Feliz aniversário, Liberdade!

Ainda me arrepio com as histórias, as músicas e os relatos de quem viveu a guerra e a revolução.

Com os documentários, as reconstituições cinematográficas e as imagens daquele dia inicial inteiro e limpo.

Com a coragem daqueles militares, que arriscaram a liberdade e a vida para que todos pudéssemos ser livres e – finalmente – viver.

Com a existência clandestina dos bravos da resistência antifascista.

Com a realização daquela alegada utopia, que na madrugada que todos esperavam emergiu das trevas e limpou o céu.

Com o privilégio que foi nascer em democracia, sem nunca, de forma alguma, ter estado sujeito à censura, à perseguição ideológica, à prisão arbitrária, à tortura ou à morte às mãos de um qualquer carrasco da PIDE.

Poucas coisas me alarmam, tão intensamente, como a ideia de vivermos hoje um tempo em que uma ruidosa minoria decidiu sentir saudade de um tempo que não viveu.

Um tempo de cofres cheios de fome e miséria, de analfabetismo e pés descalços, de isolamento e ignorância, de guerra e barbárie.

Um tempo sem liberdade de expressão, sem pluralismo ou democracia, sem escolhas, sem direitos, sem liberdades ou garantias.

Sem oportunidades, sem esperança e sem futuro.

Elitista, viciado e corrupto.

Sentem saudades de quê?

De um regime que decidia que livros se liam, que músicas se ouviam, que temas eram notícia e que escândalos eram abafados?

Saudades de quê?

De falar às escondidas?
De viver com medo?
De ter uma empregada em vez de uma companheira?
De ser monitorizado por uma polícia política?
Do Tarrafal e do Aljube?
Da tortura e da execução sumária?

Esforço-me por compreender, mas não chego lá.

Não consigo perceber o que vai na cabeça de alguém que, vivendo em democracia, prefere abdicar da sua liberdade em nome de uma alternativa autoritária e castradora.

Não consigo perceber o encanto do regime musculado, da perseguição da diferença, da imposição do pensamento único.

E menos percebo quando me deparo com as propostas dos herdeiros do Estado Novo, que se batem pelo regresso da miséria, da censura e da violência.

Como é possível, pergunto-me, preferir essa indigência aos defeitos da democracia?

Cinquenta anos depois, ainda não cumprimos Abril. Porque Abril é e será sempre um processo em curso.

Porque a construção da democracia faz-se todos os dias e, ao contrário daquilo que acontece em ditadura, existe sempre margem para evoluir e melhorar.

Alcançamos inúmeras vitórias, na Saúde, na Educação, nos direitos civis ou na protecção social, mas ainda temos vários problemas por resolver, na justiça, na economia ou na gestão da coisa pública.

Ainda assim, não existe comparação possível.

Porque todas as alternativas são piores que a democracia, e a ditadura é a pior de todas.

Mas eles andam aí, reforçados na Casa da Democracia que desprezam, a escrever livros em que exigem mulheres recatadas e do lar, disponíveis para ser saco de pancada porque, imagine-se, não se queixavam.

E é também por isso que Abril está e estará sempre em construção.

A luta continua, sempre, e nunca podemos baixar a guarda.

Porque o estado a que isto chegou pode sempre piorar.

Mas está nas nossas mãos evitar que isso aconteça.

Regressar ao passado é que nunca poderá ser opção.

Nunca.

Jamais.

Feliz aniversário, Liberdade! 25 de Abril, SEMPRE!

Comments

  1. JgMenos says:

    O que tu dizes do passado é o típico restolho do abrilesco ignorante e acrítico,
    Do idiota que vê o passado na circunstância de hoje, acrescida de cinquenta anos de calúnia organizada,
    Do imbecil para quem centos de milhares de portugueses expulsos de suas casas e retornados são um qualquer acto de justiça.
    Do humanista para quem o massacre dos africanos que serviram sobre a bandeira portuguesa é nota de rodapé apagada da memória.
    Do libertário que finge desconhecer que Abril cedo trouxe mais presos políticos dos que os que achara.
    Goza a liberdade que importa que seja de todos e deixa-te de julgar um passado que, ou não conheces ou no qual só buscas, como tantos outros, o que dê suporte à mediocridade desta democracia.

    • Tuga says:

      Estimado Salazarento menor

      Muito obrigado neste dia, pela defesa da ditadura de Salazar. Com o teu curriculum pidesco és a pessoa indicada para o fazer.

      Que os que ainda têm dúvidas da miséria salazaresca o teu ódio a tudo o que cheire levemente a democracia é completamente esclarecedor.

      Que tenhas uma comemoração dos 50 anos do 25 de Abril com muita azia

    • POIS! says:

      Pois tá bem!

      Bem quer Vosselência estragar a festa mas…

      Passaram 50 anos e o regime salazaresco continua morto e enterrado!

      Completamente morto!

      Completamente enterrado! (1)

      (1) Mas a democracia é generosa, e tem permitido que os salazrescos que restam vão passando o seu tempo brincando com uma imitação em plástico do Oliveira da Cerejeira, conhecida como o Venturoso Quarto Pastorinho.

      É uma estratégia para evitar doenças do foro psiquiátrico. Depressões e coisas assim.

    • As casas não eram deles, que parte é difícil de perceber? Quem é que deixou lá os colaboracionistas?
      E porque é que hoje ainda é igual?

  2. Paulo says:

    Pena esquecer a Rua do Heroísmo e Peniche

    • JgMenos says:

      Não esqueço não!
      Não fora o 25 de Novembro e iria lá parar, senão a um cemitério mais próximo.
      Cambada de cretinos que tudo definem negando que que um país com um império defrontava outros impérios que por cá cultivaram os seus lacaios, que ainda por cá os há, e que à falta de Ultramar andam entretidos com a Ucrânia e Gaza.

      • Betinho says:

        Jgmenos

        O que é o ultramar?

        Explica por favor porque só tenho 10 anos e ninguém me consegue explicar

        • POIS! says:

          Pois, até porque, quando eu era pequenino…

          …pensava que o “ultramar” era uma praia onde só se podiam banhar os ultras.

          Uma espécie de, que estância só para salazarescos e tal, que assim podiam mergulhar as partes no oceano sem risco de estarem conspurcadas pela “ralé”.

          Mas depois vim a saber que eram uns sítios em África onde o regime proporcionava a muitos jovens umas longas férias polvilhadas de excitantes “safaris”, muitas “cucas”, marisco à discrição e acesso fácil a raparigas coloridas.

          Mesmo assim, muitos recusavam a oferta, desculpando-se com o mau cheiro das zebras. Mesmo assim, preferiam rumar a França às excitantes praias da “Côte du Bidon”.

      • É só impérios por todo o lado, menos os que nos dita a política, a economia, e até o exército.

      • Santiago says:

        Pois, na Rua do Heroísmo estavas do lado de dentro e foste largado em Lantemil não foi seu PIDE de merda?

  3. Não tem muito que perceber, imaginam-se a sair por cima num passado mítico em que tudo era a preto e branco e alguém muito sério tratava das complexidades da vida e da sociedade. Não é assim tão diferente de quem acha que o paizinho americano e a mãezinha europeia tratam do nosso bem-estar sem termos nada a dizer sobre o assunto; minto, dizer podemos, não serve é para nada, mesmo quando a opção única é o declínio culpando tudo o resto interna e externamente.
    Vai-se a ver, democracia e autocracia no sentido do blá blá e da cruzinha não fazem nada só por si.

  4. JgMenos says:

    As trombas na tribuna e bancadas a ouvir o discurso do Ventura, foi presente maior neste dia, que é o do meu aniversário.
    Recordo que há 50 anos, estando na tropa, disse ao telefone à minha mãe: «a melhor prenda que os militares me podiam dar»!
    Hoje digo: obrigado Ventura, as tuas palavras foram a melhor prenda que me podiam dar.
    Viva Portugal!
    Merda pra esquerdalhada falsa e idiota!

    • POIS! says:

      Pois cá está!

      É só conferir com o meu comentário das 14:28.

      JgMenos está mesmo muito entretidinho a brincar com o salazarito de plástico, vulgo, Quarto Pastorinho.

      É a única coisinha que ainda o vai animando.

    • Tuga says:

      Salazarento menor

      “Recordo que há 50 anos, estando na tropa, disse ao telefone à minha mãe: «a melhor prenda que os militares me podiam dar»!”

      Também chamavam os PIDES para o serviço militar ?
      Mas olha que bem tinham precisado, para aumentar o efectivo porque os teus colegas foram de uma completa incompetência.

      Mas estavas a fazer queixinhas à mamã, cheio de medo, não foi ?
      E agora vens para aqui fazer queixinhas ?

      • JgMenos says:

        Estás a competir com o ‘Pois’ em cretinice?
        Entretenham-se…

        • Tuga says:

          Não, estou a fod….. a cabeça de naxi, repugnante PIDE Salazarento.
          Percebeste ou queres que faça um desenho?

        • POIS! says:

          Pois a Suprema Asina Salazaresca, desta vez, “afinou”?

          Então é porque estamos a acertar “na mouche” (situada mesmo no centro do mular bestunto)!

  5. “Não consigo perceber o que vai na cabeça de alguém que, vivendo em democracia, prefere abdicar da sua liberdade em nome de uma alternativa autoritária e castradora.”

    Vai a percepção (fundamentada ou não) de que iriam pertencer ao pequeno grupo dos que exploram, censuram e torturam os outros.

    • JgMenos says:

      Boa interpretação do comunismo e do seu derivado fascismo!

      • Tuga says:

        “Boa interpretação do comunismo e do seu derivado fascismo!”

        Era isso que te ensinavam na escola da PIDE em 7 rios, repugnante Salazarista ?
        Mas os PIDES eram fascistas mas escondiam isso aos trouxas, falando no Estado Novo e outras tretas.

        Tu e os outros como tu do partido do botas ou do seminarista nazi deveriam ficar a pensar nos milhares de pessoas que estiveram hoje na manifestação.
        Curioso como a extrema direita esta sempre ligada de uma maneira ou outra à Santa Madre Igreja

      • POIS! says:

        Pois!

        O Oliveira da Cerejeira, que tinha sempre uma foto do Mussolini em cima da secretária, que era uma ajuda importante para amenizar as longas noites de trabalho á luz do candeeiro a petróleo a sachar para alimentar a Nação, escreveu-lhe um dia um postalinho muito cumovente que dizia:

        “A tua foto, Mussolini,
        Tenho na escrivaninha,
        Todos os dias por ti rezo,
        P’ra que ganhes a guerrinha.

        ‘Inda bem que derivaste,
        Para o teu lindo fascismo.
        Mas por cá, p’ra disfarçar,
        Chamei-lhe corporativismo”

      • Mas só porque quando é aos outros não conta, e o que as pessoas se chamam é realidade.

  6. JgMenos says:

    Começo a suspeitar de que se trata de uma parelha, casal, ou alteregos…

    • Tuga says:

      A suspeita era a ferramenta de trabalho da PIDE.
      Estas doutorado nessa materia

    • POIS! says:

      Pois suspeite Vosselência à vontadinha!

      Mas não! Não há aqui nenhuma relação, muito Menos da de Vosselência com o seu “amigo” fuzileiro.

      A propósito: já lhe passou a arreliante dor das costas? Vá lá! Ainda bem que fizeram aquelas recriações do MFA. Deve ter andado por lá entretido…

      • POIS! says:

        No segundo parágrafo deve ler-se “muito Menos do tipo da de Vosselência com o seu “amigo” fuzileiro”.

  7. Parabéns para Portugal!

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