Pequeno apontamento para aulas de literatura contemporânea em língua portuguesa

Cada um dos rios que lhe corriam nas veias trazia seus encantos e lamentos de outras terras, outras gentes e povos. Por isso ele se possuía de tudo e reflectia o modo de ser e de estar de todas aquelas gentes com seus sonhos e poesias em tons de lira.
Boaventura Cardoso

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O escritor angolano Boaventura Cardoso recebeu o Prémio de Literatura dstangola/Camões, promovido pelo dstgroup, em parceria com o Instituto Camões, pela obra “Margens e Travessias”, de 2021.

 

Todavia, segundo o Correio da Manhã de ontem, Boaventura de Sousa Santos terá recebido exactamente o mesmo prémio.

Esperemos que o assunto se resolva pacificamente.

Nótula: A pareceria não é a actriz principal desta indicação, mas fica o registo, para arquivo.

Agradecimento: A Jorge Nuno Silva.

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Da literatura à politiquice

Como é habitual num blogue plural como é o Aventar, se um dos autores for visado ou criticado, publica-se a crítica e o autor que se amanhe. É esta pluralidade mais uma das razões que me levam a sentir orgulho de fazer parte deste colectivo.

Assim, foi publicado um texto de Joana Fonte em resposta a uma crítica que fiz a um outro texto desta autora. Passarei, então, a comentar a resposta em que sou visado, um texto carregado de tresleituras e de outros problemas que passarei a enumerar.

  1. Da suposta crítica à referência às habilitações literárias e à filiação partidária

Em momentos diferentes do seu texto, Joana Fonte afirma que critico o facto de se apresentar como mestranda em Ensino do Português e militante do Bloco de Esquerda. Basta reler o meu texto para confirmar que a crítica não é essa. Esclareço, aliás, para quem for mais duro de leitura, que é absolutamente legítimo que a autora apresente os títulos que muito bem entender.

As minhas críticas são outras e passo a repeti-las, pedindo que se leia devagarinho: como mestranda em Ensino do Português, Joana Fonte deveria usar instrumentos que as áreas dos estudos literários e da história literária põem à sua disposição; como militante de um partido de esquerda, escolhe um caminho que, na minha opinião, configura uma perversão dos ideais de esquerda, acumulando com o facto de que esse desvio contamina a visão que Joana Fonte revela acerca de Literatura e de Educação.

2 . Do direito absoluto à opinião

Joana Fonte consegue depreender que eu, ao fazer uma referência implícita à sua juventude (pelo facto de ser mestranda), estaria a defender que a autora não tem capacidade ou experiência para participar neste debate. São, efectivamente, tresleituras em catadupa ou, pior, na minha opinião, reacções de quem não gosta de ser confrontada com opiniões contrárias. Reafirme-se, então, o óbvio: Joana Fonte, como qualquer pessoa num país democrático, tem todo o direito a escrever aquilo que pensa, o que, por outro lado, pode implicar concordância ou discordância. Efectivamente, discordo de quase tudo o que Joana Fonte afirma e penso que, na verdade, as insuficiências que revela estão também relacionadas com o facto de lhe faltar estudo e experiência. Ainda assim, repito: liberdade de expressão absoluta.

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Treinar o músculo da escrita

Foto: Thought Catalog @ Unsplash

 

Quando procuramos conselhos de outros escritores, ideias que partilhem para que possamos aplicar no nosso próprio processo, é raro algum deles sugerir algo tão estrondosamente novo que nos deixe embasbacados. De facto, a maioria dos conselhos versa sobre as mesmas coisas. Uma variação aqui, uma opinião ali, mas os conselhos de quem viveu para a escrita são muito semelhantes.

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Terapia de Casal para um Escritor e o seu Livro

 

O sentimento é, talvez, comum a todos os artistas ou todos os criadores que se aventuram no processo de dar origem a algo. Seja esse algo um livro, um quadro, uma escultura, uma música, um filme. E esse sentimento é uma relação agridoce com a primeira criação, ou com as primeiras criações (para carreiras mais longas). Talvez nem todas as pessoas o sintam. Mas eu senti. Tive, durante muito tempo, uma relação complicada com o primeiro livro que publiquei. Eis as razões para isso.

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Sopa de Letras – Viagem a Portugal

José Saramago. Escritor. Fez uma viagem a Portugal e escreveu-a. Numa altura em que se fala de turismo, turistas, economia, etc., esse livro deverá ser lido. Se aprendermos a conhecer este país, talvez o futuro possa ser diferente.

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Sopa de Letras - Viagem a Portugal
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Portugal: terra de capitalistas sem capital

«A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.»

Mia Couto

Fotografia de João Carlos Santos

11 anos sem Saramago

José Saramago. O prémio Nobel da Literatura faleceu em 2010.

«Já não há governos socialistas, ainda que tenham esse nome os partidos que estão no poder. Antes gostávamos de dizer que a direita era estúpida, mas hoje em dia não conheço nada mais estúpido que a esquerda.»

José Saramago, 2007

E, já agora

José Saramago, 1990. Foto: Juan Guamy.


«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

José Saramago, ‘Cadernos de Lanzarote’, – Diário III – pág. 148, 1995

Praticar o distanciamento de nós próprios: a questão do eu

 

@dougsavage

 

Não será de todo irreflectido pensar que vivemos uma constante e abrangente crise de identidade. A procura pelo significado do eu pintou a história de aventuras, da realidade à ficção ou mesmo na intersecção de ambas. Somos, afinal, eternos contadores da nossa própria história.

A ideia de sermos história cria, desde logo, uma crise de identidade: somos a nossa história ou os contadores dela? E se a contarmos, ela deixa de ser nossa?

Coloca-se o problema do distanciamento. Será proveitoso pensar que quanto maior o distanciamento, maior a incapacidade de encontramos o eu na história. Precisamos de estar próximos de algo para podermos dissertar sobre esse algo. A proximidade e a convivência garantem-nos experiência acumulada que se transforma em conhecimento de causa. Mas esta proximidade tem, em si mesma, encerrado um paradoxo existencial do distanciamento: não será a nossa visão mais clara quanto mais nos distanciarmos do objecto em análise, neste caso, nós próprios?

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Há quem confunda interdisciplinaridade com a Feira de Beja

Não é o caso de António Carlos Cortez: Quem deve leccionar Português? Um contributo

Literatura sem bluff

A apresentação pública foi há um mês (a 18 de Maio, para ser exacto, na Livraria Círculo das Letras, em Lisboa), mas, por circunstâncias várias que não vou detalhar, só agora me foi possível lê-lo com o vagar a que me obrigo para com os livros e autores de que gosto.

É, porém, um livro que se devora em pouco tempo. Tão pouco quantas as páginas de que dispõe (cerca de 30, sem numeração), mas que exigem a atenção aguçada e exclusiva do leitor, como é próprio de todas as coisas que valem a pena.

Chama-se, o livro, “Bluff”, e o seu autor António Ferra. É uma história que nos revela, em flashes curtos, os detalhes da vida de uma Graziela casada com um Jacinto bêbado e disfuncional possuído por t(r)emores de vários demónios que sobrevoam os descampados periféricos de um lugar sem nome nem geografia. Vidas feitas dos vários bluffs da vida real, onde se cruzam enganos e sentimentos, incertezas e contradições, seres e pareceres com alma e sem futuro aparente, pequenas coisas e momentos de humana desumanidade. [Read more…]

Tradução e gratidão

Foi depois de ter enfiado – com alguma fúria e frustração, diga-se – aquele insuportável livro num raro buraco de uma das estantes grávidas de livros cá de casa que, vendo na prateleira imediatamente superior e ao nível dos olhos o título a letras de ouro de “As Minas de Salomão”, de Henry Rider Haggard, na brilhante tradução de Eça de Queirós, me ocorreu de novo aquele sentimento de gratidão que tantas vezes me ocorre ao ler um livro traduzido por alguém cujo talento literário se mostra ao nível do autor original – não quero ter o maldoso atrevimento de me interrogar se, por vezes, não o ultrapassa.

Podia aqui fazer uma lista de tradutores- escritores e tradutores -académicos a quem estou profundamente agradecido mas, dada a feliz extensão de uma tal lista e a possibilidade de, por esquecimento ou ignorância, pecar por omissão, não o farei. Mas passam-me pela memória nomes, obras, descobertas, verdadeiros prodígios de tradução e recriação literária e/ou científica. Tanto mais que, não o ignoro, o trabalho de tradução é pessimamente pago e só o amor à arte motiva os melhores a fazê-lo. As gerações mais novas talvez achem esta gratidão excessiva, mas bem sabem os mais antigos como fizeram, por necessidade, os seus estudos sem ler uma linha na nossa língua. [Read more…]

A queda da Casa Golden

 

Sagas familiares são um tema comum na literatura. O declínio de uma família que acompanha o declínio de uma sociedade também não constitui novidade. Dos Maias aos Buddenbrook passando pelos Karamazov, cada geração tem a família que merece – e o respectivo declínio. A nossa, aparentemente, merece os Golden e felizmente fez algo de bom para merecer Salman Rushdie como cronista.

A Casa Golden (The Golden House em inglês) parte da narrativa de um aspirante a cineasta nova iorquino, nascido numa família de humanistas que simbolizam tudo aquilo que de bom havia no mundo pré 11 de Setembro. A tolerância, a fraternidade, o secularismo, a crença no progresso, valores que Rushdie considera basilares e universais. Sendo universais, todavia, são também – e especialmente – americanos. Foi nos Estados Unidos que Rushdie encontrou o apoio necessário na sua batalha contra o fanatismo e o ódio. Como gesto de agradecimento, tornou-se cidadão americano.

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A sério que é à séria?

lingua_portuguesa_televisaoIsaac Pereira

É um erro habitual na forma de falar, sobretudo na região de Lisboa, e em especial, ali para os lados da Assembleia da República. Mas a forma de falar também já se transpôs para a escrita. Frequentemente faz a sua aparição nos jornais e nas têvês, e agora também nos sítios “on-line”.
Isto sim, é a língua no seu esplendor mais virulento.

A expressão “à séria“, possui requintes de modo “chique-burlesco”, e é tão risivelmente paroquial e provincial que até faz um asno cantarolar. É uma espécie de modinha ou coisa que o não valha, assim, como dizer, tão “fin de siécle”, não achas ó Ramalho Ortigão?

Só escrevo isto para que te previnas. Quando leres ou ouvires alguém dizer que “isto” ou “aquilo” é uma coisa “à séria“, passa um raspanete à senhora membrana auricular e, para não chorares, esfrega a retina dos teus meninos olhinhos.

Make it right, Joe

Joe Right, professor numa próspera, embora pequena, cidade do Sul dos EUA, dirigiu-se à sua escola onde iniciaria mais um feliz dia de trabalho. Estava uma manhã quente, pelo que Joe estacionou o seu carro – um híbrido, claro, era preciso dar o exemplo – junto à pastelaria que havia ali, frente à entrada da escola. Saiu do carro, resistiu a acender um cigarro – estavam por lá alunos e alunas e o exemplo,não é…- e entrou. Pediu uma Coca Cola – diet, claro, o exemplo…- que acompanhou com umas bolacha sem glutém, sem açúcar, sem lactose – o exemplo…-, cujo gosto, suspeitava Joe, não seria muito melhor que o do cartão em que vinham embaladas.
Dirigiu-se à sua sala de aula. Os alunos e alunas – nunca esquecer de enumerar os dois géneros, pelo menos, lembrou, de si para si, Joe – enchiam a sala. Joe gostava deles e da sua profissão. Ultimamente sentia, porém, algum embaraço. Tinha-se preparado para abordar algumas obras literárias de que gostava, mas parece que, agora, não seriam admitidas por conterem elementos politicamente incorrectos. [Read more…]

Livros infantis para adultos

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[Alex Gamela]

Tenho a mania que escrevo umas coisas, e não escrevo tanto que justifique a mania.
Leio muita coisa, mas não leio talvez o suficiente ou suficientemente bem.
Leio muito sobre escrita, o que me reforça a crença nos pontos anteriores, mas também me dá alguma noção sobre a qualidade dos textos que me aparecem à frente.
Escritores por aqui tenho muitos, e muitos muito maus, que, se calhar deviam ler mais e melhor, e sobre escrita também, a ver se escreviam melhor.
São raros os textos que encontro com qualidade ou diferentes dos bitaites à la chagas freitas, com personagens que não nascem do umbigo ou presos a dilemas sentimentais infantis.
Esses maus escritores têm o mérito de ter alinhado 50 mil palavras, umas atrás das outras, sem terem conseguido sair do mesmo lugar. É mais do que eu, que não saio do meu lugarzinho para alinhar tanto palavreado junto, como neste postzinho inútil.

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Das excelentes ideias

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Já que aqui estou gostava de chamar a atenção para esta ideia do Instituto Goethe. O projecto intitulado House Call coloca 10 escritores Europeus em várias cidades Europeias de onde escrevem pequenas histórias, narrativas de viagem, pensamentos, anotações, tudo condensado num pequeno livro traduzido em seis línguas. O escritor português eleito  é Gonçalo M. Tavares, mas o projecto conta com a participação de quatro alemães, uma francesa, um espanhol, um belga, um italiano e um luxemburguês.

Quatro histórias já estão publicadas e podem ser lidas aqui. Vale a pena também ler o prefácio de Nicolas Ehler do Instituto Goethe em Nancy:

“No DEBATE PROLONGADO acerca da chamada crise europeia, tem-se referido repetidamente a necessidade de uma narrativa da Europa no seu conjunto: uma história que suscite o entusiasmo pelo projecto comum, que lhe confira uma forma convincente e uma identidade contemporânea”

Ainda o Nobel

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(Jean-Baptiste Auguste Leloir: Homer, 1841.)

Devo dizer que discordo de Francisca Prieto aqui no Delito. “A literatura é, simplesmente, para ser lida. Não tem outra função, não é apenas uma parte de outra coisa maior.”  Este foi um argumento que vi replicado em vários sítios. Mas não creio que seja de todo assim. Até ao século XVII na Europa, os livros eram lidos em voz alta para uma sala de pessoas (na corte, por exemplo). A literatura não era tanto lida como era ouvida e como era um exercício colectivo. As cantigas de amigo que são a base de qualquer programa de literatura portuguesa, eram originalmente cantadas.

Mais importante: Homero – a ter existido – não sabia ler nem escrever e os seus épicos sobreviveram por via oral até alguém os decidir fixar em escrita. Não podemos dizer simplesmente que Homero já não é relevante pois viveu há muito tempo. Homero é a base de toda a literatura ocidental e quem pensa em literatura e no que ela é hoje não o deve perder de vista.

Hoje em dia, em África e na Índia a oralidade continua a ser uma forma de contar histórias que não têm certamente menos valor do que as ocidentais histórias escritas.

No caso de Dylan, nem sequer estamos a falar na ausência total de um texto porque ele existe sendo “apenas” cantado.

Tudo isto para dizer que a nossa visão de literatura como algo ligado obrigatoriamente a um texto que tem de ser lido individualmente é muito recente.  Eu nem estou necessariamente a favor do Nobel a Dylan. Preferia que o prémio tivesse ido para outros possíveis candidatos. Mas parece-me salutar que a Academia tenha uma visão lata do que é Literatura, uma visão lata da importância da Palavra, seja ela escrita ou oral, e especialmente, uma visão que obviamente sabe de onde tudo isto veio.

O Nobel

A ideia de que o Nobel da literatura premeia alguém que é o melhor de todos é um bocado ingénua para não dizer impossível (o melhor de todos é o Tolstoy e já não lhe podemos dar um prémio).
O que o Nobel premeia é alguém que é muito bom de uma forma consistente e que a maior parte das vezes o merece verdadeiramente. Não é a questão de ser o melhor de todos mas é sim de ser muito bom e de ser premiado em resultado disso. Se formos a pensar no Nobel em termos competitivos enlouquecemos.
É óbvio que há pessoas que o receberam e que não mereciam e pessoas que não receberam e que mereciam. Mas o Nobel premiou, ao mesmo tempo, pessoas como Thomas Mann, Saramago, Garcia Marquez, Toni Morrison, Gunter Grass ou Neruda . Ou seja, o desprezo que muitos sentem em relação ao Nobel da literatura pode ser compreensível mas simultaneamente parece-me de mau gosto rejeitá-lo e reduzi-lo a um prémio atribuído por razões políticas. Por muitos génios que não foram reconhecidos, muitos outros foram.

Elena Ferrante: as pessoas têm o direito de saber?

transferir-3Elena Ferrante é autora de uma tetralogia que anda a entusiasmar leitores do mundo inteiro. O nome da escritora é, na realidade, um pseudónimo. Tendo manifestado a vontade de manter o anonimato, respondeu sempre por correio electrónico às entrevistas que concedeu.

Recentemente, Claudio Gatti, um jornalista italiano, terá desvelado a identidade de Ferrante. Sabendo-se que isso vai contra a vontade de autora, parece-me que esta investigação, na melhor das hipóteses, pisa uma fronteira ética. Se um escritor quiser ser apenas um nome ou um narrador, está no seu direito.

Claudio Gatti, no entanto, resolveu complementar a sua descoberta com argumentos a favor da sua investigação. A ser verdade o que se lê no Diário de Notícias, oscilam entre o oco e o disparatado.

Em primeiro lugar, recorre ao estafado as pessoas têm o direito de saber. Não é sequer invulgar ouvir jornalistas de rádio e de televisão usarem a pergunta “O público não tem direito a saber?” Sendo certo que um jornalista presta (ou deveria prestar) um serviço público, a verdade é que esta pergunta é apenas sensacionalista e/ou provocatória, porque a realidade é que há assuntos que as pessoas não têm o direito de saber, especialmente a partir do momento em que alguém não quer que se saiba. [Read more…]

Fazer o Secundário para aprender a escrever requerimentos

1087 Deslocacoes automovel proprioA Educação, em Portugal, continua a ser palco de lutas feudais, o que inviabiliza a existência de pactos, de consensos ou, no mínimo,  de um debate sério.

A instabilidade no sistema de ensino é crónica, sendo ainda pior no âmbito da disciplina de Português, continuamente sujeita a alterações curriculares, terminológicas e ortográficas a um ritmo tal que irmãos com pouca diferença de idade não podem, por exemplo, partilhar o mesmo manual. Mais absurdo ainda: muitos alunos aprenderam duas terminologias gramaticais e duas ortografias ao longo do seu percurso escolar. [Read more…]

Último Eco

No último livro, na última página, na última frase, à frente da última palavra está o último ponto. “Sol”, ponto final. Número zero.

  

Sobre José Rodrigues dos Santos

em terra de cegos, quem pisca o olho é rei

O que falta à Educação?

Mais recursos, literatura e curiosidade

Nobel da Literatura 2014

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O vencedor é o francês Patrick Modiano.

Tributo a Dóris Graça-Dias

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Está ainda por fazer, creio, uma Taxonomia das categorias de “Amigo” pós-facebook. A vox populi, no que concerne a este tema, não contempla, de forma assertiva, universal e comummente aceite, as novas “espécies” emergentes do conhecimento virtual e das tipologias de “afecto” do “encontro” e relacionamento por meios digitais.

A realidade re(conhecida) pela maioria não fugirá muito das categorias hierarquizadas abaixo, da mais intensa e relevante para a menos intensa e relevante:

Melhor Amigo

Amigo de Criação (dominado pela coincidência geográfica)

Amigo de “situações limite” – militares, bombeiros, etc.

Amigo de Infância, do Secundário, da Faculdade, do Trabalho

Amigos “coloridos”

Amigos “grosso modo”

Amigos “dos copos”

Conhecidos (com empatia)

Conhecidos (com antipatia)

Hostis (por razões várias)

Indiferentes (os restantes)

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Obituário de um escritor-fantasma

Manuel da Silva Silva não precisou de perder tempo com a escolha de um pseudónimo porque nunca deixou de ser um escritor-fantasma. Passou anos aprisionado a textos sem graça – manuais, recomendações técnicas, bulas – escritos a contragosto, por necessidade, mas a sua sorte haveria de mudar quando lhe chegou a encomenda de um texto inovador, um artigo escrito de um ponto de vista inaudito, e que haveria de ser o primeiro de uma longa série. Tinha por título “Eu sou o fígado da Maria” e foi um sucesso imediato. A partir de então especializou-se em dar voz a vísceras, glândulas, válvulas, artérias, descrevendo com alucinante rigor e meticulosa fidelidade a vida oculta e esquecida de quantos órgãos constituem o corpo humano. [Read more…]

R.I.P.

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Alexandra

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© Miguel Manso

Conheço a Alexandra Lucas Coelho há muitos anos, somos mais ou menos da mesma geração de jornalistas, creio que ela mais nova. Recordo uma viagem que fizemos juntas há muitos anos pela então recém-inaugurada rede de bibliotecas públicas. Creio que trabalhava então para a Antena 1. Conheço-a mal, não somos amigas, há anos que não a vejo, mas conheço o que escreve e gosto do que leio – há um entendimento entre nós que passa pela escrita, pelo jornalismo que olha para as sociedades de hoje, mas talvez, e sobretudo, pelo jornalismo literário, pelos melhores escritores, editores, livros, pelo amor pelas belas letras que formam o poema (e o poema pode não ser poesia), para falar disso que me une a umas esparsas pessoas, que por vezes mal conheço mas que habitam essa parte incerta onde também sou.

Li o discurso que a Alexandra Lucas Coelho proferiu na cerimónia de atribuição de um dos mais importantes prémios literários do País, que este ano a contemplou a ela. Dou-lhe os meus parabéns, tenho a certeza de que o seu livro o merece. Lucas Coelho escreve muito bem, há muito que reconheço nela uma escritora. Hei-de ler o seu livro seguramente. Dou-lhe também os meus parabéns pelo discurso que fez. Numa altura em que praticamente não se ouve ninguém, em que os escritores se calam, num silêncio de chumbo que pessoalmente me pesa (como a muitos mais, tenho a certeza), é muito bom haver alguém que se chega à frente para dizer o que muitos gritam mas ninguém ouve. Talvez tenham medo que Jorge Barreto Xavier os censure por serem «primários». [Read more…]

Contribuintes depressivos aliviam a sua dor

Depois de ler este artigo, só me resta sugerir que em Portugal se siga a mesma ideia. Como a grande causa de depressão entre nós está relacionada com as relações sexuais virtuais não consentidas com o desgoverno da pátria, apresento aqui uma lista de livros eróticos a aviar nas bibliotecas ou noutros locais:  [Read more…]