Saramago e o Estado Laico

Era o ano de 1992 e o governo de que Cavaco Silva era o primeiro, por interposto Subsecretário de Estado da Cultura Sousa Lara , cortou o Evangelho segundo Jesus Cristo da lista de livros concorrentes ao Prémio Literário Europeu. “A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os.” Mas nem Cavaco nem Sousa Lara estavam sozinhos.

Dezoito anos mais tarde, tudo mudou. Para não distrair o governo da difícil tarefa de disfarçar a crise financeira onde também caímos, o mesmo íntegro, intelectualmente honesto e nunca equivocado Cavaco Silva, promulga a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, atentando assim contra o feroz discurso homofóbico da Igreja Católica e ignorando o milenar património religioso dos portugueses. Escapou-me alguma coisa?

Declaração de interesses: não li o Evangelho de Saramago. De Saramago só conheço alguns capítulos de Viagem a Portugal