A Lurdes está a fazer o que sempre fez. Lutar!

Au mulheres Rocha são fortes, convictas, cheias de talentos vários, mil vezes melhores que os homens Rocha. E as duas gerações a seguir que já estão aí vão no mesmo caminho.

 

A Lurdes nasceu e viveu até ao antigo 7º ano no meu bairro, no Bairro do Cansado, em Castelo Branco. É da idade da minha irmã mais nova e sempre que eu impunha a minha autoridade de irmão mais velho, a Lurdes corria-me à pedrada e metia-me em casa.

 

Veio para Lisboa e tirou medicina, é a primeira mulher da família que tirou um curso superior, junta à determinação e capacidade de trabalho, outros talentos, como uma boa voz que faz ouvir nas festas de família, escreve e tem dois livros publicados e pinta quadros magníficos que eu ainda não consegui surrepiar, nem um.

 

Pois a Lurdes está aí no Porto, a travar a sua última batalha. Há dez anos teve que tirar as duas mamas e agora algo maldito que começou com uma dor, coisa de somenos, mas que se veio a revelar  um inimigo implacável.

 

Aguentou um tratamento intensivo fortíssimo mas no último dia diversos orgãos começaram a desistir. Ela não desiste, diz ao irmão para lhe apertar a mão para ver como ela está cheia de força, diz aos filhos que não quer que nenhum deixe de cumprir as suas obrigações, só não tem coragem de chamar a mãe.

 

É que a mãe não a deixaria  tirar os vários tubos  que a apoquentam, a mãe é  feita da mesma natureza, tem 82 anos e é a pessoa mais serena que conheço. Sempre a conheci, a tomar conta de todos. Dos filhos, do pai dos filhos e das crianças, que como eu, não tinham ninguem em casa durante o dia.

 

A Lurdes sempre tomou conta de todos, dos filhos, do pai dos filhos e dos doentes que não pagam por serem pobres. E tomou conta da minha irmã que é da idade dela.

 

Se a maldita lhe der uma hipótese que seja, a Lurdes vai tomar conta dela!