Extinção-relâmpago de 1165 freguesias

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“O que teremos no caso português é o pior da aprendizagem que estamos a fazer nos países europeus. Em vários dos países que há uns anos fizeram reformas comparáveis, nomeadamente nos casos inglês, sueco e holandês, constatou-se que, do ponto de vista da participação e do envolvimento dos cidadãos face à decisão local, a insatisfação foi crescendo. Basicamente, criou-se distanciamento do eleitor face ao eleito, e é isso que se deverá verificar também no caso português”, antecipa. E se nos países do Norte e do Centro da Europa “a reforma visou criar escala e aumentar a eficiência, aqui trata-se de uma mera tentativa de redução de custos”, ou seja, “não se ganha em eficiência e perde-se em termos de envolvimento dos cidadãos e de proximidade face à decisão política”, condena o académico.

Considerando que a reforma das freguesias peca por ignorar que o território português apresenta sérias lacunas em termos de coesão, sobretudo entre litoral e interior, Filipe Teles considera que “tudo isto foi acelerado e precipitado pela tentativa de mostrar trabalho perante a troika“. E que pretender resolver em seis meses problemas estruturais do país só pode dar maus resultados. “Nalguns dos países europeus que referi, as reformas duraram mais de uma década. E mesmo assim necessitaram de correcções posteriores. A Dinamarca introduziu a reforma em 2005 e corrigiu-a em 2007. Em Inglaterra, a mudança esteve 12 anos em curso…”

Natália Faria, Público, entrevista a Filipe Teles, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro e especialista no tema da Reforma da administração local na Europa