pedem aulas extra para compensar efeitos das greves de professores

Luta dos professores – ligações com vídeos

A propósito da luta dos professores, aqui ficam três ligações com vídeos de intervenções do Paulo Prudêncio, do Paulo Guinote e do Ricardo Silva. Em comum, têm a clareza e a informação. Quem vir e ouvir, não poderá ignorar. É de lamentar, no caso do vídeo do Ricardo, a intervenção de um jurista que não apresentou argumentos jurídicos, e que, para cúmulo, acredita ou parece acreditar que é indiferente ser-se professor universitário ou do básico e do secundário.

Sem querer desvalorizar, de maneira nenhuma, outras vozes, é de louvar que as televisões dêem também visibilidade a professores a tempo inteiro. A surpreendente tenacidade da classe docente terá levado a que as televisões sentissem que não era possível ignorar estes contributos, em vez da redundância vazia de outros actores.

O governo, entretanto, continua na senda de fingir que está a negociar, prosseguindo, ao mesmo tempo, um caminho de destruição do sistema educativo. Tudo começou em 2005, no triste consulado de Maria de Lurdes Rodrigues. A perda da maioria absoluta do PS, em 2009, foi fraca consolação, uma vez que o rolo compressor não parou com Passos Coelho e António Costa, sendo indiferente o nome dos ministros da Educação, simples tarefeiros que se limitam a demolir, cumprindo ordens.

A luta dos professores

Os professores são, provavelmente, aqueles que mais têm sido prejudicados, não só, em termos de carreira.

Outras profissões também têm sido desprezadas, sim. Mas, no caso dos professores estamos perante uma clara opção de subdesenvolvimento, de uma opção de desvalorizar o ensino, a cultura, o conhecimento, de modo a moldar um povo menos demandante, porque mais ignorante e sem matriz de exigência.

E isto, torna tudo mais grave.

Até por isso, os professores têm vindo a ser desprezados: valorizar o papel do professor na sociedade é valorizar o conhecimento e a cultura de modo a construir gerações mais esclarecidas e, assim, mais exigentes. E isto não interessa muito a quem quer manter os moldes de exercício do poder político que desde a monarquia até hoje não mudou muito em termos de mentalidade.

Exemplo disso, é o fraco investimento na ciência, nas artes e no conhecimento até pela nossa burguesia, mesmo nos píncaros das riquezas dos Descobrimentos, salvo muito raras excepções. Em razão inversa ao resto da Europa, com relevo para a Flandres, Itália, França e Espanha, por cá valiam os “investimentos” em ostentação, fossem farpelas, jóias, quintas, palácios, coches ou amantes (à hora ou por conta). [Read more…]

Piada do dia

Maria de Lurdes Rodrigues escreveu uma crónica intitulada “Defender a escola pública”. Em breve, uma raposa irá publicar um livro intitulado “Defender o galinheiro”

Conversas Vadias – Segunda temporada, episódio 2

Neste segundo episódio da segunda temporada, vadiaram José Mário Teixeira, Fernando Moreira de Sá, Francisco Miguel Valada e António Fernando Nabais. As conversas vadiaram pela Super Bowl, pelo Sporting-Porto, pela crise da habitação, pela luta dos professores, pelas claques de futebol e por sugestões das boas: [Read more…]

Conversas Vadias
Conversas Vadias
Conversas Vadias - Segunda temporada, episódio 2
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Este velho caceteiro, dedicado companheiro

Talvez não fosse má ideia criar uma escola de estadistas, porque, na política portuguesa, há um excesso de palavrosos e de caceteiros. Uma pessoa olha em volta, vê sócrates, passos, portas, costas, marcelos e não encontra um estadista, um bocadinho de gravitas que seja.

Santos Silva, que, actualmente, é, pasme-se!, a segunda figura do Estado e putativo candidato a Belém, não destoa.

O actual Presidente da Assembleia da República é um antigo guterrista e socratista reciclado, tal como António Costa, aliás. Se a uns lhes foge o pé para a chinela, a mão de Santos Silva foge-lhe para o cacete, por muito que se disfarce de fato e de gravata. Como mau democrata, se é contrariado o poder que defende ou que exerce, só pensa em bater.

Há uns anos, quando era ministro de Sócrates, ao ser confrontado com protestos de professores, declarou que estes não distinguiam «entre Salazar e os democratas», o que, curiosamente, o afastou do lado dos democratas. Recentemente, criticou, a propósito da greve dos professores, o «modelo anarco-sindical» de «sindicatos recentes» (é claro que, antes disso, disse que as pessoas têm direito a protestar, sim, mas), recorrendo a uma estratégia suja que pretende apenas desacreditar as críticas, não contribuindo, por puro desinteresse, para a resolução dos problemas dos professores, que são, também os problemas da Educação. Tudo isto é triste, tudo isto é fado, tudo isto é costume.

Conversas Vadias – Segunda temporada, episódio 1

Com a presença de António de Almeida, João Mendes, Francisco Miguel Valada, Orlando Sousa, José Mário Teixeira, Fernando Moreira de Sá e António Fernando Nabais, regressam as Conversas Vadias. Falou-se de professores, de greves, de coisas e coisos, de presidente-comentador, de comentador-presidente, do palco papal, do retorno ou talvez não e terminou-se com sugestões: [Read more…]

Conversas Vadias
Conversas Vadias
Conversas Vadias - Segunda temporada, episódio 1
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Vídeo exclusivo! PS, PSD, IL e Chega defendem os professores e a Escola Pública!

cabotino

ca.bo.ti.nokɐbuˈtinu

nome masculino

1.
actor ou comediante itinerante
2.
depreciativo actor ou comediante sem qualidade

adjectivo, nome masculino

figurado, depreciativo que ou indivíduo que procura atrair atenções alardeando as qualidades que, suposta ou realmente, possuivaidoso, presunçoso
Do francês cabotin, «idem»

Professores em luta no Portugal sOcIaLiSta

Num Estado com tiques autoritários, ou a caminho disso, o governo dá instruções à polícia para colocar no terreno várias operações stop, com o propósito de atrasar, dificultar e evitar que uma manifestação, na capital do país, ganhe dimensão.

E diz que por lá andou que esse Estado, hoje, foi Portugal.

O tal que é socialista.

E neste Portugal socialista, perdão sOcIaLiSta, o dia da grave nacional dos professores foi recebido com inúmeras operações stop, onde autocarros foram mandados parar uma e outra vez, e os professores repreendidos (constou-me também que multados, mas não pude comprovar) por levar as carteiras no colo ou comer no autocarro.

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Lambe-botismo em cama de humor

Ariana Cosme e Rui Trindade escrevem, hoje, dia da manifestação dos professores em Lisboa: «Está na hora de se reconhecer que este Governo e este ministro são, afinal, os melhores interlocutores que os professores e os seus sindicatos poderiam ter.»

Direito à greve, sim, mas, repetem eles

Manuel Carvalho, director do Público, é mais um dos adeptos do direito à greve, mas. No seu editorial de hoje, pretende dar lições de ética aos professores, antecipando o desagrado da opinião pública. Haveria muito para comentar, mas o naco que se segue já é suficiente:

Uma greve de um dia, dois dias ou uma semana, seria inatacável do ponto de vista dos princípios. Exporia ao país sentido de urgência e empenho num combate. Levaria os cidadãos a interessar-se pelas suas causas. A substância do protesto seriam essas causas, não os expedientes de uma paralisação às pinguinhas.

Manuel Carvalho defende, portanto, greves cujo efeito é folclórico e nulo.

Na realidade, as greves de um dia diluem-se em argumentações estéreis acerca dos números de adesão, nunca levaram os cidadãos a interessarem-se pelas causas dos professores e nunca, mas nunca, levaram o Ministério da Educação a mudar, a não ser em meia dúzia de tretas sem importância. Desde 2005, os professores (e sobretudo a Educação) têm acumulado derrotas, mantendo-se, entre muitas outras monstruosidades, um sistema de (pseudo-)avaliação que só serve para impedir que a maioria dos professores progrida na carreira, a subtracção de tempo de serviço, o abuso que consiste em não efectivar professores que andam a ser contratados há 20 anos ou contas manhosas que mantêm as escolas com défice de funcionários.

Manuel Carvalho não se preocupa com nada disso, é um cidadão que não se preocupa com Educação nem com a luta justa dos professores. Para Manuel Carvalho, como para muitos outros, lutar, sim, mas baixinho, que queremos dormir.

Operações stop aos autocarros que transportam professores para a grande manifestação

Imagem retirada do Instagram.

Há relatos de professores multados por trazerem mochilas ao colo ou por estarem a comer dentro do autocarro. Há autocarros que pararam em mais do que uma operação stop.

Eu, que tantas vezes andei de autocarro, nunca vi uma única operação stop a autocarros que saíssem de Lisboa para o Porto, nem do Porto para Lisboa. Já vale de tudo para tentar melindrar quem, há anos, luta por melhores condições e reivindica a justiça para a sua profissão. Quando, em Brasília, se fala do alinhamento dos militares com os vândalos, não se espera que em Portugal a GNR e a PSP se aliem também aos vândalos para tentar destruir a democracia: neste caso, os vândalos são o Governo português, a direita à direita do PS e a extrema-direita.

Os Governos do PS sempre tão lestos na tentativa de criminalizar as greves e os grevistas, têm o desplante de se dizerem de esquerda, terem socialista no nome, enganando incautos, terem liberalizado a economia portuguesa e privatizado anéis e dedos, desde 2019 que querem macronizar a política portuguesa; e ainda se ofendem muito quando alguém de esquerda lhes diz, com propriedade, que de esquerda é que o PS não é. São iguais aos liberais e dão combustível aos proto-fascistas.

Votaram nisto? Agora aguentem, lidem com isso e tentem não se deixar enganar da próxima vez. A única esquerda está à esquerda do PS (mesmo que neste caso, os sindicatos afectos ao PCP mostrem conhecer o dono e entrem na estratégia de tentar sectarizar uma luta de todos os profissionais da educação, dando combustível a este des-governo que dá combustível à extrema-direita).

Vocês são todos muito inteligentes.

Não façam figurinhas tristes….

Porquê? A sério, porquê cantar nos directos televisivos ou pintar a tromba como se fossem o macaco dos Super Dragões. Os professores estão carregadinhos de razão, não precisam de fazer figuras tristes e deixar-nos com aquele sentimento incómodo de vergonha alheia….

Direito à greve, sim, mas, dizem eles

Governos, instituições e pessoas reconhecem o direito à greve, mas, quando há uma greve, os governos, as instituições e algumas pessoas tendem a criticar a prática da greve ou porque estão a decorrer negociações ou porque irão decorrer negociações ou porque as afirmações ainda são meras propostas ou porque a greve – esta é a minha favorita – está a incomodar as pessoas.

Fica-se com a impressão de que a greve deveria ser apenas um adorno legislativo que servisse para provar a existência de democracia, deixando-se ficar quietinha e bonitinha na letra da lei, sem se sujar na rua.

Está a decorrer uma greve de professores, para fingido espanto e aparente revolta de um ministro alegadamente ofendido com as mentiras que os grevistas dizem, estratégia habitual deste e de muitos ministros que o antecederam

O discurso que reconhece o direito à greve, mas já está em vigor, como se pode notar num texto da Federação das Associações de Pais do Concelho de Gaia. Realço esta pérola: «Entendemos que os professores têm direito à greve como um direito inabalável consagrado na Constituição Portuguesa. O que nos parece mais difícil de aceitar é o modelo de greve que tem como objectivo causar grandes alterações à vida dos alunos e pais com um custo muito baixo para quem a faz.» Como diria Vasco Santana, “Desculpa que te diga, mas és um ilusionista!”

Selecção nacional: professores e jogadores

Os professores e os jogadores da selecção nacional de futebol têm algumas coisas em comum, começando, de uma maneira geral, pela nacionalidade e por outros pormenores como membros inferiores e superiores acompanhados por órgãos e vísceras.

Professores e jogadores estão ao serviço do país, esperando-se que todos sejam sérios e exigentes quando desempenham os respectivos papéis. Há uma diferença: os professores não ganham internacionalizações de cada vez que dão uma aula.

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Associação de Professores de Português reconhece que o AO90 falhou

Nota inaugural: no final do texto, há hiperligações gratuitas.

Uma vez que há alunos brasileiros que têm sido penalizados na classificação de exames de Português por escreverem de acordo com a variante que aprenderam, a Associação de Professores de Português (APP) defende a criação de um grupo de trabalho para discutir aceitação de variedades de português em exames.

Não vejo mal nenhum em reflectir sobre o assunto, porque devemos defender o elo mais fraco, que, neste caso, é o aluno imigrante. Haverá várias questões a ponderar, mas a preocupação é legítima, embora não me pareça que o problema seja assim tão fácil de resolver. O que me traz hoje aqui, no entanto, é outra coisa.

Convém lembrar que a APP esteve sempre do lado da defesa do chamado acordo ortográfico (AO90), essa oitava maravilha do mundo que, segundo os seus diversos apóstolos, iria contribuir para a tão desejada «unificação ortográfica» que resolveria problemas que nunca existiram. Resolver problemas que não existem é, aliás, uma característica talvez tipicamente portuguesa. [Read more…]

Da literatura à politiquice

Como é habitual num blogue plural como é o Aventar, se um dos autores for visado ou criticado, publica-se a crítica e o autor que se amanhe. É esta pluralidade mais uma das razões que me levam a sentir orgulho de fazer parte deste colectivo.

Assim, foi publicado um texto de Joana Fonte em resposta a uma crítica que fiz a um outro texto desta autora. Passarei, então, a comentar a resposta em que sou visado, um texto carregado de tresleituras e de outros problemas que passarei a enumerar.

  1. Da suposta crítica à referência às habilitações literárias e à filiação partidária

Em momentos diferentes do seu texto, Joana Fonte afirma que critico o facto de se apresentar como mestranda em Ensino do Português e militante do Bloco de Esquerda. Basta reler o meu texto para confirmar que a crítica não é essa. Esclareço, aliás, para quem for mais duro de leitura, que é absolutamente legítimo que a autora apresente os títulos que muito bem entender.

As minhas críticas são outras e passo a repeti-las, pedindo que se leia devagarinho: como mestranda em Ensino do Português, Joana Fonte deveria usar instrumentos que as áreas dos estudos literários e da história literária põem à sua disposição; como militante de um partido de esquerda, escolhe um caminho que, na minha opinião, configura uma perversão dos ideais de esquerda, acumulando com o facto de que esse desvio contamina a visão que Joana Fonte revela acerca de Literatura e de Educação.

2 . Do direito absoluto à opinião

Joana Fonte consegue depreender que eu, ao fazer uma referência implícita à sua juventude (pelo facto de ser mestranda), estaria a defender que a autora não tem capacidade ou experiência para participar neste debate. São, efectivamente, tresleituras em catadupa ou, pior, na minha opinião, reacções de quem não gosta de ser confrontada com opiniões contrárias. Reafirme-se, então, o óbvio: Joana Fonte, como qualquer pessoa num país democrático, tem todo o direito a escrever aquilo que pensa, o que, por outro lado, pode implicar concordância ou discordância. Efectivamente, discordo de quase tudo o que Joana Fonte afirma e penso que, na verdade, as insuficiências que revela estão também relacionadas com o facto de lhe faltar estudo e experiência. Ainda assim, repito: liberdade de expressão absoluta.

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E se não mexêssemos nos programas de Português?

Joana Fonte defende, no P3 de 21 de Agosto uma “revisão ao programa de Português”, começando por afirmar que, no ensino secundário, “há alunos que perdem o gosto pela disciplina de Português – se algum dia o tiveram.” Depreende-se, tendo em conta o objectivo da autora, que haverá uma relação entre o programa a rever e a perda de gosto de alguns alunos. Seria importante, a propósito, saber em que se baseia para afirmar que há alunos que perdem o gosto e, sobretudo, se são muitos, poucos ou nem por isso. Estará isso estudado ou é uma mera impressão pessoal?

Nesse mesmo parágrafo, surge um verbo muito usado em discursos sobre Educação, o verbo ‘identificar-se’: “Os e as estudantes lutam por conseguir identificar-se com a linguagem de Fernão Lopes, Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Luís de Camões e Fernando Pessoa.”

Esse ‘identificar-se’ está muito na moda no que se refere, repito, a uma determinada visão da Educação. É sinal de um pensamento que encara o currículo escolar como um conjunto de conteúdos que não causem nenhum estranhamento ao aluno, como se o estranhamento não fosse, entre outras virtualidades, um caminho para o conhecimento, com tudo o que esta palavra deve implicar, incluindo o exercício do espírito crítico (em tempos de proscrição de palavras e conceitos, é estranhamente fundamental reafirmar o óbvio). Assim, o aluno, na Escola, só deveria encontrar a sua própria identidade, como se a Escola fosse um simples espelho e não um território onde deverá encontrar desafios minimamente controlados. Ainda por cima, esta ideia de uma identificação é redutora sob variadíssimos pontos de vista, desde logo porque parte do princípio de que os alunos são um todo uniforme por pertencerem a uma mesma geração.

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Impingir a democracia, disse ele

«A escola deve ser democrática, mas não impingir a democracia.»
António Barreto

Eu talvez preferisse a ditadura à democracia, se fosse ditador vitalício, rodeado por uma guarda pretoriana e com direito a pensão completa. Seria um ditador benevolente, amigo do meu amigo. Os meus inimigos teriam, apesar de tudo, a possibilidade de me criticar, desde que o fizessem em silêncio, porque o barulho faz-me dores de cabeça. O meu retrato, como é óbvio, estaria em todas as salas de aula e todos os alunos ficariam a saber que sou uma pessoa naturalmente bondosa, desinteressada, inteligentíssima e modesta.

Não é necessário impingir as virtudes da ditadura, porque, como predadores que somos, sermos lobos uns dos outros está-nos na massa do sangue e isso nota-se todos os dias.

A democracia, por ser tão custosa, por nos obrigar a contrariar a natureza do animal, tem de ser imposta, criando reflexos condicionados que nos levem a perceber que a sociedade humana não é a selva em que queremos viver.

Apesar da minha vocação para ditador, impingiram-me a democracia ainda em tenra idade. Devo isso a algumas pessoas e instituições, nomeadamente à Escola, onde fui alvo de doutrinações mais ou menos explícitas, entre benignas e malignas, sentindo-me sempre protegido e exposto e, com alguma frequência, obrigado a exercer o espírito crítico que me levou a escolher um caminho, quando me mostraram tantos.

A obsessão da direita, incluindo a alegadamente moderada, com a doutrinação de que os alunos são alvo é muito divertida, como todas as coisas perigosas. A propósito de António Barreto, diria que ser senador não é algo que se escolha, é algo que nos é oferecido e que devemos rejeitar. Escolher um verbo como ‘impingir’ no contexto que usou é um direito que a democracia lhe concede, porque a democracia também aceita a parvoíce.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, há professores racistas e xenófobos entre nós:

«não vale a pena negar que há, infelizmente, setores racistas e xenófobos entre nós». Pois. Efectivamente. Exactamente.

Mentira ou ignorância?

João Costa: “Em 2018 tínhamos apenas 4% dos professores no topo [da carreira] e hoje temos 30%”

Palavras para quê? É ministro da Educação!

Por razões de higiene também ortográfica, é raríssimo comprar o Expresso. Recentemente, João Costa deu a este jornal a sua primeira entrevista na qualidade de ministro da Educação.

Relembre-se, a propósito, que João Costa foi secretário de Estado do mesmo ministério durante os últimos seis anos.

A entrevista já foi devidamente escalpelizada pelo Paulo Guinote em quatro textos com a acutilância do costume: um, dois, três, quatro.

Limito-me a realçar o que, de qualquer modo, já foi realçado, roubando, ainda, uma imagem ao Paulo.

Em primeiro lugar, note-se que não há resposta à pergunta. Depois, a verdade é que João Costa trocou a função de professor pela de secretário de Estado e pela de ministro, o que não lhe retira nem acrescenta qualidades. Acrescente-se que João Costa é professor universitário, o que o coloca numa situação diferente da dos professores do Básico e do Secundário (e mesmo nestas duas áreas, há distinções importantes a fazer) e, portanto, afirmar que é “professor” é uma manobra de relações públicas altamente enganosa. Não se trata, aqui, de uma questão de superioridade ou de inferioridade.

A cereja em cima do bolo, no entanto, está nesta ideia insidiosa e repetida de que os professores não sabem lidar com a diversidade social e que isso se resolve com uma qualquer formação milagrosa. Os professores são um dos grupos profissionais que se encontram na primeira linha do contacto com a diversidade social, com tudo o que isso implica de frustrações, de imprevistos, de derrotas e de conquistas, muitas conquistas. [Read more…]

A lata de Maria de Lurdes Rodrigues

Fotografia encontrada no mural do Maurício Brito

Ontem, tive o duvidoso prazer de assistir a um dos reaparecimentos de Maria de Lurdes Rodrigues.

Não escondo o asco que gentinha como a ex-ministra da Educação me causa. Não se trata de uma questão pessoal – os políticos incompetentes e/ou desonestos que prejudicaram o país metem-me nojo, é algo visceral.

Maria de Lurdes Rodrigues faz parte desse rol. A mando do viscoso José Sócrates, foi a responsável por vários desmandos no âmbito da Educação, prejudicando toda a comunidade educativa nacional, sempre adorada por gentalha de vários quadrantes político, ralé fascinada por uma espécie de marialvismo que leva milhares de parolos a adorar cavacos, sócrates, passos e costas, um marialvismo que será ainda um resquício de um sebastianismo pobrezinho que gosta muito de figuras paternas com um ar severo, substitutos de salazarinhos, ai que saudades meu deus. [Read more…]

Está aberta a época de caça ao voto docente!

O governo de António Costa, durante os últimos seis anos, não reverteu as várias malfeitorias perpetradas por Maria de Lurdes Rodrigues e por Nuno Crato e conseguiu acrescentar algumas da sua responsabilidade, incluindo o roubo de tempo de serviço.

Como há eleições, cá está a prometer fazer o que não quis fazer e deveria ter feito enquanto foi primeiro-ministro.

Note-se que não é possível discordar do ainda chefe do governo quando afirma que é preciso acabar “de uma vez por todas com este absurdo que é [a carreira docente] ser a única carreira no conjunto do Estado em que durante décadas as pessoas têm de obrigatoriamente se apresentar a concursos e andar com a casa às costas e andar de escola em escola de quatro em quatro anos”.

O problema é que “este absurdo” é antigo, não apareceu a semana passada – no mínimo, António Costa teria de explicar por que razão não resolveu este problema, mas o que interessa agora é o soundbite da promessa, sequioso de votinhos. Do lado dos professores, se houver sensatez, só pode haver desconfiança e votos contra. Basta lembrarmo-nos das maiorias absolutas de sócrates e de passos para sabermos do que as casas gastam.

Costa ainda faz uma ligação vazia, fazendo depender a vinculação de mais professores aos quadros de uma alteração do modelo de concurso. Não se percebe (ou talvez se perceba, mas já lá vamos), uma vez que é perfeitamente possível vincular mais professores mantendo o modelo.

O modelo é centralista, é verdade, e cego, é certo, fazendo depender a colocação de uma nota. As injustiças que advêm deste modelo, no entanto, são também a garantia de que não há possibilidade de cunhas. Costa, tal como o resto do arco da governação, sonha entregar as escolas às câmaras municipais, incluindo no embrulho a escolha dos professores.

A municipalização da Educação, tal como a regionalização, é uma ideia maravilhosa no papel e terrível em Portugal. Diante do caciquismo endémico que transforma tantos presidentes da câmara em pequenos ditadores que distribuem favores e dinheiros, as escolas ficariam entregues a caprichos e cunhas.

Costa, amigo, não contes comigo!

Deus é mentiroso

Rodrigo Moita de Deus, na sua casa de fados, em Cascais, durante a interpretação de “Nasci para ser ignorante”.

 

Pode um mentiroso ser da família de Deus? Será uma questão teológica, mas, em Portugal, se nos referirmos a Rodrigo Moita de Deus é uma questão de (in)decência. Já não é a primeira vez que este parente do Senhor diz, na televisão pública, mentiras e alarvidades sobre os professores.

O comentador televisivo é, muitas vezes, um espécime da linhagem do tudólogo, que fala de tudo, mesmo, ou sobretudo, se não dominar o tema. Rodrigo Moita de Deus é, portanto, parente próximo de Nuno Crato ou de Carlos Guimarães Pinto.

Deixo uma ligação para o vídeo com a intervenção de Deus no Último a Sair e remato, mais abaixo, com um excerto de um texto copiado do facebook do S.T.O.P. (Sindicato de Todos os Professores), para aqueles que quiserem verdadeiramente informar-se.

Os que não quiserem informar-se, podem limitar-se a ver o vídeo com a palavra de Deus. Com gente desta na família, é natural que as pessoas se afastem da Igreja.

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Nuno falta de vergonha na cara Crato

 

Crato diz que há professores a mais e que “redução é inevitável”

Falta de professores é um “drama anunciado há muito tempo”, diz Nuno Crato

Há muito para repetir (porque já foi tudo dito) sobre o consulado de Nuno Crato. No que se refere às duas declarações patentes na imagem, impõe-se uma pergunta básica: qual é o número mínimo de anos que corresponde a “muito tempo”? Relembre-se que  foi, alegadamente, ministro da Educação entre 2011 e 2015.

Nuno Crato foi um digno sucessor de Maria de Lurdes Rodrigues, cumprindo com denodo a tarefa de demolir a Escola Pública, o que incluiu um ataque continuado aos professores.

Tal como Maria de Lurdes Rodrigues, também Nuno Crato, por ter a mesma quantidade de vergonha na cara, aparece regularmente a dar opiniões sobre Educação. Está no seu direito, porque, em democracia, os incompetentes e os desavergonhados também têm direito a exprimir opiniões.

Conversas Vadias 35

A trigésima quinta edição contou com a presença especial do Orlando Sousa, acompanhado pelos também aventadores António Fernando Nabais, António de Almeida, Francisco Miguel Valada, Carlos Araújo Alves, João Mendes, José Mário Teixeira e Fernando Moreira de Sá. Recorrendo à nossa vasta ignorância sobre agricultura, começámos por mostrar espanto face a estufas e túneis e a relação com o PAN e com Inês Sousa Real. Depois, voltámos a Rangel e a Rio, passámos pelo Chega, abordámos a possibilidade do novo confinamento e ainda tivemos tempo para falar da falta de professores nas escolas. Sugestões a fechar, mais abaixo. [Read more…]

Conversas Vadias
Conversas Vadias
Conversas Vadias 35







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A propósito das crianças portuguesas que falam “brasileiro”

A também nossa Paula Sofia Luz publicou recentemente uma reportagem que deu algum brado e fez sair muitos patrioteiros de tocas mal frequentadas: “Há crianças portuguesas que só falam ‘brasileiro'”. Desde portugueses enojados a brasileiros ressabiados, juntaram-se nos comentários do jornal e das redes sociais dezenas ou centenas de idiotas de ambos os lados do Atlântico, agarrados a estereótipos e a interpretações espúrias da História, ou melhor, de um conjunto de sentimentos e de preconceitos que alguns confundem com História.

O fenómeno da influência do português do Brasil na expressão dos jovens portugueses não é novo e pode (e deve) ser discutido, excluindo qualquer laivo de superioridade ou de inferioridade e incluindo linguistas e professores de Português, sendo que, neste último caso, há um afastamento indesejável entre ambos os grupos – polemizando já um pouco, e sendo eu suspeito, há alguns linguistas que imaginam os professores como meros receptáculos, mesmo quando o assunto é o ensino de uma norma linguística, por muito que este conceito contenha algo de demasiado artificial.

Assim, se é verdade que não faz sentido censurar (em qualquer dos sentidos da palavra) os conteúdos brasileiros, é importante pensar naquilo que se chama o “cultivo da língua”, expressão difusa que se pode prestar a usos elitistas desajustados e que poderá, muitas vezes, entrar em conflito com a natural circulação de palavras e de conceitos. [Read more…]