Como ser processado por Pedro Abrunhosa: tutorial

Quero voltar para os braços da minha mãe e cantar-lhe uma balada de Gisberta. Por um momento, se eu fosse um dia o teu olhar, apanharia um barco para a Afurada para ficar mais perto do céu. O que é preciso é ter calma, não deixar entrar o diabo no corpo e lutar por ser o rei do Bairro Alto. Até porque eu e tu somos iguais, temos a mesma fantasia: talvez foder. Silêncio! Socorro! Sexo! Será? Vem ter comigo aos Aliados, tenho uma arma e não tenho mão em mim.

Catarina Martins foi-se embora!

Fotografia: Ana Mendes

[Rui Naldinho]

O Bloco de Esquerda é um pequeno partido do espectro político português que nasceu 25 anos após o 25 de Abril de 1974. Herdeiro de uma série de pequenos partidos sem expressão parlamentar, com exceção da União Democrática Popular (UDP). Uma formação partidária que se assume como uma esquerda não estalinista, em contraponto com o PCP, cuja ligação à ex-União Soviética ainda hoje está latente nalgumas formas de pensar e atuar. De certa forma o BE é o que resulta no eleitorado à esquerda, dos que não se revêem no comunismo, e os que por várias formas se sentem defraudados com os permanentes ziguezagues do Partido Socialista. Eu até diria que, em 2015, o BE recolheu dezenas de milhares de votos de antigos eleitores do PSD frustrados e zangados com a governação da PàF, cuja fatura ainda hoje está a pagar.

Diríamos que o BE é uma espécie de união das freguesias não comunistas, num território à esquerda dominado pelos socialistas, mas que ao mesmo tempo estão nos antípodas da direita portuguesa. Podemos inferir sem grandes dúvidas que o reduto é pequeno. Mas é nesse reduto que este partido se move, com todos os condicionalismos que daí advêm, de ser um partido urbano, sem apetência pela governação dos destinos do país e, ligado a uma certa elite intelectual. Essas fragilidades fazem do BE uma flor de estufa. Mas goste-se ou não é a sua forma de estar na política, daí terem um eleitorado muito volátil, sempre disposto a ir apagar outros fogos, numa altura em que a direita se torna numa ameaça eleitoral, como aconteceu nas pretéritas eleições legislativas. Nem de haver grandes revoluções internas quando nas mesmas passaram de 19 para 5 deputados. Esse drama dá-se, sim, nos partidos de poder, porque altera substancialmente a correlação de forças. [Read more…]

O fim de um ciclo. O início de outro.

Fotografia: João L. Maio

Catarina Martins deu muito à esquerda portuguesa, fez crescer o Bloco de Esquerda (BE) como este nunca tinha crescido antes. Merece, portanto, todos os elogios dos democratas e dos militantes e eleitores do BE.

Perseverante, estóica e delicada, Catarina Martins deu um novo rumo ao BE e um novo rumo à esquerda. Colocou o BE no lugar onde este deve estar: perto das decisões que influenciam a vida das pessoas. Obrigou o Partido Socialista a pôr-se de joelhos, duas vezes. É verdade que, em certas alturas, se aproximou (ou quis aproximar) demasiadamente do poder, mas também é verdade que foi essa aproximação que amedrontou o PS e o obrigou a apostar as fichas todas na maioria absoluta, que hoje é mais empecilho do que virtude para os social-liberais do Largo do Rato. E é, também, graças ao trabalho de Catarina Martins enquanto coordenadora do BE que o PS, quando fala para dentro, tenta ser uma espécie de BE 2.0; enquanto que, quando governa, se mostra como uma espécie de PSD+IL.

Segue-se, presumivelmente, Mariana Mortágua na liderança do partido. Está preparada, ou não estivesse a ser preparada para o lugar há vários anos. Traz consigo a bagagem acumulada da experiência enquanto figura de proa de Comissões de Inquérito e carrega consigo a empatia de muitos dos que se revêem na esquerda à esquerda do PS como uma solução credível para o futuro do país.

Na imagem, Catarina Martins olha em frente, encara o futuro do Bloco onde estará Mariana Mortágua, que na imagem olha para trás, encarando os milhares que a acompanham e torcem por ela. A Catarina Martins, o meu mais profundo obrigado. A Mariana Mortágua, toda a força.

Somos muitos, muitos mil, para continuar Abril.

Os “velhadas”…

Afinal a Catarina tirou as devidas ilações. Tarde. Mas mais vale tarde que nunca. E andava eu convencido que era uma teimosia de alguns idosos. Nunca esquecer: a idade é um posto.

BE: A querida líder

Após as eleições legislativas e perante o desastre eleitoral o PSD foi a votos para escolher nova liderança. O PCP fez exactamente o mesmo. O destroçado CDS idem. Todos os grandes derrotados foram a votos internamente. Todos?

Não. O Bloco de Esquerda nem pestanejou. A querida líder está agarradinha que nem uma lapa. Ainda bem. Já o outro dizia: Olha para o que eu digo e não para o que eu faço….

Há 13 anos, hoje e sempre: amor vincit omnia

Fotografia retirada do Instagram de: Bloco de Esquerda

Assinalam-se hoje, dia 8 de Janeiro de 2023, 13 anos desde que a Assembleia da República aprovou e legislou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Em 2010, uma das lutas mais antigas do Bloco de Esquerda foi aprovada com os votos a favor do próprio partido, do Partido Socialista, do Partido Comunista Português e do Partido Ecologista “Os Verdes”. O Partido Social-Democrata e o CDS-PP votaram contra, sendo que sete deputados/as do PSD se abstiveram e duas deputadas independentes do PS votaram contra.

Os direitos não são eternos, conquistam-se e, se não houver zelo, num instante os perdemos. É, então, necessário mantermo-nos alerta e não deixar que as forças reaccionárias de direita revertam os direitos sociais que foram conquistados nos últimos 20 anos.

Voltamos a estar numa situação em que forças extremistas de direita querem usurpar o Estado de Direito para si, para assim o poderem destruir para criar outro em que o Direito não dite leis fundamentais.

Se a votação decorresse hoje, seria novamente aprovada, como é óbvio. Perante a nova conjugação de forças, é sabido que os que aprovaram a lei em 2010 (BE, PS e PCP), a voltariam a aprovar. Não é linear, hoje, a posição do PSD, uma vez que nos últimos anos vários militantes e figuras de proa do partido assumiram, em público, a sua homossexualidade; mas desconfio que se absteriam. O CH votaria contra, ocupando o lugar do CDS. E a IL, apesar de alguns movimentos conservadores dentro do partido, votaria a favor, tal como o PAN e o Livre.

Mas, por muito que a aferição nos diga que, hoje, a posição talvez saísse reforçada, há tendências da sociedade cada vez mais extremistas que nos fariam questão de lembrar que, para além dos ciganos, das gajas e dos pretos, os gays são um dos maiores problemas da sociedade.

Zelemos pelos nossos direitos e digamos a quem ainda não se habitou: é lidar.

Moção de Folclore: o triste espectáculo que nos proporciona a classe política

Fotografia: Carlos M. Almeida/LUSA

Foi a votos, hoje, uma moção de censura apresentada pela Iniciativa Liberal.

Como era expectável, a moção chumbou, ou não bastassem os deputados eleitos pelo Partido Socialista, em maioria, para a moção não passar. Com os votos contra do próprio partido do Governo, do Partido Comunista e as abstenções do Partido Social-Democrata, do Bloco de Esquerda e do Partido Animais e Natureza, só o proponente da moção, a IL, votou a favor, juntamente com a extrema-direita, representada pelo Chega.

Rui Rocha, deputado liberal e candidato à liderança da IL. Fotografia: António Pedro Santos/LUSA

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Da literatura à politiquice

Como é habitual num blogue plural como é o Aventar, se um dos autores for visado ou criticado, publica-se a crítica e o autor que se amanhe. É esta pluralidade mais uma das razões que me levam a sentir orgulho de fazer parte deste colectivo.

Assim, foi publicado um texto de Joana Fonte em resposta a uma crítica que fiz a um outro texto desta autora. Passarei, então, a comentar a resposta em que sou visado, um texto carregado de tresleituras e de outros problemas que passarei a enumerar.

  1. Da suposta crítica à referência às habilitações literárias e à filiação partidária

Em momentos diferentes do seu texto, Joana Fonte afirma que critico o facto de se apresentar como mestranda em Ensino do Português e militante do Bloco de Esquerda. Basta reler o meu texto para confirmar que a crítica não é essa. Esclareço, aliás, para quem for mais duro de leitura, que é absolutamente legítimo que a autora apresente os títulos que muito bem entender.

As minhas críticas são outras e passo a repeti-las, pedindo que se leia devagarinho: como mestranda em Ensino do Português, Joana Fonte deveria usar instrumentos que as áreas dos estudos literários e da história literária põem à sua disposição; como militante de um partido de esquerda, escolhe um caminho que, na minha opinião, configura uma perversão dos ideais de esquerda, acumulando com o facto de que esse desvio contamina a visão que Joana Fonte revela acerca de Literatura e de Educação.

2 . Do direito absoluto à opinião

Joana Fonte consegue depreender que eu, ao fazer uma referência implícita à sua juventude (pelo facto de ser mestranda), estaria a defender que a autora não tem capacidade ou experiência para participar neste debate. São, efectivamente, tresleituras em catadupa ou, pior, na minha opinião, reacções de quem não gosta de ser confrontada com opiniões contrárias. Reafirme-se, então, o óbvio: Joana Fonte, como qualquer pessoa num país democrático, tem todo o direito a escrever aquilo que pensa, o que, por outro lado, pode implicar concordância ou discordância. Efectivamente, discordo de quase tudo o que Joana Fonte afirma e penso que, na verdade, as insuficiências que revela estão também relacionadas com o facto de lhe faltar estudo e experiência. Ainda assim, repito: liberdade de expressão absoluta.

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E se não mexêssemos nos programas de Português?

Joana Fonte defende, no P3 de 21 de Agosto uma “revisão ao programa de Português”, começando por afirmar que, no ensino secundário, “há alunos que perdem o gosto pela disciplina de Português – se algum dia o tiveram.” Depreende-se, tendo em conta o objectivo da autora, que haverá uma relação entre o programa a rever e a perda de gosto de alguns alunos. Seria importante, a propósito, saber em que se baseia para afirmar que há alunos que perdem o gosto e, sobretudo, se são muitos, poucos ou nem por isso. Estará isso estudado ou é uma mera impressão pessoal?

Nesse mesmo parágrafo, surge um verbo muito usado em discursos sobre Educação, o verbo ‘identificar-se’: “Os e as estudantes lutam por conseguir identificar-se com a linguagem de Fernão Lopes, Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Luís de Camões e Fernando Pessoa.”

Esse ‘identificar-se’ está muito na moda no que se refere, repito, a uma determinada visão da Educação. É sinal de um pensamento que encara o currículo escolar como um conjunto de conteúdos que não causem nenhum estranhamento ao aluno, como se o estranhamento não fosse, entre outras virtualidades, um caminho para o conhecimento, com tudo o que esta palavra deve implicar, incluindo o exercício do espírito crítico (em tempos de proscrição de palavras e conceitos, é estranhamente fundamental reafirmar o óbvio). Assim, o aluno, na Escola, só deveria encontrar a sua própria identidade, como se a Escola fosse um simples espelho e não um território onde deverá encontrar desafios minimamente controlados. Ainda por cima, esta ideia de uma identificação é redutora sob variadíssimos pontos de vista, desde logo porque parte do princípio de que os alunos são um todo uniforme por pertencerem a uma mesma geração.

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Mascarilhas

A Iniciativa Liberal também é isto. Mais não se poderia esperar de um sub-partido do PSD, tal como o é o proto-fascista Chega.

Contexto: no âmbito do Roteiro Climático, o Bloco de Esquerda esteve em Odemira, onde reuniu e ouviu as queixas dos trabalhadores imigrantes das estufas de agricultura intensiva que pululam em Odemira. Mostrou-se solidário com os imigrantes e disposto a não deixar cair o tema. O Bloco de Esquerda não fez um comício, reuniu com associações e trabalhadores das estufas em Odemira. Acontece que a maioria desses trabalhadores é originário do Paquistão ou do Bangladesh.

João Caetano Dias é membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal. Não é, portanto, um mero militante de base ou um simples eleitor do partido. É alguém com grandes responsabilidades naquilo que é a acção do mesmo. Um partido que se diz liberal, que gosta de poluir as avenidas com outdoors populistas onde até o Brasil de Bolsonaro é socialista, que tanto prega a liberdade e tanto quer fazer parte das marchas disto e daquilo, começa a exagerar nas opiniões racistas, xenófobas ou homofóbicas, mascarando-as como “piadas” que mais não são do que a caixa de ressonância do seu próprio pensamento.

Por um lado, começam a mostrar realmente o que são, o que não é mau, porque há uns quantos enganados que começarão a abrir os olhos. Por outro, é já evidente que a IL é tudo menos liberal (no máximo, é neo-liberal) e são atitudes e “piadolas” como esta que demonstram de que lado estão, de facto.

É uma pena. Pois apesar de ser contrário à ideologia em que me revejo, a IL tinha tudo para acrescentar no panorama político português. E assim parecia encaminhar-se… agora, mostram que não são mais do que um PSD 2.0. A IL é contra os impostos… mas se a estupidez pagasse imposto, a IL seria estropiada.

IL – Indigência Liberal

As Alices no país dos neo-liberais.

Quando ainda não era politicamente relevante, o partido neo-liberal Iniciativa Liberal escrevia no seu programa político (ver “Racional”, ponto 14) que “os activos virtuais têm vindo a assumir uma importância crescente (…), com destaque para as criptomoedas”.

Face a esta importância crescente, qual a abordagem que a IL recomendava, então, no seu programa eleitoral?

A seguinte, pasmem-se: “Dada a elevada volatilidade [das criptomoedas] (…), importa ter um quadro regulatório claro, assim como de tributação adequada (…). Para além dos activos em si, importa também regular o funcionamento de bolsas (…)”. Acrescentava o partido que as criptomoedas poderiam ser uma forma de branquear capitais e financiar práticas terroristas.

A IL quando queria “regular” e “taxar” de maneira “adequada” as criptomoedas.

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“Não há graça que não faça o FMI”

Bartoon, de Luís Afonso, no jornal Público.

BE: Tiques de multinacional do imperialismo ocidental?

Segundo a tendência interna do Bloco de Esquerda, chamada “Convergência” o processo de despedimento dos trabalhadores do BE peca por falta de transparência:

Estamos claramente perante uma situação anómala e violadora dos Estatutos em que uma decisão que deverá ser tomada pela Mesa Nacional nem na Comissão Política foi discutida, tendo sido o Secretariado a apropriar-se indevidamente em claro abuso de poder – que, como órgão executivo, nem sequer tem – de funções da Comissão Política, mas com a conivência fraudulenta desta com total desconhecimento dos membros eleitos pela moção E e N.

Nesta matéria espero que a comunicação social esteja atenta. Não vá dar-se o caso da velha máxima: “Olha para o que eu digo e não para o que eu faço”.

No estilo esmagador que caracteriza a maioria, a proposta foi recusada com a justificação do respeito pelos funcionários a despedir que não podiam ficar dependurados de demora na decisão. O respeito e carinho que a maioria nutre pelos funcionários são de tal monta que alguns deles só souberam do  despedimento quando receberam a nota de vencimento.

Vocês não sei mas eu estou a ver aqui, ALEGADAMENTE, tiques de multinacional do imperialismo ocidental na forma como este problema está a ser tratado pelo Bloco de Esquerda. Mas isso sou eu que sou do contra…

Bloco de Esquerda e o rabo de fora…

O Bloco de Esquerda decidiu unir-se ao Podemos (Espanha) num movimento internacional criado por este com o objectivo de evitar o envio de armas à resistência ucraniana. A primeira surpresa: ver o Bloco de Esquerda a unir-se a um partido que em Espanha tem feito e dito, sobre a invasão russa da Ucrânia aquilo que o Bloco critica ao PCP. Um cheirinho a hipocrisia, não? Então, cá dentro critica o PC e lá fora une-se com os que dizem/defendem o mesmo que o PCP. Hummm, parece que estou a ver ali no canto um rabo de fora…

(estas linhas da notícia são uma delícia: El pasado lunes, Podemos celebró que los comunistas portugueses del Bloco de Esquerda se hayan sumado a la iniciativa. Esta entente sirve a Podemos para posicionarse en el tablero internacional y ganar espacio en la política interna)

A segunda surpresa: não enviar armas para os resistentes ucranianos cujo seu país está a ser invadido pela Rússia de Putin. Entendem que o esforço deve ser todo concentrado na busca pela paz. A paz é o que todos queremos, sejamos de esquerda, de direita ou candidatos a Miss Universo. Só que, para que a paz exista é preciso que todos a desejem. Putin quer a paz? Quer, mas só depois de ter conseguido matar todos os ucranianos que desejem ser ucranianos e não russos e depois de ter destruído toda a Ucrânia. Até o conseguir, não teremos paz. E os ucranianos, querem a paz? Querem. Querem o seu país livre de forças militares ocupantes e com isso, existirá paz. É assim tão difícil perceber a realidade? Depois de os russos terem invadido a Ucrânia a paz só é possível se eles regressarem a casa. A partir do momento que entraram e começaram a matar e destruir como raio se ontem a paz sem recuarem? A paz só não a quer quem vende armas ou quem for chalupa. Todos a queremos. O problema é como a obter.

Para uns, a paz só se consegue se as tropas russas regressarem a casa e aí as partes se sentarem a negociar a dita. Para outros, não chega. Será necessário Putin ser corrido ou morto. E depois temos os líricos que entendem que a paz se obtém com a rendição dos ucranianos (não sei se pensavam o mesmo em 1939 ou na ocupação de Timor). E depois temos os sonhadores, que acreditam em unicórnios e que com músicas e corações desenhados a coisa vai lá.

Por último, temos os hipócritas. Os hipócritas estão do lado de Putin mas sabem que afirmar isso prejudica a sua imagem e o seu negócio (os votos) e então defendem coisas que não lembrariam nem aos terraplanistas: somos pela paz e por isso o caminho é não fornecer armas aos ucranianos. Ou seja, traduzido, se os ucranianos não tiverem armas a paz é garantida. Pois é. Após serem assassinados e o seu país totalmente destruído, só fica uma das partes. E assim temos paz. A paz dos agressores e a morte dos oprimidos.

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Reposição

No passado dia onze de Março, aqui no Aventar, o colega Fernando Moreira de Sá publicou “Mariana Mortágua: Um pedido de desculpas aos leitores”, onde pede desculpa por, num texto anterior, ter suposto que Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, envolta em polémica, desconheceria a lei que estaria a quebrar, como afirmou publicamente, pois “a deputada Mariana Mortágua foi uma das subscritoras da lei em causa”. Sobre isso, não sei, não fiz esse trabalho de casa, até para não me/vos enganar. Deixo para o Fernando.

O que sei é que, no texto escrito pelo colega Moreira de Sá, é apresentado como sustentação do que é afirmado, o Projecto de Lei 768/XII/4, projecto esse que, sim, foi da autoria do Bloco (e, como tal, com a ajuda da Mortágua má). No entanto, esse Projecto de Lei 768/XII/4 foi rejeitado na Assembleia da República, na votação na generalidade, com os votos contra de PS, PSD e CDS-PP. A bem da Justiça, fica corrigido o erro.

Mariana Mortágua errou. Aparentemente, já corrigiu o erro.

Fernando Moreira de Sá errou. Não chegou a corrigir o erro, mas cá estou também para ajudar.

As minhas desculpas aos leitores pela confusão.

A pimenta e o cu dos outros…

Em 2016 o Bloco de Esquerda entendia (e bem) que não se pode “inventar” trabalho voluntário que na verdade o não é, por trabalho não remunerado.

Hoje, o Bloco de Esquerda mudou de ideias. As virtudes mudam com os tempos. E pensar que Catarina Martins, em Abril de 2020, avisava que o BE não aceitava a austeridade. É a Economia….. O ano de 2022 não está a ser fácil para a extrema esquerda.

 

(fotos gentilmente palmadas AQUI)

O novelo ou A novela

Vamos fazer as contas.

1 – Mariana Mortágua, do BE, expõe ligações de Marco Galinha, dono da Global Media, ao regime russo;

2 – Joana Petiz, sub-directora do DN, do grupo Global Media, escreve um editorial onde mente três vezes acerca do Bloco de Esquerda, sendo obrigada a retractar-se, no mesmo dia;

3 – Marco Galinha desmente ligações ao regime russo;

4 – O semanário NOVO lança uma capa mentirosa sobre Mariana Mortágua, afirmando que, na origem das denúncias da deputada, está a cessação dos pagamentos a Mariana Mortágua, que escreve no JN (da Global Media) desde 2015;

5 – Mariana Mortágua desmente a capa do semanário NOVO, acrescentando que sempre foi paga pelas suas crónicas no JN, nunca tendo deixado de o ser;

6 – André Ventura, líder da extrema-direita, embarca nas mentiras e partilha as notícias como se fossem verdadeiras;

7 – José Belo, do grupo BEL, irmão de Marco Galinha, é militante do Chega;

8 – RTP diz que, apesar do desmentido por parte do presidente da Global Media, há mesmo ligações ao regime russo;

9 – A mentira tem perna curta;

10 – Vejam o programa “A Prova dos Factos”, hoje a seguir ao Telejornal, na RTP1.

Depois do mau resultado do Bloco nas últimas Legislativas, a campanha negra está em curso. Empresários, munidos da sua teia de influências, tentam conspurcar o BE usando a calúnia e a mentira.

Cá estaremos.

Um mais um ainda é igual a dois?

Mariana Mortágua mostra ligações do dono da Global Media a oligarca russo

O editorial mentiroso do DN (que pertence à Global Media), assinado por Joana Petiz, começa a fazer sentido.

Fotografia: Duarte Roriz

Está feliz, a Petiz, a manipular

Joana Petiz, editora do DN ou do Dinheiro Vivo, ou lá o que é

Joana Petiz é editora do Diário de Notícias. Ou do Dinheiro Vivo. De um dos dois, é irrelevante para o caso. Não é, portanto, uma patega qualquer que debite postas na internet, como eu. Mas parece. Ou age como tal. Num editorial mentiroso, desonesto e que vai contra a deontologia da sua profissão, chamado “Ponham os olhos no PCP e no BE”, a petiz mente não uma, não duas, mas três vezes. A conta que deus fez. Não sei quem é o deus da petiz, mas ela faz o que lhe mandam, aparentemente. Ou então não tem consciência, o que a impede de discernir entre o que é verdade e o que é mentira. Então, tudo bem. Mas quais as mentiras da, para mim, até hoje desconhecida editora do DN (ou do Dinheiro Vivo; é irrelevante). São três. A saber:
1 – “O Bloco absteve-se na condenação da invasão da Ucrânia, por parte da Rússia, ontem no Parlamento Europeu”; a Joana sabe que é mentira, pois o Bloco votou a favor da condenação da invasão russa à Ucrânia;

Acta da votação de ontem, no Parlamento Europeu, parte I.

Acta da votação de ontem, no Parlamento Europeu, parte II.

2 – “O Bloco rejeitou participar na manifestação de protesto em frente à embaixada da federação russa”; a Joana sabe que é mentira, pois o Bloco não só aceitou participar, como esteve presente;

Representantes do Bloco de Esquerda na manifestação de solidariedade com o povo ucraniano, frente à embaixada da federação russa.

3 – O Bloco “recusa em condenar sem adversativas a ação [sic] de Moscovo”; a Joana sabe… que é mentira. Pois tanto Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar, na Assembleia, como Catarina Martins, coordenadora, ou Mariana Mortágua, deputada, já vieram condenar, “sem adversativas”, a acção de Putin.

 

Eu não sei se a Joana é Petiz por escolha ou se nunca chegou a crescer. Também não percebo: a Joana não fez o trabalho de casa? Ou fez mas decidiu que o que lia e via não lhe agradava? Joana, olhe, conselho de um petiz para outra: pense antes de manipular. Atente no código deontológico e peça desculpa, ainda vai a tempo. Sabe, melhor do que eu, que não vale tudo para se pôr em bicos de pés… não é assim que deixa de ser petiz. Dito isto, diz-me uma pulga qualquer, espere resposta, pois a mentira não fica impune.

 

NOTA: Como a estratégia não resultou, pois a verdade é sempre mais difícil de desmentir, a editora do DN, Joana Petiz, lá alterou o seu editorial. Agora, já não se intitula “Ponham os olhos no PCP e no BE”, mas apenas “Ponham os olhos no PCP” (conforme perceberão se clicarem em “Num editorial mentiroso”), com a adenda: “Este editorial foi alterado de forma a corrigir erros que escrevi por falta da devida informação na sua primeira versão. Com efeito, o Bloco de Esquerda votou favoravelmente no Parlamento Europeu (não se absteve, conforme aqui se afirmava) e participou ativamente [sic] na manifestação pró-Ucrânia, tendo condenado claramente a invasão de Putin. Pelo meu erro, peço desculpa ao BE e aos leitores, esperando com esta versão repor a verdade.” Muito bem, a Joana Petiz, a retractar-se do “erro” que cometeu. Agora, fica à consideração de cada um: a Joana não lê jornais ou a Joana lê jornais, mas na diagonal?

Olha, olha o BE continua com o rabo de fora….

…. isto não está fácil por estes dias.

Bloco de táxi

Contas feitas, o Parlamento continua a alojar uma maioria expressiva de esquerda, que fica com 129 dos 230 deputados ontem eleitos. Mas as consequências desta eleição, que resultam de um braço de ferro entre o PS e os partidos de esquerda, subordinado ao tema “Quem foi o (ir)responsável pelo chumbo do OE22 que precipitou o país neste abismo, quem foi?”, só sorriram, e de que maneira, a António Costa. Rui Tavares também foi eleito, o que representa uma inegável vitória para o Livre, que lá conseguiu sobreviver ao desastre Joacine, e é digno de nota. Mas uma nota de rodapé, numa história que é sobre um eucalipto que secou tudo à sua volta.

Sobre o PCP já escrevi na noite eleitoral. Foi um dos derrotados da noite, teve um resultado desastroso, perdeu parlamentares de peso como António Filipe e João Oliveira, que prestigiaram a AR com o seu trabalho, e viu aprofundar uma crise que vem de trás, e que não parece ser de fácil resolução. Mas continua com seis deputados, mais dois no Parlamento Europeu, quase duas dezenas de autarquias, presença em praticamente todos os concelhos do país e um forte ascendente no meio sindical.

Já a situação do BE é completamente diferente e muito mais grave. É o grande derrotado da noite à esquerda e só não é o grande derrotado da noite porque houve um partido fundador da democracia que foi obliterado do Parlamento e um Rui Rio que levou a tareia da vida dele. Mas deixarei o grande derrotado da noite e a implosão do CDS para outro escrito.

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Maioria amnésica

Na CNN:

Mafalda Anjos decidiu explicar o porquê de o país ter dado maioria absoluta ao Partido Socialista. Segundo a jornalista, “os portugueses recuperaram os seus rendimentos, tiveram o passe social, manuais escolares gratuitos, aumento das pensões” e, como tal, “decidiram que ainda não era o momento de tirar o poder ao PS”.

Mas Anabela Neves, que até passou a campanha eleitoral com António Costa ao colo, decidiu relembrar o que, aparentemente, Mafalda Anjos já esqueceu:

  • Sim, Mafalda, mas parte disso foram conquistas do BE e do PCP, negociadas com o PS. Eram bandeiras de BE e PCP!

Haja alguém que relembre o óbvio.

Retrocesso: uma certeza, entre várias certezas

O PS vence por larga margem. A esquerda, no global, também vence, mas a esquerda da esquerda perde de forma retumbante.

BE e CDU terão, agora, de fazer uma reflexão interna. Sabemos que a força da esquerda não se mede por números, como já se viu no passado, mas por propostas; sabemos, no entanto, que terá de ser feita, de forma ponderada, serena e comprometida com o eleitorado, um balanço dos últimos seis anos, nomeadamente da estratégia seguida desde o fim da geringonça em 2019.

O neo-liberalismo cresce a olhos vistos, mostra a perna ao eleitorado, mas este não vê que ele é perneta. Terão agora, pelo menos, dois anos para reflectir se era uma maioria do PS (ou perto disso) que realmente queriam e se o crescimento do neo-liberalismo nas últimas três décadas tem sido benéfico para o país.

Vamos à luta, camaradas. O povo castigou-nos, à boleia da manipulação do PS e da pressão das sondagens, mas continuaremos, sempre, sempre, sempre a lutar por vós. O reforço dos serviços públicos, o aumento dos salários e das pensões, justiça fiscal, criminalização das offshores, e por aí em diante. Não renunciaremos aos nossos mandatos. Viemos à luta, estamos na luta, estaremos na luta.

Avante.

Fotografia: MAYO

Não ser social-democrata, mas ser o Partido Social-Democrata

Em 1989, o realizador João César Monteiro lança “Recordações da Casa Amarela”, o primeiro filme de uma trilogia, em que o autor interpreta um seu alter-ego. Hoje, Rui Rio exaltou em mim, a propósito do debate com Catarina Martins, várias recordações da casa laranja. Lembrou-me, também, de que demagogia é feito o PSD: um partido chamado “social-democrata” sem um único social-democrata nas suas fileiras.

Recordemos um outro alter-ego.

 

Quem vai à luta num campo de esterco, é natural que acabe todo cagado

Começaram, ontem à noite, os debates para as Legislativas 2022.

Ao início da noite, António Costa (PS) debatia com Rui Tavares (Livre). Um debate pouco interessante, onde o anterior primeiro-ministro esteve mais interessado em falar do PSD e de Rui Rio e onde Rui Tavares cumpriu o seu papel de não incomodar muito António Costa.

Ao final da noite, na SIC Notícias, iniciou-se o debate entre a coordenadora do BE, Catarina Martins, e o líder-supremo-todo-o-poderoso do partido Coisinho, André Coisinho. Escusado será fazer algum resumo. Fica, ainda assim, um trecho de uma intervenção de André Coisinho, ontem à noite, no vídeo abaixo.

André Ventura e os apoios sociais

Não é fácil falar de ou, pior ainda, falar com os trogloditas que fazem generalizações sobre os apoios sociais, essa instituição que separa a selva dos países civilizados. O acto de distribuir apoios sociais constitui uma enorme responsabilidade, implica uma fiscalização competente e está sujeito a fraudes.

A propósito desses apoios, no debate com Catarina Martins, André Ventura afirmou que há refugiados que têm telemóvel e beneficiários do RSI que andam de Mercedes. O mesmo André Ventura fez referência à necessidade de combater a subsidiodependência, um vício que, se bem entendo, afecta a maior parte ou a totalidade das pessoas que recebem pensões ou outros apoios e que preferirão ficar nessa condição a trabalhar.

André Ventura, como qualquer português de bem, tem o dever de denunciar às autoridades competentes qualquer caso em que, por exemplo, a posse de um telemóvel ou de um Mercedes possam constituir provas de ilegalidade. Como político sério, deve provar a existência de subsidiodependência, termo que, aliás, só é utilizado pela direita, geralmente muito católica.

Se não denuncia e se não explica, não é um português de bem e não é um político sério. Nada de novo – André Ventura é um parente próximo de gente como Mota Soares (e, portanto, Passos Coelho e Paulo Portas), gente que prefere generalizar, lançando falsos testemunhos, nada que não se resolva com umas ave-marias.

O problema, na verdade, não reside na existência de políticos destes, mas nos votantes que lhes dão vida e que não estão interessados em pensar, em sentir empatia, nem sequer estão interessados na verdade dos números que mostram que as generalizações dos venturas e dos motas soares são conversa de bêbedo. O grande desafio será, portanto, conversar com quem não quer ouvir, sendo certo que, muitas vezes, tem ou descobre razões muito fortes para querer ser surdo.

Paulo Ralha, o Bloco e o Chega entram num bar….

Paulo Ralha, cabeça de lista do Chega em 2022.

Esquerda? Direita? Terceira Via?

Fotografia: Tiago Petinga/LUSA

Desde 2019 que o Partido Socialista decidiu seguir um caminho diferente daquele que foi sendo delineado, à Esquerda, a partir de 2015, juntamente com os seus parceiros, Bloco de Esquerda e Partido Comunista. Achando que poderia governar à lá carte, o PS foi negociando medidas à sua Esquerda (nomeadamente em questões sociais) e à sua Direita (no que às Leis Laborais diz respeito), conforme lhe fosse sendo mais conveniente e, sobretudo, obedecendo ao patrão (União Europeia), não querendo, com isso, pôr em causa a “coligação positiva” construída para destronar a Direita do poder.

Quem tudo quer, tudo perde. Chegados a 2021, depois de atravessarmos um período pandémico, previsto por ninguém, no que à situação espaço-temporal se refere, mas previsto por muitos, no que à saúde pública e ao ambiente diz respeito, era inevitável chegarmos a uma situação de crise (não só de saúde pública) económica e, por conseguinte, social. Ora, sabemos, de antemão que, perante uma crise, e se tivermos em atenção a História Política Mundial desde os anos 80, o caminho a seguir pelos governos do Mundo Ocidental, são sempre feitos à Direita. Reagan e Thatcher teorizaram. O Mundo Ocidental adoptou as suas teorias como pílula dourada. Temos, hoje, um mercado desregulado, prostrado aos poderes comuns de uma elite usurpadora da economia, o que leva à decadência económica das classes baixa-média e, por oposição, enriquece, ainda mais, a tal elite dominante. Não fosse isto ponto assente, saberia o PS que o caminho a seguir, depois dos acordos estabelecidos, teria de ser feito, obrigatoriamente, à Esquerda. Tendo escolhido o caminho de “eleições antecipadas”, é ao PS que nos cabe assacar as responsabilidades pela crise política em que vivemos hoje. [Read more…]

O bicho papão

O cão não ladra por valentia e sim por medo.
(provérbio chinês)

Propostas concretas? Re-jei-ta-do!

    Relembro que este Projecto de Lei, proposto pelo Bloco de Esquerda, foi apresentado em Setembro passado na Assembleia da República. Há por aí uns partidos de direita a barafustar contra impostos sobre combustíveis (quando na semana em que os impostos descem miseravelmente, as gasolineiras aumentam o preço do combustível – acreditar na boa intenção do mercado é só risível) e contra o preço dos combustíveis.
    Mas eu relembro:
  • Em Setembro, foi votado o Projecto de Lei do Bloco de Esquerda que pretendia introduzir um regime de preços máximos nos combustíveis, adoptando medidas anti-especulação que evitem a subida generalizada dos preços impulsionada pelo mercado.
    O Projecto de Lei foi rejeitado com os votos contra do centrão onde, na AR, costumam fazer filão para combater a Esquerda (PS, PSD e CDS); e com os votos contra dos populistas neo-fascistas do CH e dos populistas de outdoors neo-liberais da IL. O PAN, sempre tão lesto na defesa do bóbi e do tareco, absteve-se.
    Sei bem que isto não passa na TV; ora porque não convém expor a hipocrisia dos partidos do centro e da extrema-direita, ora porque é mais fácil fazer barulho sem que se perceba uma vírgula do que se está a dizer. Mas aqui está: relembre-se.