O corpo de Bin Laden

Bin Laden era, nos dias que correm, uma espécie de ex-presidente de uma grande multinacional na reforma, com a dificuldade acrescida de ter os movimentos limitados, as comunicações controladas e parte do mundo a tentar localizá-lo. Em abono da verdade, Bin Laden era, actualmente, quase inofensivo.

Para além de questões religiosas que envolvem a forma de tratar um cadáver islamita, que não discuto, existem aspectos que importa considerar. Um deles, talvez o mais importante, tem a ver com a força simbólica do corpo de Bin Laden. Desse ponto de vista parece-me evidente que o corpo morto de Bin Laden seria hoje bem mais importante do que o corpo vivo na sua última condição de refugiado. Quero dizer, se se soubesse exactamente em que local se encontram os restos mortais de Bin Laden, esse local passaria a concitar ódios e amores extremos e extremistas, seria sempre um lugar de elevada sensibiliade e com gente disposta a aproveitar-se do facto para os piores motivos.

Por outro lado, Bin Laden prisioneiro e julgado num tribunal internacional, readquiriria  também uma força simbólica que actualmente não possuía e as consequências de tal processo seriam absolutamente imprevisíveis no que se relacione com o aumento do terrorismo e das várias radicalizações fundamentalistas.

Suponho que a própria exibição das imagens de Bin Laden morto não acabará com todo o tipo especulações e teorias de conspiração. Tal como aconteceu com muitos ícones da cultura popular, Bin Laden, ainda que falecido, vai continuar a andar por aí.