NIT: A ignorância é atrevida

E agora, para algo completamente diferente: a (ou será o?) NIT, uma coisa que julgo ser da TVI (ou será da Nova Gente?) e o seu colunista, o engenheiro civil Nuno Bento. Sim, o Aventar também pode ter o seu momento cor de rosa.

O senhor engenheiro escreveu umas coisas sobre os U2 nessa tal NIT. Gostos não se discutem. Não se discutem? Discutem. O homem não gosta dos irlandeses? Está no seu direito e não é o único. Agora, se vai escrever sobre um tema é conveniente saber do que está a falar e estar devidamente informado. Ah, mas o senhor é engenheiro, não é jornalista. Pois. Pode servir para atenuante. Só não serve para atenuar a ignorância. A primeira ao considerar, vou citar: “…a História foi cruel com Elvis. Hoje, infelizmente, não lhe damos o devido crédito“. Quem? Só se for o engenheiro. Na vida real e no mundo da música o crédito de Elvis é só o de génio e a história só o confirma – aliás, recentemente, entre filmes, documentários e versões de terceiros quase se pode dizer que, afinal, Elvis está vivo.

Não satisfeito, confunde “residência” em Vegas com 12 concertos únicos (que espero possam ser mais já que o certo é os 12 esgotarem em menos de uma hora, a exemplo de todas as digressões da banda). Não é nem uma “tour” (infelizmente) nem uma residência (interpretando o termo residência como é e sempre foi em Las Vegas). E, cereja no topo do bolo, meteu os pés pelas mãos na questão Larry Mullen Jr. Ora, foi exactamente por causa do estado de saúde de Larry que não foi realizada a Tour Achtung Baby 30 anos que estava prevista para 2022 e 2023. Nem o articulista informa que, para os concertos de Vegas, quem escolheu o baterista foi exactamente Larry Mullen Jr. A ignorância é tão atrevida que nem sabe (ou prefere omitir) da presença de Larry Mullen Jr, acompanhando Bono, nalguns dos eventos de apresentação do livro de Bono – não, não existe qualquer divisão na banda. A não ser que a NIT seja uma espécie de TV7 Dias em versão 2.0…

A escolha de Las Vegas para estes dois concertos não foi por acaso. E é público, nas inúmeras entrevistas que os quatro deram nos últimos meses e em especial (por motivos óbvios) Bono. Não existir a possibilidade, por motivos de saúde, de se realizar a esperada tour dos 30 anos de Achtung Baby, acrescido da vontade de dar algo aos fãs da banda que andam há anos a pedir mais concertos e, principalmente, a proposta colocada em cima da mesa pelos homens da MGM: inaugurar o mais futurista espaço de concerto do mundo com uma versão moderna daquela que é considerada a mais arrojada tour alguma vez feita, a Zoo TV Tour. Uma proposta que pretende oferecer aos U2 a possibilidade de fazer algo nunca antes feito. Já agora, no universo dos U2 as palavras “proposta” e “milionária” para catalogar este desafio da MGM é algo exagerado: os U2 vão receber 10 milhões de dólares pelo conjunto dos concertos e 90% da bilheteira ficando, a seu cargo, a produção. Se a coisa for dividida pelos 12 concertos previstos não é mais do que a receita de bilheteira de 3 concertos normais dos U2 numa tour nos EUA.

Não vou entrar pelas questões de gosto. Nem tão pouco pelas barbaridade ditas sobre os últimos trabalhos da banda. Quanto ao legado, o senhor engenheiro não se preocupe, o legado dos U2 está muito para além da sua música. Está em África no combate à SIDA/AIDS, está em Sarajevo (vá mas é ver o documentário “Kiss The Future”) e está no combate pelo perdão da dívida dos países do terceiro Mundo. Esse é um legado que nenhuma banda de rock até hoje igualou. Em termos de legado musical ele é tão vasto que nem vale a pena discutir. Uma coisa é certa, em Portugal a ignorância é mesmo atrevida… Hasta Las Vegas, Baby!