Deixem as mulheres e os homens biológicos em paz

Um dos temas mais delicados da actualidade, e por isso, a meu ver, urgente discutir, é a batalha dos géneros, que se insere num conflito macro ao qual se convencionou chamar Guerra Cultural.

Fala-se dessa Guerra Cultural como se ela fosse um produto dos nossos dias. Mas ela existe desde sempre, de cada vez que um grupo ou minoria se levantou para mudar o status quo e bateu de frente com a ruling elite. São necessariamente radicais, porque – literalmente – propõem mudanças profundas. E encaradas de forma igualmente hostil pelo poder vigente, falemos da emancipação das mulheres, da abolição da escravatura ou dos direitos LGBT.

No caso concreto do género, o nível de radicalização, sobretudo à esquerda, atingiu um patamar tal que entramos no domínio da pós-verdade e da negação da ciência, algo que se reflecte em algo que a mim me preocupa que é a tentativa de suprimir o conceito biológico de homem e mulher, como se tal fosse matéria de ideologia.

Não é.
Nunca foi.
Nunca vai ser.

A biologia não é uma abstracção. É um campo sólido e vasto das ciências naturais. Um homem e uma mulher são diferentes, logo a começar pelo aparelho reprodutor, e não é um tratamento hormonal ou uma operação de mudança de sexo que altera essa condição.

Isto é factual, não matéria de opinião.

E eu quero ter o direito de o afirmar, porque acredito na ciência e em séculos de estudos consistentes e continuados no tempo, e não tenho que me sujeitar aos trejeitos censórios de quem quer impor uma fantasia para obliterar aquilo que é, repito, factual.

Isto não é transfobia. É aceitar a natureza como ela é.

Dito isto, estou na trincheira daqueles que defendem a liberdade para mudar de sexo, recorrendo às soluções que a ciência – oh, a ironia – proporciona a quem o pretende fazer. Defendo um quadro penal pesado para crimes de ódio contra a comunidade trans. Defendo que essas pessoas, que nascem biologicamente homens e querem ser mulheres, ou vice-versa, o possam ser.

Não tentem é impor conceitos estapafúrdios sobre homens que engravidam ou mulheres que engravidam homens. Isso só acontece de uma forma, e ela é igualmente factual: um homem só pode engravidar se for uma mulher biológica. Porque o aparelho reprodutor dos homens não permite engravidar. Não tem óvulos. Não tem útero onde os fecundar. Não tem trompas de Falópio.

Repito: cada um tem o direito de ser aquilo que quiser. Pelo menos nas democracias liberais, grupo do qual felizmente fazemos parte. As opções e escolhas sexuais e de género de cada um apenas dizem respeito aos próprios e nem os governos, nem fanáticos religiosos – eles próprios aprisionados na sua própria negação científica – nem grupelhos fascistoides têm o direito de se intrometer nessas escolhas. Tal como ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de nos negar a evidência científica. E a evidência científica é esta: quando nascemos, somos biologicamente um homem ou uma mulher. Não é matéria de escolha. É uma imposição da natureza e da biologia, que nos fez diferentes, imagino eu, para que nos pudéssemos reproduzir.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    Muito bem. De acordo.
    Quem tem pénis é homem e quem tem vagina é mulher. Conversas e nomes à parte (o homem pode chamar-se António Maria, a mulher pode chamar-se Maria José, mas se quiserem trocar a ordem dos nomes não faz mal), a realidade dos corpos é essa e deve sempre ser tida em conta.

    • Paulo Marques says:

      Pois. Problema, não há médico que considere que há um momento único de transição entre sexos, mas deixe lá isso.

  2. Luís Lavoura says:

    Muita da conversa do movimento transgénero é lamentavelmente reacionária. Defendem que os “géneros” masculino e feminino são totalmente separados, como se estivéssemos antes do século 20 e homens e mulheres tivessem papéis pré-determinados na sociedade. Choca-me que pessoas que se dizem de esquerda se deixem levar por uma retórica assim retrógrada, aliás mesmo reacionária.

    • Paulo Marques says:

      Não sei onde foi buscar isso, se há conceito mais avançado na comunidade é que o género é uma construção puramente social, fluída, e instável. Todas as dúvidas internas só se explicam sim.

  3. Anonimo says:

    E a evidência científica é esta: quando nascemos, somos biologicamente um homem ou uma mulher.

    Diz que

    Não é matéria de escolha.

    Diz que sim

    É uma imposição da natureza e da biologia,

    Chapeu de chuva, espectro, somos criaturas sociais

    PS: não acho que isto seja uma coisa de esquerda, alguma esquerda é que se colou ao movimento…

  4. João Robalo de Carvalho says:

    O meu comentário é dizer que estou de acordo com o ponto de vista apresentado e com a forma como é apresentado na convicção de que as leis da natureza são incontornáveis e todo o alarido à volta de tal tema é pura demagogia de uns e ignorância de outros que seguem demagogos também eles por natureza ignorantes.

  5. Paulo Marques says:

    Como diz, a biologia não é tida nem achada, excepto para dizer que a diferença entre todos são alguns orgãos – e mesmo isso também tem excepções. O que é que a biologia tem a ver com género? Nada, as palavras para descrever as categorias é que são as mesmas para o patriarcado fazer de conta que é tudo simples e binário, deixando quase toda a gente sem saber o que é porque não cabe no estereótipo.
    E é por isso que é uma questão de esquerda, a conformidade semi-obrigatoria arbitrária – e quem acha que não é arbitrária que pegue num livro de história – é sempre uma boa ferramenta de opressão para derrotar em detalhe quem trabalha.

  6. Júlio Santos says:

    Homem ou mulher, eis a questão. Se o homem dá um beijo a uma mulher pode ser considerado uma agressão sexual. Se for o contrário, o homem é um sortudo ou um banana. No primeiro caso, normalmente dá origem ao pedido de uma indemnização choruda dependendo se o visado é um futubelista de renome ou um milionário falido. E, no segundo caso, o homem não pode fazer muitas ondas para não se virar o feitiço contra o feiticeiro. É a tão propalada igualdade de gênero.

    • Paulo Marques says:

      Isso é a cultura, atrasada na periferia, mas igualmente crime público. É só um azar que nunca calhe ser a mulher a superior hierárquica, é uma coincidência.

  7. JgMenos says:

    Era tudo tão simples: havia homens e mulheres.
    Normalmente mutuamente se atraíam sexualmente.
    Mas também havia homens atraídos sexualmente por homens e mulheres atraídas sexualmente por mulheres.~
    E outros davam para todo o lado.
    E gostos não se discutiam.

    E cada um fazia pela vida sem esta parvoeira do orgulho gay e dos machos não poderem ser machistas e das fêmeas só deverem feministas!!!

    • Paulo Marques says:

      Se calhar, só se calhar, não estava tudo bem quando as mulheres “mereciam” levar porrada e os “maricas” mereciam ficar desempregados e ir para debaixo da ponte.
      De resto, duvido que estivesse “tudo tão simples” para gentinha que demonstra tanta frustração.

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