O que se passa no Diário da República?
22/02/2023 by 5 Comments
Some days you’re the windshield, some days you’re the bug.
— J. R. EwingSometimes you’re the windshield
Sometimes you’re the bug
— Mark KnopflerSometimes you’re the windshield, sometimes you’re the bug
Some days you’re the windshield, some days you’re the bug
Sometimes it all comes together baby, sometimes you’re a fool in love
— Mark Knopfler & J. R. Ewing
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Portanto, onde é que íamos…?
Ah! Já sei.
Continuação de uma óptima semana.
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Uma inócua nótula sobre o ChatGPT e mais do mesmo no sítio do costume
10/02/2023 by 12 Comments
Dear reader, we have a confession to make.
— Vogel & Hamann, JLL 12 (2023): 1–7 (pdf)
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Hoje de manhã, ao ler que Chomsky se pronunciara sobre o ChatGPT nos seguintes termos:
No fundo, é plágio de alta tecnologia e uma forma de fugir à aprendizagem,
lembrei-de vos recomendar cinco artigos importantes para este momento de reflexão:
- A minha “entrevista” ao ChatGPT, do nosso J. Manuel Cordeiro;
- A evolução da inteligência artificial na educação, de Carlos Ceia;
- Legal Linguistics in Times of Language Models and Text Automation, de Friedemann Vogel e Hanjo Hamann (cf. epígrafe);
- Tools such as ChatGPT threaten transparent science; here are our ground rules for their use, editorial da Nature;
- ChatGPT listed as author on research papers: many scientists disapprove, de Chris Stokel-Walker.
Os dois últimos foram publicados nesta Nature (v. 613, n. 7945 ), com esta belíssima capa:
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Mudando de assunto, eis mais um maravilhoso exemplo da ortografia actualmente aplicada em Portugal: [Read more…]
Marçal Grilo escreve: “Os resultados da governação têm alguns aspetos muito positivos”
31/01/2023 by 2 Comments
Discordo. Os *aspetos nunca são positivos.
Garantir a informação e o *contato com a comunicação social?
24/01/2023 by 3 Comments
Sir To. Fie, that you’l say so! he playes o’ th Viol-de-gamboys, and speaks three or four languages word for word without booke, & hath all the good gifts of nature.
— Shakespeare, Twelfe Night, Or What You Will (Folio 1, 1623), aka La Nuit des Rois.A century has passed since John Maynard Keynes called the gold standard — and by implication the idea that gold is money — a “barbarous relic”.
— Paul Krugman, The New York Times, 24 de Janeiro de 2023 (data da edição internacional, a que chega em papel a Bruxelas)
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Como é sabido, o Acordo Ortográfico de 1990 funciona como uma pedra de estimação, uma “pet rock”, como a mencionada por Krugman, no NYT, à qual alguns atribuem qualidades e defeitos inexistentes, tratando-a como se de um ente querido se tratasse. De facto, não tem valor, é uma fraude sobrevalorizada, uma “hyped-up fraud”. Mas, por aí, continuam acriticamente a dar palco aos promotores da fraude . E o palco não é o do S. Luiz.
Efectivamente, ontem, ganhou força a teoria segundo a qual a proliferação de *fatos e *contatos na comunicação social que segue o Acordo Ortográfico de 1990 tem como origem a montra.
Exactamente.
Hoje, o espectáculo continua.
Hoje, de facto.
E amanhã? Previsivelmente, mais do mesmo.
Votos de uma óptima semana.
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Desejo-vos um óptimo fim-de-semana
06/01/2023 by
Santana Lopes, o Wally e a República das Bananas
29/12/2022 by
Antes de Pelé, 10 era apenas um número. Li essa frase em algum lugar, em algum momento da minha vida.
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Santana Lopes, apesar de aparecer imenso na comunicação social portuguesa, continua a não responder ao essencial, que tentarei resumir em três perguntas:
- Porque é que “agora facto é igual a fato (de roupa”?
- Porquê esta República das Bananas ortográfica? (*)
- Considera que 1. poderá explicar 2.?
Votos de um óptimo 2023.
(*) A actualíssima imagem vai sem as rodinhas do costume, para Santana Lopes descobrir o Wally.
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Hoje, quinta-feira, 29 de Dezembro de 2022,
29/12/2022 by
o Presidente da República promulga o OE2023. Mas faz mal. Faz muito mal.
A São solidária e a função diacrítica
20/12/2022 by
Este recheio também é óptimo para tartes.
— O Livro de Pantagruel
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Os excelentes Tradutores Contra o Acordo Ortográfico encontraram um belíssimo exemplo das consequências da base IV do Acordo Ortográfico de 1990. Ainda por cima, com potencial crase — não ocorrida e ainda bem. É a prova do crime (aliás, uma das provas do crime), ao cuidado dos incréus por conveniência.
Para quem não tiver Facebook, eis o vídeo publicado pelos Tradutores.
Muitos e bons (e.g., Castro, Duarte, Delgado Martins, Emiliano — e, deste rol, estou intencionalmente a excluir autores de ortografias autênticas, como os maravilhosos Gonçalves Vianna e Rebelo Gonçalves) indicaram a função diacrítica das letras c e p. Há uns anos, além de também me caber o papel de a indicar, dediquei algumas páginas a explicá-la, em publicação de referência, com revisão por pares (pdf). Desde então, até no Ciberdúvidas a função diacrítica (da letra c) chegou a ser mencionada. Mas sem consequências.
Fica o registo e ficam também os meus votos de uma óptima semana.
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O Diário de Notícias armado em Folha de S. Paulo
04/12/2022 by
In all of his wonderful meditations upon the ruefulness of our lives, there is always the spirit of laughter beckoning us in the art of somehow going on. His achievement is one of the enlargements of life.
—Harold Bloom
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Como é sabido, quer a Folha de S. Paulo, em particular, quer os falantes de português do Brasil na função de escreventes, em geral, escrevem *’objeto’ e é-lhes autorizada pelo AO90 a manutenção do ‘aspecto’. Pelo contrário, os escreventes de português europeu que se deixaram levar pela onda AO90 escrevem *’objeto’ em vez de ‘objecto’ e estão proibidos de escrever ‘aspecto’: escrevem *’aspeto’ (uma espécie de ‘espeto’ com <a> inicial).
Todavia, como o caos veio para ficar, o Diário de Notícias decidiu, a propósito deste excelente livro, armar-se em Folha de S. Paulo.
Por isso, *’objeto’ e ‘aspecto’, em vez de *’objeto’ e *’aspeto’. Obviamente, tudo se resolveria, resolvia e resolve com ‘objecto’ e ‘aspecto’. Em ortografia portuguesa europeia, com certeza.
Desejo-vos uma óptima semana.
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Jorge Miranda esqueceu-se do Acordo Ortográfico de 1990
29/11/2022 by
For the heuristic purposes of analyzing learners’ L2 performance and L2 proficiency in SLA research, we argue that the broader notion of L2 complexity minimally consists of three components: propositional complexity, discourse-interactional complexity and linguistic complexity.
— Bulté & Housen (2012)
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Efectivamente, Jorge Miranda esqueceu-se de mencionar o AO90, ao apresentar a lista de “muitos e muito graves problemas que a Assembleia da República deveria discutir e obrigar o Governo a enfrentar: a inflação, a lentidão da justiça, a crise nos hospitais, as distorções de serviços públicos, grandes zonas de pobreza“.
Portanto:
- inflação,
- lentidão da justiça,
- crise nos hospitais,
- distorções de serviços públicos,
- grandes zonas de pobreza,
- Acordo Ortográfico de 1990.
Porque Miranda não sabia, mas já sabe. No entanto, se, passado um decénio, ainda não souber, convém perguntar a quem saiba e não ao colega que fala muito, mas sabe pouco.
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Susana Peralta pergunta:
25/11/2022 by
Sim, sabia. Aliás, toda a gente sabe. Nem o que hoje vota, nem os que votou para 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022 [1] e [2].
E gostei do conceito “cacofonia orçamental”: proponho que abranja os “tetos de despesa”, mencionados pela Autora. Os vinculativos, sim, mas também os indicativos.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
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A sério, Expresso? Pára para?
24/11/2022 by
We have to be more cautious in describing quantitative relationships. The one thing that we were just looking at, the interactive things we can do with the new methods, and we have a figure that we will keep, which shows the inflation unemployment counterclockwise spirals in the 70s and the 80s where you have to go through this bulge in unemployment to get inflation down… I mean… clockwise spirals…. Anyway… Like that ⮏. Or, from your point of view, like that ↺.
— Paul Krugman
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Pára para? Não era para para? Como em “uma lagosta para para me ver“? Ah! É pára para. OK.
Mais uma recaída. Exactamente. Efectivamente.
E qual é a explicação para factor?
Recaída? Deixaram de adoptar o AO90?
As duas coisas? Nem por isso? Que grande confusão. Tantas hipóteses, Expresso. Apesar de tanta conversa.
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Hoje, quinta-feira, 24 de Novembro de 2022, jogam
24/11/2022 by
a selecção e a seleção. Efectivamente. Porque ‘selecção’ ≠ ‘seleção’.

Foto: Lars Baron/Getty Images.
Ninguém PÁRA este Benfica
14/11/2022 by
Ninguém para? Não! Ninguém pára. Efectivamente. Na primeira página, para que não haja dúvidas.
Ex-governador do Banco de Portugal não tirou uma selfie “nem pediu desculpas”, revela António Costa
10/11/2022 by
Eu e Pinto da Costa: a mesma luta
08/11/2022 by
“Rejeito qualquer ato de violência“. Exactamente. Contra atos de violência e, já agora, também contra aCtos de violência.
Sobre o novo álbum de Alexandre Soares,
03/11/2022 by
eis um artigo bem escrito: projectos, Um Projecto Global (tenho-o em vinil), colectivo, eléctrica e electrónica.
Há um problema no Spotify (e outro, mais grave, no Diário da República)
24/10/2022 by
In that summer
Roll back to mother
— IA/BD
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O problema no Spotify é o seguinte: o Sea and Sky dos The Cult está no Go West (crazy spinning circles) do Rare Cult e o Go West (crazy spinning circles) está no Sea and Sky do single e do Rare Cult. Já agora, o novo álbum dos The Cult (aqui anunciado há poucas semanas e presente na epígrafe) é excelente.
Agora, vamos ao que interessa.
Efectivamente, como é dia útil, há festa. Porquê? Porque há Diário da República.
Exactamente.
Aliás, a formulação “não dispensa o contacto regular do trabalhador com o serviço” está padronizada e encontra-se há muitos anos consagrada em diplomas portugueses.
Encontra-se? Encontrava-se!
Desejo-vos uma óptima semana.
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O fato e o fat
21/10/2022 by
The popular view that scientists proceed inexorably from well-established fact to well-established fact, never being influenced by any improved conjecture, is quite mistaken. Provided it is made clear which are proved facts and which are conjectures, no harm can result. Conjectures are of great importance since they suggest useful lines of research.
— Alan Turing
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Imaginemos que estamos a deliciar-nos com um artigo científico em língua inglesa. Subitamente, damos de caras com o seguinte trecho:
The fat that the dip does not go to zero is fully accounted for by the fat that in the pair creation process there is some amplitude to have 2 atoms rather than 1 in an elementary mode.
O artigo é este (pdf) e o autor, além de ser dono de um invejável apelido (Alain Aspect) e de ter sido um dos vencedores do Nobel da Física deste ano, não escreveu obviamente a barbaridade que indiquei ali em cima, deixada à nossa fértil imaginação colectiva. Efectivamente, aquilo que Aspect escreveu foi isto:
The fact that the dip does not go to zero is fully accounted for by the fact that in the pair creation process there is some amplitude to have 2 atoms rather than 1 in an elementary mode.
Se Aspect tivesse grafado fat em vez de fact, teria tanta credibilidade como aquela que o Diário da República vem demonstrando desde Janeiro de 2012, ao grafar (grafar e não gralhar, como alguns querem fazer crer) as asneiras habituais. Eis um exemplo fresquíssimo:
No sítio do costume.
Desejo-vos um excelente FC Porto — Benfica (viva o Benfica!), um maravilhoso novo álbum (o segundo deste ano) dos Chili Peppers e, claro, um óptimo fim-de-semana.
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Associação de Professores de Português reconhece que o AO90 falhou
16/10/2022 by
Nota inaugural: no final do texto, há hiperligações gratuitas.
Uma vez que há alunos brasileiros que têm sido penalizados na classificação de exames de Português por escreverem de acordo com a variante que aprenderam, a Associação de Professores de Português (APP) defende a criação de um grupo de trabalho para discutir aceitação de variedades de português em exames.
Não vejo mal nenhum em reflectir sobre o assunto, porque devemos defender o elo mais fraco, que, neste caso, é o aluno imigrante. Haverá várias questões a ponderar, mas a preocupação é legítima, embora não me pareça que o problema seja assim tão fácil de resolver. O que me traz hoje aqui, no entanto, é outra coisa.
Convém lembrar que a APP esteve sempre do lado da defesa do chamado acordo ortográfico (AO90), essa oitava maravilha do mundo que, segundo os seus diversos apóstolos, iria contribuir para a tão desejada «unificação ortográfica» que resolveria problemas que nunca existiram. Resolver problemas que não existem é, aliás, uma característica talvez tipicamente portuguesa. [Read more…]
Contra o Orçamento do Estado para 2023
10/10/2022 by
Mantém-se um mistério o motivo pelo qual gente alfabetizada votou favoravelmente documentos redigidos nos termos de 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022 [1] e [2]. Uma hipótese que me parece plausível é a de estes documentos não terem sido lidos por quem os votou. E isso, a ser verdade, é grave. Mas não sabemos se é verdade. Só sabemos que é uma hipótese.
Debrucemo-nos então sobre o documento hoje depositado por Fernando Medina nas mãos de Augusto Santos Silva.

Foto: Nuno Ferreira Santos (https://bit.ly/3CpJfXc)
Vejamos, pois, uma amostra do conteúdo do Relatório (pdf): [Read more…]
Royale with cheese
07/10/2022 by
La langue, un français écorché, mêlé de patois, était indissociable des voix puissantes et vigoureuses, des corps serrés dans les blouses et les bleus de travail, des maisons basses avec jardinet, de l’aboiement des chiens l’après midi et du silence qui précède les disputes, de même que les règles de grammaire et le français correct étaient liés aux intonations neutres et aux mains blanches de la maîtresse d’école.
— Annie Ernaux (efectivamente)
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Por causa da Mary Royall /rɔɪəl/, lembrei-me do royale /rɔiˈæl/ (with cheese). Trata-se sobretudo de tonicidade, sim, por isso, muito mais do que da velha história da selecção e da *selessão, perdão, da *seleção, lembrei-me da facção e do façam. É exactamente por isto que a linearidade não pode — não deve, OK — servir nem como forma de orientação nem como princípio norteador. Por falar em nortear e orientar (todavia, go west, porque the west is the best), há álbum novo dos The Cult e, na segunda, tereis os GNR de há 30 anos na rtp memória.
No sítio do costume? O costume.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
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Sem rumo
02/10/2022 by
“Don’t argue with me, Hemingway,” Miss Stein said. “It does no good at all. You’re all a lost generation, exactly as the garage keeper said.”
— Hemingway, “A Moveable Feast“
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Felizmente, o jornal A Bola deixou de ter Vítor Serpa ao leme dos seus destinos. De facto, não lembra a um cacodemónio ter como timoneiro, num Portugal moderno, uma pessoa que faz a apologia da resistência silenciosa como forma de luta: quer em abstracto, quer, obviamente, no caso concreto, em relação ao AO90.
Além disso, trata-se de alguém que interpreta como geracionais comportamentos sui generis de indivíduos também eles, no seu direito, peculiares. Ora, o comportamento de Bruno de Carvalho é exclusivamente dele e não conheço estudos com amostras da população nascida em 1972 (da qual também faço parte) através dos quais se demonstre que os actos concretos indicados por Serpa relativamente a Carvalho sejam representativos de um comportamento geral da nossa geração.
Quanto à lógica dos raciocínios de Serpa, divirto-me, confesso, no labirinto do texto de despedida. Sabemos que eterno significa aquilo que não há-de ter fim, que dura sempre (se teve principio ou não, essa é outra questão). Todavia, no tal Portugal moderno há pouco mencionado, ler no mesmo texto “nenhum poder deve ser eterno” e “mais de trinta anos depois de ter assumido o cargo” dá-me tanta vontade de rir como a diferença entre a grafia anunciada e a grafia adoptada pelo jornal A Bola.
Serpa deixou de ser director, é certo, mas as recaídas, graças a Zeus e a todos os deuses, mantêm-se.
Desejo-vos uma óptima semana.
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O que é a Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos do Ministério do Mar?
08/09/2022 by
É um serviço central da administração directa do Estado, dotado de autonomia administrativa.
Ninguém para Porro e Nuno Santos faz o terceiro em Frankfurt?
07/09/2022 by
Não! Ninguém pára Porro e Nuno Santos faz o terceiro em Frankfurt.
Efectivamente, há resistência, mas não é silenciosa.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, há professores racistas e xenófobos entre nós:
01/08/2022 by
«não vale a pena negar que há, infelizmente, setores racistas e xenófobos entre nós». Pois. Efectivamente. Exactamente.
Os One *Diretion e os *Artic Monkeys
14/07/2022 by
Exactamente. Acabado o reinado dos One Diretion, os Artic Monkeys são os candidatos naturais à sucessão.
Pois é.
Don’t believe the hype.
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