Em busca do tempo perdido

Nessas páginas que se tornaram célebres, o sabor de uma madalena tomada ao pequeno-almoço resgatava memórias de uma infância em Combray, em casa da tia Léonie, e aquele que seria um prosaico pequeno-almoço transforma-se numa evocação de um tempo perdido e que apenas a memória pode resgatar. Deixem-me que partilhe convosco, amigos proustianos, a evocação com que me deparei hoje, capaz de rivalizar com a madalena do nosso amado Marcel: “Tomando o café da manhã, lembrei-me, ao sabor da minha memória, de algumas políticas sectoriais empreendidas por este Governo: a Escola a Tempo Inteiro, a compilação das Leis Laborais (fragmentadas durante mais de 30 anos), o aumento dos recursos na Investigação Científica, a batalha pela Igualdade de Género, a vacinação gratuita contra o Papiloma responsável pelo cancro do colo do útero (…). . Como o café da manhã não é milagreiro e eu queria sistematizar políticas e resultados objectivos, voltei para o meu lugar de trabalho (actualmente em casa) e percorri alguns sites ministeriais e institucionais à procura de elementos que me permitissem fazer um rápido ponto da situação do trabalho efectuado pelo actual Governo, nas diversas áreas.” O seu a seu dono: é de Vera Santana esta evocação laboriosa, à qual, porventura, apenas faltará a sua madalena, que bem poderia ter sido substituída pelo português papo seco, já que, como bem diz, “o café da manhã não é milagreiro” e quem começa o dia a evocar “o Papiloma” cedo ou tarde sentirá azia.