Acordo ortográfico: Rui Tavares é mais ou menos a favor

nao2c4Rui Tavares, historiador e europedutado, escreve semanalmente no Público e decidiu que as suas crónicas sejam publicadas segundo as regras, por assim dizer, do chamado acordo ortográfico (AO90).

Há dias, resolveu republicar um desses textos no facebook. Não estando aqui em causa o conteúdo, que subscrevo inteiramente, um comentador notou que o cronista acordista usara a forma verbal “pára”, proscrita pelo AO90. Sempre combativo, Rui Tavares respondeu: “pára ou para têm ambos o uso possibilitado pelo AO. Para evitar confusões uso pára. Mas diga-se de passagem que sempre disse que a norma oficial, esta ou a anterior, é sobre a escrita oficial. Faz todo o sentido que se use a língua com critério e criatividade em simultâneo, e isso depende de cada um.”

Mais tarde, acabou por reconhecer que se enganara, no que respeita ao conteúdo do AO90, o que lhe fica bem. Na realidade, e de acordo com a Base IX, art. 9.º, do AO90, a forma “pára” desaparece: “deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição”.

Apesar disso, voltou a defender o direito a fazer “adaptações no uso pessoal” e acaba por reconhecer que o acento em “pára” é necessário. Depreende-se, portanto, que qualquer um tenha direito, por exemplo, a acentuar conforme lhe apeteça, independentemente das regras ortográficas em vigor, ou até a prescindir de acentos, se considerar que o contexto é suficiente para que não haja ambiguidade. Segundo Rui Tavares, portanto, um conjunto de regras ortográficas é uma espécie de self-service em que cada um escolhe o que mais lhe agradar.

Não se negando ao debate, o cronista ainda dispara mais umas opiniões avulsas, sendo de realçar o reconhecimento de que algumas consoantes eliminadas pelo AO90 tinham valor diacrítico, o que, no fundo, equivale a dizer que deveriam ter sido conservadas, tal como o acento em “pára”. Já não deve faltar muito para que Rui Tavares, fazendo um uso pessoal da ortografia, acabe por renegar, na prática, o AO90, mesmo que o defenda, em teoria.