Os coitadinhos

Isto não é sobre futebol. Melhor, isto não é só sobre futebol.

Não gostei de me sentir melhor porque a seguir à derrota do meu Porto, o benf…os coisos empataram. Eu sei que aqui há a vantagem de continuarmos a ser os únicos que só dependemos de nós próprios. Mas os falhanços dos outros, nem podem desculpar nem devem relativizar os nossos erros. Apesar do contrário, pelo menos para mim, já ser perfeitamente aceitável. Ou seja, as vitórias dos outros podem e devem motivar-nos a ser melhores. A conseguir mais. A transcender-nos, elevando o nosso próprio nível de exigência.


E porquê esta diferença? Porque em quase tudo na vida, é possível fazer uma valorização das opções disponíveis. É possível encontrar as correctas e as incorrectas. É possível achar o bom e o mau caminho (sem qualquer sentido religioso). E é essa escolha que nos explica e configura. Podemos definir-nos pela negativa, ou seja, não precisamos de melhorar, basta não sermos tão maus como outros. Ou podemos procurar evoluir e tentar melhorar. E aí, o facto dos outros conseguirem melhor, deve ser um incentivo e um exemplo para também o fazermos.


É esta tendência tão portuguesa de nos acomodarmos ao papel de “coitadinho”, de vítima, de prejudicado, de explorado que nos amarfanha. Perdemos há muito o nosso carácter, o nosso orgulho. Vivemos acomodados num lamaçal de mediocridade. E estamos bem com isso porque olhamos para o lado e vemos gente a fazer pior que nós. Mais, acreditamos e gostamos de acreditar em quem nos diz que a culpa não é nossa. A culpa é de quem (identidade a definir consoante o momento) não nos retirou do pântano e não nos deu o paraíso de mão beijada. Como se tivéssemos nascido só com direitos. Como se tudo pudesse e devesse ser nosso só pelo singelo facto de existirmos.


Como a vida encerra uma realidade pouco dada a estas ilusões, passamos a ser terreno fértil para todas as teorias que precisam de coitadinhos para sobreviver. Não há nada que nos saiba melhor que podermos desculpar-nos com os monstros e fantasmas que nos querem impingir. Alguns até podem, realmente, existir. Mas o seu verdadeiro tamanho nunca poderia explicar a nossa própria pequenez.


Posso não o conseguir, mas tentarei sempre recusar-me a ser o coitadinho da equação. E lutarei, também sempre, contra aqueles cuja existência depende que aceitemos ser coitadinhos. 

Comments

  1. POIS! says:

    Sobre este lindo post,
    Direi apenas; ora pois.
    É mais uma linda chatice,
    A chatice número dois.

  2. abaixoapadralhada says:

    Caro Osorio

    Essa dos “coitadinhos” é uma cassete que eu julgava exclusiva do estimado Sa Lazarento JgMenos.
    Ou as fronteiras ideologicas entre os liberoids e os Sa Lazarentos, estão a ficar cada vez mais ténues ?

  3. Paulo Marques says:

    Portugal não está habituado a fazer de coitadinho. Pelo contrário, está habituado a mutilar-se por não cumprir objectivos de sucesso definidos por outros que escrevem as regras de como os conseguir. O “pobre, mas honrado” do último século não passa disto, avaliarmo-nos pela resposta dos outros, com a agravante de agora aceitar tudo para ficarmos bem na fotografia. De Jerónimo a Ventura, não sai disto.

  4. Rui Naldinho says:

    A culpa do FC Porto ter perdido foi do Sócrates. Tal como a culpa do empate do SL Benfica, também foi do 44. Eu diria mais, o empate no estádio Dom Afonso Henriques, terá tido a mão do Pinóquio. Ou será que foi o nariz do dito?
    Estais a ver de quem eu estou a falar?
    O tal, de todos os canais. Aquele mafioso igual a muitos outros, a quem por norma lhe chamam CDT(Culpado Disto Tudo), segundo rezam as crónicas de escárnio e mal dizer, na CS de reverência santíssima.
    Os factos demonstram que depois do CDT ir de cana e sair de cena, mesmo atribuindo-lhe as culpas de todos os males, os outros mafiosos tomaram conta do barco e continuaram a fazer o que antes, o CDT fazia. Negociatas.
    Moral da História:
    Nós até somos um povo exigente. Não queremos um vira latas ou um pelintra qualquer. Escolhemos sempre mafiosos à nossa medida. E gostamos deles.

  5. Albino manuel says:

    Se há calimeros neste país são os do Porto. E se comem bem por conta da lamechice!

    • Paulo Marques says:

      Lavaste as mãos antes de atirar as pedras? Cuidado, não basta lavar o dinheiro entregue ao Aves, estamos em pandemia.

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