Sim e Não à Greve

Na minha opinião, é necessário protestar, reclamar, é fundamental que nos façamos ouvir. Não é possível ficar calado diante de tanta unanimidade podre, diante das soluções únicas, diante das mentiras e do descaramento de quem tem ocupado o poder. Se as pessoas decidirem que a greve é a melhor maneira de exprimir tudo isso, devem fazê-lo, em consciência, ignorando as vozes que, como de costume, consideram as greves desnecessárias, com os argumentos estafados dos prejuízos na produtividade ou da necessidade de “remarmos todos para o mesmo lado” (frase que ganha um sentido curioso, quando os que a proferem estão a empurrar tanta gente para fora do barco) ou que o exterior está a olhar para nós (e já há cassandras a relacionar a greve geral com a classificação da Fitch). Quando falar não chega, é preciso gritar.

Depois de muitas greves e de manifestações, com resultados nulos ou insignificantes, há quem se sinta desiludido, há quem não se reveja em movimentações que parecem ter-se transformado em rituais que têm como único resultado o anúncio épico de percentagens de adesão, a manutenção do que estava antes e a perda de um dia de salário, para não falar, no caso dos professores, da assinatura de acordos, no mínimo, dispensáveis. É pouco para me convencer a voltar a participar numa greve e, por isso, faltei à chamada e, enquanto sentir o mesmo, continuarei a faltar.

Por, na prática, ser amarelo e, no fundo, ser grevista, tenho consciência de que me arrisco a ser elogiado por aqueles de quem discordo absolutamente e a ser criticado por aqueles com quem concordo em grande parte, mas eu ser elogiado ou criticado não tem importância nenhuma. O que tem importância é saber que não sou o único, o que tem importância é perceber que parte do problema está na voz e que parte está no megafone.