Isabel de Aragão

A minha cidade festeja agora Isabel de Aragão à qual concedeu a condição de padroeira com o título de Rainha Santa. Das coisas do céu e da santidade, nada tenho a dizer, senão que respeito os meus concidadãos que nelas crêem. Porém, queria aqui confessar, com a humildade de quem muito ignora, que nunca me entendi com esta necessidade de, para elevar uma personagem feminina, lhe atribuir dotes sobrenaturais. Como se fosse estranho que a história de uma grande mulher – que indiscutivelmente Isabel foi – só fosse compreensível – digo mesmo, suportável -elevando-a à santidade e nesta lhe subsumindo a humanidade.

Isabel de Aragão foi uma mulher de dotes invulgares. Invulgarmente culta para o tempo – pelo menos tanto como o seu ilustre marido – foi firme, inteligente e hábil na sua acção política, diplomática e social, tal como foi sagaz e competente na administração das suas inúmeras propriedades. Interveio sem tibiezas, sem meias-tintas, escolhendo causas, mesmo que isso implicasse tomar partido na luta entre D. Dinis e seu filho, o futuro Afonso IV, coisa que fez de modo muito mais assertivo do que contam as piedosas lendas da doce esposa e mãe que, num burrinho, se interpõe entre as hostes de pai e filho. Com ela, aprendemos que bondade não é tepidez, que a coragem tem muitos rostos. [Read more…]