Quem é Sofia Afonso Ferreira?: Jogo de Espelhos (ACTUALIZADO)

Nos últimos dias, ganhou contornos de romance policial uma suposta ligação do Bloco de Esquerda a empresas do Paquistão relacionadas com serviços de emigração. Tudo isto porque, como se pode constatar pelo Google Maps/Earth ou outro, o Bloco de Esquerda partilha o nº268 da Rua da Palma, onde se situa a sua sede, com algumas lojas que estão no tal beco (ou pátio, o que é indiferente), assim como com habitações.

Tal não teria mistério. Como surgiu, então, a tal ligação? A obreira de tal chama-se Sofia Afonso Ferreira. E quem é Sofia Afonso Ferreira? Poucos são os que sabem.

Curta biografia de Sofia Afonso Ferreira no jornal israelita Times of Israel.

Escalpelizando. Segundo o que é público, Sofia escreve para o jornal israelita, propriedade de um judeu do Reino Unido e de um oligarca norte-americano, Times of Israel. Por lá, apresenta-se como “jornalista” e “consultora de comunicação”. Quanto ao seu trabalho como jornalista, não conseguiu o Aventar encontrar provas de tal actividade. Apenas encontrámos artigos de opinião publicados no Times of Israel, nada mais. Quanto ao trabalho de consultoria, também não foi possível apurar em que âmbito já prestou serviços do género. No entanto, no mesmo site, apresenta-se, também, como “política”. O trabalho de Sofia como servidora da causa pública, esse, é mais fácil de expor e deixar à consideração.

Sofia Afonso Ferreira e um jogo de espelhos.

Primeiro, foi militante do PSD, partido que abandonou para se juntar à IL. Depois, ajudou a fundar o Democracia 21, um movimento político conotado com a direita radical, não sem antes se ter juntado a André Ventura e a Manuel Matias e ter feito parte da coligação Basta! – coligação que se apresentou a eleições europeias, mas que depois deu lugar ao partido de extrema-direita Chega. Depois do falhanço do Basta! nas europeias, apresentou-se como candidata “independente” do Partido Popular Monárquico nas eleições autárquicas (encabeçando, ainda, o movimento Democracia 21). Não foi eleita e virou-se, depois, para o combate político nas redes sociais. Hoje, apresenta-se como “personalidade da mídia” (sic).

Nas suas redes sociais, Sofia passa os dias a “malhar” na esquerda. Entre notícias verdadeiras com considerações jocosas e ordinárias, juntam-se-lhes notícias fabricadas, teorias da conspiração e textos de opinião com desinformação que têm o intuito de moldar a opinião pública que frequenta o Facebook, o Twitter ou o Instagram. Acima de tudo sobressai, nas suas redes sociais, a defesa acérrima não de Israel enquanto Estado, mas do regime actual de Israel, regime esse que se apresenta como radical com tendências fascistas, emaranhado em corrupção até ao pescoço e, agora, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. 

Sofia Afonso Ferreira já foi liberal – andou pelo PSD e pela IL. Depois, virou-se para a extrema-direita e abraçou a coligação Basta! (o embrião do Chega).

Quanto à sua publicação – e suposta ligação do BE aos paquistaneses da Rua da Palma -, a mesma acabou por ser difundida por Marco Galinha. Ora, sobre Marco Galinha não é preciso falar. Até porque, dizem, alegadamente tem bons advogados e processa todos os que ousam escrever o seu nome em tom acusatório. É genro de um oligarca russo, tem ligações a essa oligarquia, enterrou o grupo Global Media e, agora, quer o Benfica – por mim, nada contra. Eu até gosto de arroz de cabidela. Ficamos sem entender se Marco Galinha e Sofia Afonso Ferreira têm ligações. E que ligações poderão ter? Irá Sofia ser a mandatária de Marco no Benfica? Especular sabe bem. Mas não sabemos.

O devoto Marco Galinha, aqui auto-retratado junto a uma igreja (em cima), tem ambições de catedral. Na segunda imagem, à esquerda, o seu sogro, Markos Leivikov, que tem ligações ao regime de Vladimir Putin.

Sabemos, isso sim, que Sofia Afonso Ferreira diz estar a preparar um livro sobre os judeus sefarditas. Nunca se falou tanto de judeus sefarditas desde que alguns milionários e bilionários descobriram ser judeus sefarditas… um deles, Roman Abramovich, o russo ex-dono do Chelsea FC, hoje em dia o oligarca português mais oligarca de sempre. Marco Galinha tem um sogro que é um oligarca russo. Sofia está a escrever um livro. Há russos que são judeus sefarditas. Sei lá, especulações.

As supostas ligações do BE a entidades paquistanesas duraram… menos de 1 minuto.

Quanto à suposta ligação entre BE e mais não-sei-o-quê: não existe. É um wishful thinking de alegados interesses mais obscuros, sabe-se lá encomendado por quem, a mando de quem… o que sabemos é que o microfone é Sofia Afonso Ferreira.

Para não entrar em suposições, entrámos em contacto com Sofia Afonso Ferreira, endereçando-lhe as seguintes questões:

1 – A Sofia tem quase 20mil seguidores no Facebook e outros tantos nas restantes redes sociais. Como acha que atingiu tal notoriedade?

2 – No seu perfil no site do Times of Israel, apresenta-se como “jornalista”. Em que órgãos de comunicação social já esteve activa? Tem carteira profissional?

3 – Mantenhamo-nos, ainda, no âmbito do seu perfil no site do Times of Israel. Por lá, apresenta-se, também, como “consultora de comunicação”. Onde prestou serviços de consultoria na área da comunicação?

4 – Sabe-se que já esteve na vida política activa, como militante de base do Partido Social-Democrata e, posteriormente, da Iniciativa Liberal. Por que razões decidiu abandonar, primeiro, o PSD e, depois, a IL (isto, no caso de ter abandonado um ou outro)?

5 – Fundou, há uns anos, o Democracia XXI, depois de ter estado ligada à coligação Basta. A coligação Basta é, hoje, o partido de extrema-direita Chega. O que é feito do Democracia XXI? Ainda é viável? Como justifica os insucessos do partido a nível eleitoral?

6 – Em 2019, candidatou-se pelo Partido Popular Monárquico às Legislativas. Pouco depois, nas autárquicas, candidatou-se pelo Nós, Cidadãos. Quando se deu o rompimento com o Democracia XXI e por que razões, em tão pouco tempo, tentou a sorte em 3 partidos diferentes?

7 – Nos últimos dias, tem sido notícia por ter amplificado, nas suas redes, uma suposta ligação entre o partido Bloco de Esquerda e empresas paquistanesas. Como surge a investigação?

8 – Essa suposta ligação foi exposta por si e, mais tarde, o empresário Marco Galinha fez questão de a publicar também. Tem ligações a Marco Galinha? De onde o conhece?

9 – O Aventar fez uma pequena pesquisa, de cerca de um minuto, e conseguiu perceber que o nº268 da Rua da Palma, em Lisboa, para além de albergar a sede do partido Bloco de Esquerda, também alberga habitações, lojas de conveniência, entre outros. Onde encontra ligações entre tais negócios e o Bloco de Esquerda, para além da conhecida partilha do nº268 da Rua da Palma?

10 – Está disponível, caso o partido Bloco de Esquerda, os empresários e as pessoas que ali vivem entrem com uma acção, para responder em tribunal pelas acusações que faz? Não teme que a verdade lhe fuja? Tem provas concretas que possa apresentar dessa suposta ligação (isto é, documentos, facturas, recibos, comunicações, etc)?

11 – Continua no PSD, na IL, no Democracia XXI, no PPM, no Chega ou no Nós, Cidadãos?

12 – Diz-se que estará a preparar um livro sobre os judeus sefarditas. Tem ligações à Comunidade Judaica do Porto?

13 – Trabalha directamente para o Times of Israel?

14 – Para já, parece trabalhar nas sombras. Tem conhecimento de que muitas das suas publicações possam ser tidas como “desinformação”? Como reage a tal?

15 – Tem reais ambições políticas, fora o combate nas redes sociais e em Israel? Se sim, em que partido se reveria para lá dos 4/5 onde já esteve?

O Aventar aguarda as respostas de Sofia Afonso Ferreira, que publicará em boa hora e com muito gosto, não tendo, até ao momento, obtido qualquer esclarecimento.

NOTA: entretanto, até à data, não obtivemos as respostas que solicitámos a Sofia Afonso Ferreira, mesmo tendo sido dito que estaria disponível para tal. No entanto, a revista Sábado conseguiu chegar à fala com a visada, notícia que partilho, abaixo:

Sede do BE é a sede fiscal de duas empresas de apoio ilegal à imigração? Não