Sair e aterrar no mundo das notícias

Tenho andado arredado de noticiários e jornais. Provavelmente sem perder nada de especial; e ganhos certamente também não teria.

A respeito de impostos e reduções de rendimento, já estava informado. De resto, até fixei na porta do frigorífico o calendário fiscal para 2012. Ao estilo dos lembretes domésticos; ou se se preferir, ao jeito da decoração da cabine de um  qualquer camião TIR. Sem, obviamente, a pornográfica loura de avultadas “red lights”. Haja decência! A ética do lar é implacável e optei por calendário com fotos do Coelho e do Gaspar.

Todavia, e sem usar a económica do ‘Falcon’,  voltei a aterrar no mundo das notícias.  Vi a TV. Falou-se do descontentamento do Nick Clegg em relação à posição do Cameron na cimeira europeia. Anunciou-se e exibiu-se mais isto e aquilo. Notícias para encher o ‘prime-time’ do telejornal. Sem novidades, nem “cachas”.

No fundo, quem animou a minha jornada das notícias televisivas foi o Alberto João, no jantar de Natal do PSD-Madeira. O homem, como sempre, empolgou umas centenas de militantes. Elas e eles riam, babavam-se, pulavam e erguiam os braços,em patética celebração do discurso do grande líder madeirense. Emocionei-me com aquela gente e à memória saltou-me um pequeno poema de Bocage:

O Macaco Declamando

Um mono, vendo-se um dia
Entre brutal multidão,
Dizem que lhe deu na cabeça
Fazer uma pregação.
Creio que seria o tema
Indigno de se tratar;
Mas isto pouco importava,
Porque o ponto era gritar.
Teve mil vivas, mil palmas,
Proferindo à boca cheia
Sentenças de quinze arrobas,
Palavras de légua e meia.
Isto acontece ao poeta,
Orador, e outros que tais;
Néscios o que entendem menos
É o que celebram mais.

Para quem tem andado arredado do que se vai noticiando nestes últimos dias, não poderia ter tido regresso mais auspicioso e intrigante. Como é que Bocage, há cerca de 200 anos, profetizou Jardim e apoiantes?