A propósito de cães e luta de classes

Milito no partido dos gatos desde pequenino. O cão, cão, segue o dono como seguiria o líder na matilha. Há o cão inventado pelo homem para ser assassino, o cão que pastoreia, o cão que guarda, o cão que morde pouco, mas o cão, cão, lambe sempre o dono.

O gato, animal de território pouco dado a bandos, conheceu a mãe, livrou-se dos irmãos, e tem domesticamente perante quem o alimenta o trato estritamente necessário para a sua sobrevivência. Sei segredos, gatos que salvam vidas, mas os meus defuntos não entram aqui.

Por via de uma família que mantinha um cão de matar entalado entre uma varanda e uma cozinha, assunto que naturalmente rebentou na morte de uma criança, anda por aí tanto latido que ensurdece. A esquerda divide-se, a direita devota de uma pomba estúpida, citando o sábio Caeiro, resfolega e puxa para a tourada, uma arca de noé em formato babel.

Tola carnificina de palavras. Mas recordo que os animais, sendo todos iguais são uns um pouco diferentes de  outros, adoro um cão, raivoso, este do Sérgio Godinho, que tão bem o explica. E esta é para ti, Raquel Varela, essa do Hitler enferma de uma pequena descontextualização histórico-zoológica: os animais irracionais, legitimamente, defendem-se uns aos outros, não obrigando com isso os racionais a desprezá-los; e depois tens no teu título um erro gramático, não é o cão de Hitler, é sempre o cão do Hitler. Faz uma certa diferença.