O fim da monarchia e a Republica Portuguêsa

Esta manhã, quando revejo provas das palavras que ahi deixo, chega a minha casa a notícia de ter sido proclamada a Republica Portuguêsa.

Há mais de um anno que este livro vive nos meus papeis, esperando a sua vez de ser publicado. Durante um anno esse desabar e esboroar contínuo da monarchia e da vida politica amorteceu e segui, como se os donos da casa, numa indolência de preguiça á beira do regato, se ficassem na somnolenta modorra de quem não dá um passo para salvar uma vida, no automático aborrecimento da propria vida. Durante um anno a politica portuguesa foi uma fuga constante do «salve-se quem poder». O partido republicano construiu serenamente o seu edifício ; e ninguem apareceu a reagir, opondo uma vontade a essa vontade, alimentando uma energia, erguendo um clarão de esperança. « Salve-se quem puder » ; « salve-se quem puder ». E nem quem podia se salvava.

Como um condemnado que se vê já a braços com a pena suprema e conhece que nada vale defender-se, os homens da monarchia abriam os alçapões e safavam-se por elles como diabos de mágica. [Read more…]