Sente-se Aqui no meu Colo, Mamã

velhinhaSENTE-SE AQUI NO MEU COLO, MAMÃ

“sente-se aqui no meu colo, mamã, hoje faço anos”

Suavemente assim o fez. Quase não a senti. A minha mamã está tão levezinha, tão sem ser, tão quase nada. Encosto a minha mão, espalmada, na sua cara, sobre a face e a orelha esquerda

“que bom! – disse”

Que bom, pensei enquanto a cabeça da minha mamã se inclinava para o lado da minha mão e ma prendia de encontro ao seu ombro. Já há muito tempo que me não fazia isso

“que bom” – disse eu”

E beijei-a na testa, e encostei a minha testa à dela, e fiz movimentos de carinho com os dedos da minha mão direita. A minha mamã fez mais força com a cabeça, prendendo ainda mais a minha mão de encontro a ela, e sorriu.

Há muito tempo que a não via sorrir, ou falar, ou sequer reagir a um qualquer estímulo que eu lhe desse. A doença tinha-a comido e da minha mamã pouco restava. Qualquer dia nada sobraria mesmo, só a lembrança e a saudade.

“sente-se aqui no meu colo, mamã”

E a minha mamã sentou-se, quase sem que eu a sentisse de tão levezinha que estava. E ali ficamos os dois, um bom bocado, a apreciar o calor que transmitíamos um ao outro.

E eu sorrindo

“até amanhã, mamã”

e ela também com um leve sorriso nos lábios

“até amanhã, meu filho”

(Como Se Fora Um Conto)

 

La amiga perdida

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Estoy sentado en mi estudio, a pensar en ti. Nunca te vi de esta manera: estricta, sabia, a saber enseñar. Ese dedo levantado para enfatizar las palabras que se deben saber. Y las que no se deben decir. Era como cuando yo tenía dos años y tú, algunos más. En esas alturas de la vida, no se notaba, como en las alturas de la vida de hoy. Tú estás guardada en un ánfora, rodeada por la familia.

Yo, lo que tú me enseñaste, a escribir poesía a la amiga que me dejó anclado en esta tierra solitaria, sin nadie que me acompañe, aún en momentos tan tristes como los que vivo, ahora que nos dejaste. [Read more…]

Desempregado, uma carreira de futuro

Desempregados vão ter gestor de carreira

Mais uma vez, Álvaro Santos Pereira maravilha o mundo com outra brilhante descoberta. Tendo em conta que o número de desempregados está a aumentar em Portugal, torna-se claro que ser desempregado é uma das carreiras com mais futuro. Daí à ideia de criar a figura de gestor de carreira para desempregados foi um pequeno passo para o Álvaro e um grande salto para os portugueses.

Assim, antes de mais, será importante criar cartões de visita com a indicação da condição de desempregado, o que causará sensação nas festas e beberetes frequentados pelos que optaram por esta promissora carreira.

Os gestores de desempregados aconselharão os seus clientes acerca do melhor modo de desempenhar a sua inactividade. Assim, será importante que o desempregado acorde o mais tarde possível, de modo a que possa prescindir do almoço. O gestor de desempregados poderá, ainda, ensinar aos seus pupilos técnicas de relaxamento que lhes permitam transformar o oxigénio em nutrientes, desde que fiquem muito quietos o dia todo.

Entretanto, há uma grande movimentação na oferta de alternativas ao desemprego e está prevista a criação de cursos profissionais de ladrão, em que os discentes poderão frequentar disciplinas como TGV (Técnicas de Garrote e Vandalismo), CCB (Crimes de Colarinho Branco) e MAMA (Métodos de Ataque à Mão Armada).

O problema dos políticos: deram-lhes colo, quiseram mais mama

Nos anos 70 fazia-se política por causas e com paixão. Podem os mais novos duvidar mas era assim, à esquerda e à direita.

Depois veio a década de 80 e cada um (embora nem todos) se fez à vidinha, tratando de pensar em si e desistindo de lutar também pelos outros. Nessa altura os partidos do poder viram-se perante um problema: era preciso um estímulo financeiro para segurar os bons quadros, as tais elites que fugiam para as empresas. Ou lhes pagamos, ou ficamos com os medíocres, afirmavam.

E assim nasceram as mordomias, o aumento dos vencimentos pelo exercício de cargos públicos, e a cereja: subsídios vitalícios e de reintegração. Fazes uns mandatos e ficas com uma base para toda a vida, pá.

Santa ingenuidade, rapidamente se percebeu que os tais estímulos eram inúteis quando ex-ministro se tornou na mais rentável profissão do mundo. Não se seguraram as míticas elites, antes a força magnética do tacho atraiu o que de pior pode haver: gente medíocre, oportunistas em grau superlativo, canalhas puros e duros, alguns hoje caídos em desgraça, o que nem sequer corresponde a  terem sido os piores. [Read more…]

A Lurdes está a fazer o que sempre fez. Lutar!

Au mulheres Rocha são fortes, convictas, cheias de talentos vários, mil vezes melhores que os homens Rocha. E as duas gerações a seguir que já estão aí vão no mesmo caminho.

 

A Lurdes nasceu e viveu até ao antigo 7º ano no meu bairro, no Bairro do Cansado, em Castelo Branco. É da idade da minha irmã mais nova e sempre que eu impunha a minha autoridade de irmão mais velho, a Lurdes corria-me à pedrada e metia-me em casa.

 

Veio para Lisboa e tirou medicina, é a primeira mulher da família que tirou um curso superior, junta à determinação e capacidade de trabalho, outros talentos, como uma boa voz que faz ouvir nas festas de família, escreve e tem dois livros publicados e pinta quadros magníficos que eu ainda não consegui surrepiar, nem um.

 

Pois a Lurdes está aí no Porto, a travar a sua última batalha. Há dez anos teve que tirar as duas mamas e agora algo maldito que começou com uma dor, coisa de somenos, mas que se veio a revelar  um inimigo implacável.

 

Aguentou um tratamento intensivo fortíssimo mas no último dia diversos orgãos começaram a desistir. Ela não desiste, diz ao irmão para lhe apertar a mão para ver como ela está cheia de força, diz aos filhos que não quer que nenhum deixe de cumprir as suas obrigações, só não tem coragem de chamar a mãe.

 

É que a mãe não a deixaria  tirar os vários tubos  que a apoquentam, a mãe é  feita da mesma natureza, tem 82 anos e é a pessoa mais serena que conheço. Sempre a conheci, a tomar conta de todos. Dos filhos, do pai dos filhos e das crianças, que como eu, não tinham ninguem em casa durante o dia.

 

A Lurdes sempre tomou conta de todos, dos filhos, do pai dos filhos e dos doentes que não pagam por serem pobres. E tomou conta da minha irmã que é da idade dela.

 

Se a maldita lhe der uma hipótese que seja, a Lurdes vai tomar conta dela!