Doha a quem doer, 1-0 para os adeptos do Braga!

Depois de um trocadilho barato com a capital do Qatar, vamos a coisas mais sérias e mais caras. Não por podermos falar de preços absurdos, mas por custarem vidas humanas e não só.

Na semana passada, foi sabido que a Qatar Sports Investements, proprietária do Paris Saint-Germain, adquiriu 21,67% da SAD do SC Braga. Anteriormente, estes mesmos 21,67% eram adquiridos pela Olivedesportos. Felizmente, a SAD do SC Braga viu-se livre dessa gente da Sport TV que não interessa para nada. Fazem com que jogos sejam marcados para horas indecentes, controlam os direitos televisivos e isso parece tudo muito obsceno. É muito melhor ter participação da Qatar Sports Investements, que é subsidiada pelo Estado qatari, chegando mesmo a ser considerada propriedade do Ministério das Finanças do Qatar. E como sabemos, o Qatar é um exemplo de país no que diz respeito a direitos humanos. Estamos a falar de um país que criminaliza orientações sexuais, que não permite pessoas andarem vestidas como querem, que não respeita outras crenças… Mas isto do futebol une as pessoas e como o Mundial é lá, de certeza que tiveram bom senso. Certo? Errado. Recorreram a trabalho escravo que já custou a vida de milhares de pessoas para se prepararem para o Mundial. Entre dezenas de federações e uma FIFA que prontamente expulsou a Rússia de todas as competições, ninguém se levanta perante isto. Todos sabemos que quando se fala de democracia, o Qatar mete a Rússia num bolso. Hipocrisia por parte da FIFA e afins? Não, que ideia. [Read more…]

Decadência

Ao ter conhecimento do “apego a um qualquer animal de estimação, típico das sociedades decadentes“, do bispo Linda, lembrei-me disto, lido há cerca de 33 anos:

— Não posso dispensar-me aqui duma psicologia da «fé» e dos «crentes» em benefício dos próprios «crentes».  Se, ainda hoje, alguns deles (crentes) ignoram até que ponto é indecente ser «crente»—ou então quanto isso é sinónimo de decadência, de vontade de vida quebrada—, já amanhã o saberão.
—Nietzsche

No original, lido cerca de treze anos depois:

— Ich erlasse mir an dieser Stelle eine Psychologie des „Glaubens“, der „Gläubigen“ nicht, zum Nutzen, wie billig, gerade der „Gläubigen“. Wenn es heute noch an solchen nicht fehlt, die es nicht wissen, inwiefern es unanständig ist, „gläubig“ zu sein — oder ein Abzeichen von décadence, von gebrochnem Willen zum Leben —, morgen schon werden sie es wissen.
—Nietzsche

Nótula: Felizmente, estou durante uns dias na casa da aldeia, onde guardo estas preciosidades (a segunda edição, de 1988). Já agora, o amigo que me apresentou ao Frederico Guilherme e o próprio Frederico Guilherme fazem anos amanhã, 15 de Outubro. Ainda bem que há coincidências.

Mateus, 7:3

«Porque reparas tu no cisco que está na vista do teu semelhante e não vês a trave que está nos teus próprios olhos?»

(Ambos os artigos foram publicados hoje, na edição online do jornal Público)

Marcelo, o sobrevivente

Marcelo Rebelo de Sousa não comete erros, salvo raríssimas excepções. Porque Marcelo é calculista, planeia e antecipa, e joga o jogo como poucos, na política e na imprensa.

Marcelo é de outro campeonato. Tanto que destruiu a concorrência na corrida à Belém, num momento de crise existencial à direita, com o apoio do primeiro-ministro e presidente do partido com o qual o seu PSD disputa o controle do Estado.

Esta semana, porém, assistimos a uma dessas raríssimas excepções. E não, não estou a tentar desculpar Marcelo. As declarações do presidente são hediondas e inaceitáveis. E não acho que Marcelo o tenha feito inadvertidamente. Acho que foi calculado, com o objectivo de minimizar o horror que aqueles números representam. Foi um frete do presidente da República de um Estado laico à hierarquia da Igreja Católica. Só que correu mal, obrigando Marcelo a recorrer ao seu amplo repertório de desculpas esfarrapadas.

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