O ano é 2023. Dezenas de futebolistas, investidores do Ocidente, empresários económico-moralistas, emigram para a Arábia Saudita, onde os esperam centenas de milhões de dólares a troco de muito pouco: os sauditas pagam os milhões, os pobres emigras lavam a imagem do regime sanguinário. É tudo lindo e maravilhoso, porque afinal é preciso ganhar-se dinheiro e afinal qual é o mal de branquear uma das mais tenebrosas ditaduras a troco de milhões de dólares? E com isto até podemos vir a trazer petróleo mais barato. É uma situação “win-win”! Vocês, também…
O ano é 2057. A Arábia Saudita invade mais uma vez o Bahrein. Chama-lhe “Operação Militar Especial” e diz que tem por objectivo “acabar com o fundamentalismo religioso”.

Fotografia: The Guardian
Pelo mundo somam-se manifestações de condenação, os países aliados reúnem-se e sancionam os sauditas, jurando a pés juntos nunca mais lhes comprar petróleo. Dizem que é inaceitável, que nunca imaginavam que o regime seria capaz de tais horrorosos actos. Fomos todos enganados, coitados de nós. Se ao menos tivesse havido algum sinal que indicasse a possibilidade de tais eventos… mas não, somos sempre tão bonzinhos e humildes e passam-nos sempre a perna, os sacanas dos ditadores.
Na televisão, Joseh Abdu Milhamzes, um português há muito radicado na Arábia Saudita, relata-nos histórias de como é muito má a ditadura saudita. Os portugueses, enternecidos, compreendem tudo o que diz com empatia, afinal, ele melhor que ninguém sabe, porque esteve lá trinta anos, a sofrer muito, muito, muito. E até lhe compram os livros que escreveu duas semanas depois da Arábia Saudita ter invadido o Bahrein. Nas suas aparições no jornal da noite, conversa com o especialista em guerra, o genial Nuno Rogeiro, que ainda por cá anda. Este tem fontes dentro do regime do Bahrein e o rei do Bahrein até lhe mandou uma SMS no outro dia. Impecável.

Fotografia: Politico
A defesa dos valores democráticos por parte do Ocidente ficou bem vincada, no entanto! Nós cá não papamos grupos; como dizia o outro “a mim ninguém me dá baile!”. Retaliámos fortemente e até banimos a Arábia Saudita das competições desportivas! Peguem lá! E agora não vos vendemos mais jogadores da bola! Ah, pois é! Quer dizer, podemos vender alguns, estávamos a brincar. Já agora, trinta milhões pelo Deivid Meres é pouco, ó Al Nassr; venham para cá cinquenta e fechamos isto… Mas até cancelámos um jogo amigável entre a Arábia Saudita e Israel, porque a Arábia Saudita é muito má com isto de invadir e querer ocupar outras terras. Pumba! Nós não brincamos quando é para condenar a guerra! E por falar em bola, para o ano há mundial e vai ser no Irão. Portugal! Portugal! Portugal! Com o Cris lá na frente vamos chegar longe de certeza!…
E pronto, já me perdi na conversa, e nisto passaram dois anos, estamos em 2059 e não-sei-quem-da-NATO já veio dizer que é melhor o Bahrein começar a parar de dizer que está a doer e calar um bocado a boca, que nós andamos a mandar para lá jactos e canhões e coisas assim que aleijam muito os sauditas mas a plebe de cá também anda a ser chata, a pedir coisas como conseguir ter casa para morar e dinheiro para comer… coisas lá deles. Mas pronto, a verdade é que também temos de lidar com isso agora, porque há eleições e tal. E também já chega desta conversa do Bahrein andar a insistir na aderência à União Europeia. A Austrália e Israel na Eurovisão ainda aceitamos, agora isso é um abuso. Olhem, boa ideia: se quiserem podem participar na Eurovisão. Até vos damos a vitória e uma taça dourada em forma de microfone, muito linda mesmo e que depois vocês até podem vender para comprar uma fisga para atirar pedras aos sauditas! Depois ainda falam mal do Ocidente, estamos sempre a ajudar, caraças!

Fotografia: The Guardian
Ontem o Marcelo foi passear a umas trincheiras lá no Bahrein. Mesmo no meio delas, ali, a sentir o terreno. Isto é que é um presidente! Cento e onze anos e ainda sabe falar a língua do Bahrein!
E pronto, de maneira que estamos assim. E pensar que a Arábia Saudita já foi tão boazinha connosco… nunca aprendemos. Biltres!

Fotografia: DW
Em 2057 estão todos enfiados na Linha(tm) e só podem sair à noite por causa do calor.
Desunião Europeia em 2057, também não metia as mãos no fogo: a existir, relevante não será.
Quem não gostaria de ver milhões na sua mão, independentemente da origem? Somos todos puríssimos mas quando chega a hora do aperto esquecemos essas esquisitices, ou não?
Vou mais longe do que a sua conclusão; em hora de aperto, desvalorizo, se não é que perdoo, não só a ética, mas até o crime não violento contra quem tem mais.
Mas estes meninos não propriamente risco de passar fome, pois não? E apenas um sintoma de que nem os ricos se sentem felizes com o que têm e dificilmente conseguiriam esbanjar.
Posso dizer com toda a propriedade: jamais aceitaria em tempo algum por dinheiro algum jogar nas Arábias. E ninguém, mesmo de esquerda íntegra, pode provar o contrário.
Se tivesse a escolha, estaríamos em condições tão diferentes que seriamos outras pessoas completamente diferentes.
Deve ser a tal de falta de literacia financeira os menos ricos terem escrúpulos que os milionários nunca revelam.
Há mas são verdes, nem os cães podem traga-las. verda é que todos os enhores muito moralistas se tivessem físico e perninhas estavam-se nas tintas para se o regime era ditador, sanguinário, etc… Até porque só agora é que nos lebramos que o regime saudita é sanguinário. Desde que a Arábia Saudita se recusou a aumentar a sua produção de petróleo para que não sentíssemos nas gasolineiras os impactos de não0 comprar petróleo russo. Mas a Ar«ábia Saudita, cujos didirentes, sanguinários ou não, sabem que o seu povo não pode comer areia se esgotarem o petróleo que têm numa década para satisfazer a demanda, fez-lhes grande manguito. Aí é que nos lembrámos que foi realmente um crime hediondo torturar e cortar às postas um desgraçado que foi à embaixada do seu país pelo mesmo motivo qye qualquer expatriado poderia ir à embaixada do seu. E que ali foi torturado barbaramente e cortado ás postas. Entrou e já não saiu. Mas sabemos bem que nesse tempo os nossos mui democráticos comentadores, dirigentes e o raio que os parta assobiaram para o lado. Alguns até deram alguma razão ao Governo saudita quando este argumentou que o critico do regime era na realidade um perigoso fundamentalista islâmico. Como se tal, mesmo a ser verdade, pudesse justificar a barbaridade de cortar ás postas quem foi ali só buscar uma certidão. Porque tinha vergonha na cara e não queria continuar amancebado. O regime saudita não começou a ser sanguinário agora, meus meniunos, simplesmente foi agora que recusou cometer suicídio para nos financiar as sanções contra a Rússia. Porque ao contrário da Rússia, a Arábia Saudita não consegue arrancar praticamente nada do solo desértico e com as alterações climáticas cada vez conseguirá menos. Por isso é que agora até nos lemvbramos de ter muita pena do desgraçado do Jamal Kassogi. Mas se a Arábia Saudita nos tem aberto o cu já o home era um malandro ou nem era mencionado. Hipócritas de todos os países, uni-vos na nobre tarefa de ir ver se o mar dá choco.
Khashoggi foi mau, mas quem nunca se livrou de um David Kelly que atire a primeira pedra. Já o genocídio no Iémen não está acessível a todos.
Claro que eu não atiro pedras sabendo a raça ds patifes que temos ao leme. O que quis dizer é que as pedras só começam a ser jogadas quando um dado país não nos faz o frete. Como a Arábia saudita, que só nos lembrámos que o seu regime era sanguinário quando esse mesmo regime nos fez um manguito. Se a Ar+abia saudita tem aceite aumentar suicidariamente a sua produção de petróleo até nós conseguirmos por a Russia de joelhos para melhor sacarmos o petróleo e muitos outros recursos que lá há, todos os executados na Arábia saudita teriam feito alguma cosa para merecer e os jogadores que lá estão seriam os heróis da fita, desbravadores de novos territórios e embaixadores do diálogo entre civiloizações. Esses são os hipócritas que somos. Quanto a genocídios, agora só nos interessa um alegado genocídio na Ucrânia. Não pode o bando de hipodritas que nos desgoverna estar em todas.
Já agora, o caso do david Kelly foi mesmo uma grande porcaria e o homem acabou como ele próprio previu que acabaria se tentasse dizer a verdade sobre o motivo que nos levou a cometer um genocídio.