tarde de Agosto

Há um instante, quando os dias ainda são longos e o sol escalda e Agosto parece interminável, em que uma rajada de vento sopra com violência inesperada, os ramos dos salgueiros agitam-se e murmuram uma queixa, um arrepio estremece-nos, e percebemos que é o fim do Verão que se anuncia.

Poderão ainda as tardes de calor suceder-se, o rio continuar a chamar-nos com a sua calmaria cálida, mas já conhecemos o segredo do fim das coisas e esse saber não nos amargura nem entristece.

As crianças saem da água a tiritar, as mães apressam-se a cobrir-lhes os ombros com toalhas, passam-lhe para as mãos o pão com fiambre e o leite achocolatado, tudo é igual ao que era há vinte anos, e sabemos que a seguir virá Setembro com a sua melancolia, o mês dos regressos e das despedidas, o mais belo de todos.

Deixamos as margens do rio, de regresso à vila, e caem as primeiras gotas, grossas e frias, um bálsamo após a tarde abrasadora. A terra húmida perfuma o ar da tarde e o mundo respira placidamente. Por instantes podemos fechar os olhos e acreditar que uma secreta harmonia se estende a todas as coisas.