Croniqueta acerca do calimerismo

C’est vraiment trop injuste…
— Calimero

***

Não pretendo meter foice em seara alheia, pois há abundante literatura acerca do fenómeno de não se aceitar um resultado negativo, na perspectiva de, obviamente (o obviamente é, por definição, indiscutível), sermos os maiores e, logo, se perdemos, como somos os maiores, é claro que fomos prejudicados por algum menino mau. Eis um esclarecedor texto do Nabais.

Um recente episódio [Read more…]

Quando morre um fascista

Quando morre um fascista, o país levanta-se num alvoroço bafiento de carpideira saudosista. Quando morre um fascista, as televisões louvam “o democrata histórico” que reabriu um campo de concentração para encarcerar patriotas africanos. Quando morre um fascista, os jornais falam no “humanista sereno” que acompanhou toda a História recente de Portugal, esquecendo-se convenientemente de referir que não só a acompanhou como nela participou, do lado dos torcionários e esbirros que a queriam presa a ditames e obediências. Quando morre um fascista, o centrão dos contorcionismos destaca o “académico brilhante” que ajudou a teorizar e divulgar a infame teoria do lusotropicalismo, que nos apresentava como um povo fadado para o contacto entre os povos, ainda que esse contacto se fizesse à base da força bruta e da submissão violenta do Outro. Quando morre um fascista, os papagaios do reino desfazem-se em elogios ao “grande senhor” que aceitou ser ministro das colónias no início da guerra colonial, sinal supremo de coragem e abnegação de um patriota imaculado. Quando morre um fascista, o presidente da República (ele próprio filho de um outro fascista) homanageia institucionalmente o defunto, falando pretensamente em nome de todo o país. Quando morre um fascista, isto é mesmo tudo um putedo.

Quando morre um fascista, e face ao (quase absoluto) consenso relativista e branqueador, o dever do antifascista é recordar o fascista como aquilo que ele foi, sem pejos nem benevolências de hora fúnebre. Quando morre um fascista, o dever do antifascista é recordar as vítimas desse regime odioso que o fascista serviu. É resgatar a memória dos mortos que não ficaram na História. É não calar a colaboração, o servilismo, a participação do fascista em décadas de silêncio forçado. Adriano Moreira, por mais branqueado que seja pelas televisões, pelos jornais, pelos papagaios do reino, pelo centrão dos contorcionismos ou pelo presidente da República, foi um fascista. E é como tal que a História o deve recordar. As minhas condolências às famílias dos anticolonialistas africanos encarcerados pelo fascista (e herói temporário cá do sítio) no campo de concentração do Tarrafal, reaberto por Adriano Moreira enquanto ministro de Salazar.

Adriano Moreira

Tarrafal. Para que a memória nunca se apague.

Menos uma subvenção vitalícia

Morreu o antigo ditador Adriano Moreira.

Retratos da vida de uma espécie de país