A Terra fotografada pela nave espacial Cassini a partir de Saturno

Ali, naquele milésimo de pixel ao centro, fica o Afeganistão. Uns microns ao lado, decorre o conflito israelo-árabe. Por ali, mais pixel, menos pixel, fica o petróleo, o ópio, os metais preciosos e demais riquezas, a par com os países ricos, pobres aspirantes a ricos, pobres com recursos imensos e simplesmente pobres. Visto à distância de Saturno, todo este fervilhar de tensões, à escala humana, tem relevância nula. Ainda menor é a significância de cada acção individual.

A partir do Céu, que afinal não fica por cima das nuvens mas deve ficar mais longe do que Saturno e além, ou já o teríamos encontrado, tudo será ainda mais pequeno. Porém, Alguém olha individualmente para o que cada um faz aos domingos às 11 horas ou aos almoços durante o mês que começa no final do Shaban. O que justificou e continua a justificar a existência de muitas guerras, nas quais o petróleo, o ópio, os metais preciosos e demais riquezas não são um mero apontamento.

Já agora, a Lua também está na fotografia. É a protuberância no lado direito da Terra.

Comments

  1. Alexandre Barreira says:

    …não haja quaisquer dúvidas………somos uma “migalha”….nesta imensidão…..!!!

  2. Luís Lavoura says:

    A Terra não parece redonda, mas sim com a forma de um losango. A que se deve isso?

    • j. manuel cordeiro says:

      A Lua, ao lado da Terra, faz um acrescento. O resto deverá ser distorção óptica.

      • POIS! says:

        Sim, mas há outra tese.

        Dizem que é por haver aí muita besta quadrada a defender que a Terra é plana. As duas coisas juntas, á distância, criam este efeito.

        Embora a sonda Cassini nunca tivesse existido, bem entendido. Esta foto foi tirada na discoteca Jamaica antes da pandemia.

  3. Ana Amado says:

    É verdade. Já várias vezes pensei na evolução das “significancias” da vida (agora e ao longo dos séculos e milénios) e de como lhes vão mudando o valor.
    Do ponto de vista do meu umbigo, muitas delas custam-me e revolta-me por vezes, mas nós somos assim… todos temos umbigos.

  4. Filipe Bastos says:

    Devíamos lembrar-nos disto mais vezes. Mas a condição humana cola-nos às nossas ínfimas existências, como quem aproxima do olho um dedo e este torna-se maior que tudo.

    Nada do que pensamos, fazemos ou desejamos significa ou vale realmente nada. Só fazemos de conta que sim.

  5. Paulo Marques says:

    Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada “superestrela”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali – em um grão de pó suspenso num raio de sol.

    A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.

    As nossas posturas, a nossa suposta auto importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.

    A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
    Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o "pálido ponto azul", o único lar que conhecemos até hoje.
    — Carl Sagan