Meu filho

Que sou livre, dizem-me.
Porém se quisesse ter outro filho
teria de o levar ao banco da esquina
porque sua é a minha casa.
O meu menino chamaria pai ao gerente
e mãe à caixa
aprenderia a andar com uma cadeira
de rodinhas de escritório
dormiria numa gaveta dos arquivos
e eu seria apenas um parente afastado
que lhe sorriria do meu lugar na fila.
Passaria por lá de vez em quando com a desculpa de aumentar a hipoteca
só para ver como o criam
como o ar condicionado o afecta
se sabe enviar um fax
e se o gerente lhe oferece um jogo de frigideiras
pelo seu aniversário.

Ana Pérez Cañamares, roubado ao Trapézio sem rede