O Conselho de Segurança das Nações Unidas ficará na História da crueldade

 

alepo

©Omar Sanadiki/Reuters

Ruanda. Srebrenica. E agora Alepo. Memorizemos o nome. Alepo. É o novo cemitério do mundo. E da comunidade mundial. Na lápide está inscrito: Vocês assistiram. Todos vocês sabiam. Todos vocês se indignaram. Vocês apontaram o dedo a este e àquele. Mas vocês deixaram que acontecesse.

E irá acontecer novamente
Mais tarde, quando os corpos tiverem sido enterrados, o entulho removido e as vítimas lentamente esquecidas pelo mundo, em algum momento, no próximo Alepo, este Conselho de Segurança da ONU – este fracasso conjugado da decência humana –, estará novamente reunido e dirá novamente: Naquela altura, em Alepo, jurámo-nos a nós próprios: nunca mais! E no entanto, irá acontecer de novo.
Talvez até muito em breve, em Idlib, a 50 quilómetros de Alepo. O enviado especial da ONU para a Síria – ou para o que dela resta -, esteve na terça-feira perante este Conselho de Segurança, segurando nas mãos uma imagem-satélite de Alepo bombardeada, e disse: Idlib poderá ser a próxima Alepo.

“Nós avisámos-vos!”
Mês após mês, membros do pessoal da ONU estiveram perante o Conselho de Segurança, implorando, pedindo, exigindo, avisando. Até ao Natal, a parte oriental de Alepo, cujo centro histórico aliás faz parte do património mundial, poderá ter sido extinta. Nem demorou até ao Natal. Ban Ki Moon, aquela triste figura trágica no topo das corajosas, impotentes, indignadas Nações Unidas, atestou na terça-feira falência moral ao Conselho de Segurança. Uma e outra vez os seus 15 membros tinham declarado publicamente: Para podermos intervir de forma preventiva, precisamos de avisos atempados. “Nós avisámos-vos”, disse Ban Ki Moon em voz baixa. Uma e outra e outra vez.

A comunidade mundial somos nós
Em 2005, a comunidade internacional estabeleceu o princípio da “responsabilidade de proteger”, a ser assumido por cada Estado. Cada estado tem a responsabilidade de proteger as suas populações contra genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade, é o que está lá escrito, de maneira tão maravilhosamente inequívoca. Se esta responsabilidade não for assumida, ela é transferida para a comunidade mundial. A comunidade mundial somos nós. Tanto a Rússia, como os EUA. O Irão, como a França. A China, como a Grã-Bretanha. A Turquia, como a Alemanha. A responsabilidade era nossa. Agora, temos de arcar com a culpa.
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Angustiante

siria

Esta imagem, de um dos dois maiores hospitais em Alepo ainda em funcionamento, que foi ontem atingido e destruído por um novo bombardeamento do regime sírio, é o reflexo de um país transformado numa pilha de cacos e cadáveres, onde diferentes poderes se entretêm a arrasar tudo à sua volta, para gáudio de fabricantes de armas e outros terroristas que fazem fortuna com a devastação no Médio Oriente. É angustiante, um autêntico nó na garganta, visualizar imagens como esta. Não quero nem consigo sequer imaginar o que será viver ali. Não admira que milhões prefiram enfrentar o Mediterrâneo ou regime fascista de Viktor Orbán.

Foto: Taher Mohammed@Expresso