Lula lá

O Brasil vai a votos este domingo, dia 2 de Outubro, para decidir quem será o próximo Presidente da República e quem ocupará os restantes cargos públicos do maior país da América Latina. Amanhã há-de ser outro dia.

Todas as sondagens são claras: a decisão dos mais de 150 milhões de eleitores brasileiros recairá entre o candidato da extrema-direita miliciana e autoritária, saudosista da ditadura militar e apoiado por boa parte do (sempre muito democrata até os seus interesses serem postos em causa) centrão, Jair Bolsonaro, recandidato à eleição, e Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente que se apresenta às eleições suportado por uma ampla base de apoio que vai desde a esquerda mais consequente (de onde Lula vem, de resto) até setores do centro-direita que apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff (e alguns até a candidatura de Bolsonaro) mas, como bons acrobatas que são, perceberam qual é o melhor lado para se estar neste momento.

Esta é, provavelmente, a mais importante eleição do século no Brasil. Depois do golpe contra a Presidenta eleita e sucessora de Lula, Dilma Rousseff, depois do rearranjo induzido de forças sob a égide do golpista Michel Temer, que preparou tímida mas adequadamente, com a ajuda das seitas evangélicas e de um poder judicial cooptado, o terreno que levaria à eleição fácil de Bolsonaro, os brasileiros têm a oportunidade de acabar com o pesadelo bolsonarista e de retomar o caminho de progresso e desenvolvimento iniciado por Lula da Silva em 2002. Os brasileiros têm a oportunidade de tirar do mais alto cargo do país a sinistra figura responsável pelo incremento da violência racista nas ruas brasileiras, pelo maior desmatamento da Amazónia nas últimas duas décadas, pelo regresso dos militares à cena política, pelo índice de mortalidade extraordinariamente alto na pandemia, fruto dos descasos e irresponsabilidades grosseiras (a “gripezinha” que se tratava com cloroquina e da qual ninguém morria), pelo descrédito internacional do Brasil (é interessante, neste ponto, recuperar a feliz declaração de Chico Buarque: “Eu gosto do governo do PT porque ele não fala fino com os EUA nem fala grosso com a Venezuela.”), pelo regresso do país ao mapa da fome, de onde Lula e as suas políticas públicas o haviam tirado.

O Brasil de Chico e Elis, de Drummond e Cartola, de Vinicius e Caetano, de Clarice e Niemeyer, de Sócrates e Elza é o Brasil popular, o Brasil da favela com orgulho, do samba no morro e comida no prato, de porta aberta e voz doce. É o Brasil multicultural e inclusivo, esperançoso e decente. É o Brasil que hoje se levanta contra o Inominável, pela democracia, pelos direitos sociais, pela maioria popular. É o Brasil dos que “acreditam nas flores vencendo o canhão”. É o Brasil que vai tirar o miliciano do Planato e o vai pôr na prisão, pelos crimes contra a humanidade que cometeu. E no primeiro turno.