Centenário da República: o 28 de Janeiro de 1908

Vou hoje lembrar o dia 28 de Janeiro de 1908, um marco na caminhada para a proclamação da República. Porque o Partido Republicano não fora criado com o objectivo de ser mais um partido a participar nas disputas parlamentares. O objectivo dos republicanos era, desde o início, a tomada do poder, o derrube da Monarquia, a proclamação da República.

Sabendo-se isto, é evidente que o comportamento dos partidos monárquicos e do próprio rei, não foram os mais adequados. Pelo contrário – com displicência de quem nada teme, foram, dia a dia, caso a caso, escândalo a escândalo, fornecendo achas para a fogueira em que a Monarquia se iria consumir.

Os partidos do Poder estavam fragilizados. Em 1901, João Franco, seguido por 25 deputados, saíra do Partido Regenerador, criando o Partido Regenerador Liberal. No Partido Progressista dera-se também uma cisão: em 1905, José Maria Alpoim, visconde da Ribeira Brava, com mais seis deputados, saiu e criou a Dissidência Progressista. Verificando o rei D. Carlos que a rotatividade entre os partidos Progressista e Regenerador não correspondia às exigências da governação, estabeleceu em 1907 uma ditadura administrativa com João Franco à cabeça.

Neste quadro em que os partidos se digladiavam, enfraquecidos internamente, e a própria Casa Real se desacreditava com a questão dos adiantamentos, com o despesismo ostensivo de D. Carlos e com uma crónica de escândalos que o monarca alimentava, o Partido Republicano movia-se com facilidade, explorando os erros cometidos pelos adversários. E gozava de um amplo apoio popular, pois o povo vivia mal, como sempre vivera, só que agora, mercê da propaganda republicana, tomava consciência da sua miséria. Brito Camacho, dizia sobre João Franco, “havemos de obrigá-lo a transigências que rebaixam ou às violências que comprometem”. [Read more…]