homens-livro

O trânsito de um planeta não é coisa inofensiva. Vénus atravessou-se diante do sol e levou-nos Ray Bradbury, irrequieto cronista dos mundos fantásticos.

Bradbury, que era também “Duke of Diente de León” do literário Reino de Redonda, ensinou-nos que, na história da humanidade, sempre haverá momentos em que seremos chamados a salvar do fogo aquilo que amamos, que sempre teremos de correr riscos para defender a nossa liberdade e a nossa memória, e que é nesses momentos que nos definimos como gente. Quando, como Montag, questionamos a ordem que nos dão, e resgatamos das cinzas um livro chamuscado, e nos atrevemos a lê-lo e a aprendê-lo de memória, salvando-o uma vez mais, desta vez do esquecimento e da morte.

Por mim, esta noite tenciono desligar o computador, ir até à janela, procurar algum resto de cometa, alguma cintilação longínqua, e acenar-lhe uma despedida.

Adeus, Ray, boa viagem.