What?? Santos Silva e EDP?

Alguém me pode explicar a que título é que o ministro dos negócios estrangeiros português foi inaugurar a nova sede da EDP no Brasil???

 

Os saudosistas do tempo que não viveram

Existe uma faixa etária, dos 30 aos 45 anos, que anda pujante e frenética não só nas redes sociais, como, também, nas caixas de comentários um pouco por todo o lado, a defender tempos de outrora que nunca viveram.

Partilham e invocam frases de Salazar, textos de Marcelo Caetano, enaltecem a PIDE. Defendem, acerrimamente, o bom que seria se houvesse alguém a mandar nisto e que pusesse tudo na ordem. Sendo comum manifestarem-se com ódio – que os motiva -, desde o vocabulário até às soluções que preconizam.

Acontece que o ódio tem sempre uma razão para existir. Não nasce por capricho. E é um mercado altamente lucrativo. Porque arrecada seguidores que sofrem de um dos mais graves efeitos do ódio: a cegueira. O que permite o fim que se pretende: a manipulação.

É a cegueira que leva a partilhar tudo nas redes sociais, sem qualquer filtro crítico. Porque se certa frase satisfaz o ódio, não importa se é verdadeira ou falsa. Nem sequer o que ela realmente significa e qual o perigo que representa, até para o próprio.

Donde vem isto?

Das distorções de oportunidades e de méritos na sociedade. Da cultura da cunha e do frete que vem dos tempos da Monarquia. Dos “carreirismos” partidários, das influências, e das dificuldades criadas para suscitar facilidades compradas,  e que representam muito do lodaçal em que se têm afundado as diversas instituições da República.

Em cada adjudicação directa de escolha tribal; em cada obra faraónica rotulada de “desígnio nacional” e que endivida o país; em cada mega-processo inconsequente; em cada crime prescrito; em cada salário indigno contemporâneo com fortunas ganhas de forma ilícita e impune. Em cada qualquer uma destas traições, ou outras, está o descrédito da nossa Democracia.

A origem do ódio que leva à existência dos saudosistas do tempo que não viveram – fervorosos defensores do autoritarismo e do líder providencial -, não está nos mercadores de ódio que prometem o paraíso à custa da liberdade. Mas, sim, de quem traiu, e trai, a promessa de liberdade – económica, social, cultural, civil, etc. – em tempos de Democracia e se diz democrata.

Boatos à la Observador

O rigor. O fact check. A pergunta onde cai o ponto de interrogação.

Hoje esgotámos os recursos naturais da Terra para 2021

Este ano, apenas foram necessários sete meses para que a humanidade esgotasse os recursos naturais que o planeta Terra consegue produzir num ano. A partir de hoje estamos a viver acima da biocapacidade da Terra. O Dia de Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day) deste ano chega a 29 de Julho, três semanas antes do que em 2020. Em 1970, ele acontecia em Dezembro. Desde então, cada ano acontece mais cedo.

Actualmente, seriam necessárias 1,7 Terras para satisfazer as nossas balofas necessidades de consumo.

Enquanto não for enterrado este absurdo paradigma de desenvolvimento com crescimento infinito e estancada a sede insaciável de negócio, vamos continuar a destruir um património que não é nosso. Impunemente. Criminosamente.

quatro décadas de merda

Uma mulher de Portimão, presa desde Agosto de 2019 viu a sua pena ser suspensa pelo Supremo. Com 67 anos, estava condenada por tentativa de homícidio do marido, um acto que cometeu em defesa da sua vida e dos seus filhos. Condenada inicialmente a seis anos, acabou por ser libertada esta semana. Mas pouca será a verdadeira liberdade. [Read more…]

O funcionário da Salsa que foi despedido por criticar o presidente da Câmara Municipal da Trofa

Primeiro, vamos aos factos.
Um funcionário de longos anos da Salsa, quadro da empresa que fora responsável pelas vendas no leste da Europa, é avisado de que não poderá continuar a trabalhar na empresa enquanto escrever no seu blogue pessoal contra o presidente da Câmara Municipal da Trofa.
O funcionário recusa a intromissão da entidade patronal na sua vida privada e a coisa resolve-se com a sua saída da empresa e uma indemnização que atinge os 5 dígitos.
O funcionário é o João Mendes, meu amigo e autor do Aventar. O blogue é o E a Trofa é minha.
Perguntei ao João se podia escrever sobre um assunto que já conhecia há algum tempo mas que ele acabara de assumir sem rodeios no Facebook. Mostrou-se preocupado com a minha segurança, mas eu não. Assim como assim, não há melhor seguro de vida do que este.
Depois dos factos, vamos às considerações.
A Salsa tem 120 lojas próprias e está presente em centenas de outras lojas em 35 países espalhados por todo o mundo. Conta com mais de mil funcionários, numa actividade que, para além da produção própria, inclui a prestação de serviços a marcas externas como a Ralph Lauren, a Zara ou a Massimo Duti.
O que leva uma empresa deste calibre a subjugar-se desta forma ignóbil aos pequenos caciques do concelho onde está sediada?
Como é que uma empresa mundial consegue ser ao mesmo tempo tão paroquial e tão pequenina na relação com o poder político da terrinha? [Read more…]

Os artistas de circo na hora da morte de Otelo

Capaz de defender tudo e o seu contrário: eis o bufão-mor.

Honra lhe seja feita:

   A morte do Otelo e a posterior decisão de António Costa de não decretar luto nacional, teve o condão de pôr os mais acérrimos críticos do primeiro-ministro a beijar-lhe os pés.
   Ler o João Miguel Tavares, o pinscher da opinião política, a louvar Costa por esta decisão, não só é lindo (o amor tudo supera), como é, ao mesmo tempo, embaraçoso. É preciso lembrar que esta gente é a mesma que, há uns meses, depois do inconsequente derrube de estátuas, veio defender, com o ar mais paternalista do mundo, que “é…preciso…enquadrar…na…época…não…podemos…julgar…com…os…olhos…de…2020…o…que…se…passou…em…1920!”. Teriam razão, se, agora, não se prestassem a fazer estas figuras quando o tema é Otelo, usando, como combustível, as FP-25 (e isto também é gente que tem zero para dizer acerca das spínoladas e do MDLP).
   Ainda assim, é natural: a postura de reaccionarismo, típica da direita em Portugal, leva-os a cair neste ridículo vezes sem conta. Não se cuidem, não…

Fotografia: José Carlos Carvalho

E ainda se fala mal da Justiça

Afinal a Justiça é bem mais eficaz do que a Banca: olhem como Joe Berardo arranjou património para cumprir as suas obrigações.

Juventude Xuxalista

Na primeira imagem, publicação do BE do dia 26-07-2021; na segunda, publicação da JS de hoje. A imitação não é de hoje, basta seguir as publicações.

 

 

 

 

 

 

 

A Juventude Socialista sente necessidade de imitar as abordagens do Bloco de Esquerda, porquê?

Será por albergarmos mais jovens como partido, sem precisarmos de “jotas”? Ou será uma forma de travestismo político, meramente para captar jovens para a agremiação e eleitores para o PS?

Como se sentem os jovens da JS quando percebem que o PS é radicalmente diferente da sua “jota”? É que a social-democracia da JS passa, rapidamente, a social-liberalismo no PS. Se calhar, é por etapas e passar de um para o outro é evolução.

No Bloco não precisamos de ter uma “jota” a defender X perante uma parte do eleitorado, enquanto o partido age e governa de forma Y. Não é congruente que a JS seja, e cito, “pela soberania e libertação do povo palestiniano” e que o PS, em plena Assembleia, vote contra uma proposta do Bloco que propunha que o governo… do PS… reconhecesse o Estado da Palestina (ver imagem abaixo). [Read more…]

Perigos de má memória

Não tardou que a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, servisse para dar ânimo à teoria que há mais condescendência moral com os excessos da Esquerda, do que com os da Direita.

Desta feita à boleia das FP-25, e do indulto presidencial a Otelo Saraiva de Carvalho e companhia. Para chegar ao desejado destino de como a Extrema-Esquerda foi ou é mimada com condescendência jamais expectável em relação à Extrema-Direita.

Esquecem tais teóricos – ou, conforme os casos, querem fazer esquecer -, que Otelo Saraiva de Carvalho esteve 5 anos preso numa cela. Enquanto que, por exemplo, António de Spínola ou Alpoim Calvão, líder e responsável operacional, respectivamente, do MDLP, nunca responderam perante a justiça pelos actos bárbaros de assassinato e de destruição praticados por aquela organização terrorista.

Isto, para não falar no terrorismo castrador e assassino que a PIDE levou a cabo durante décadas, a bem de uma nação orgulhosamente só, e pelo qual ninguém respondeu.

Pelo contrário: houve quem fosse premiado por “serviços excepcionais e relevantes prestados ao país”.

Pode-se pensar que esta espécie de calimerismo de que há mais condescendência com os excessos da Esquerda do que com os da Direita, é apenas mais do mesmo. Mas, nos dias de hoje, não é apenas isso. E não é, pelo risco de ser parte de algo muito mais pernicioso em construção: o revisionismo que aproveita aqueles para quem a memória é inimiga.

A Culpabilização da Vítima

Mariana Seabra da Silva

Em pleno ano de dois mil e vinte e um, ainda se ouve muitas pessoas a proferir que a violação acontece fruto de acções, comportamentos ou caraterísticas específicas da vítima. É impressionante que, mesmo quando os indivíduos se deparam com uma quantidade abismal de casos de violação no mundo, no país vizinho e no próprio país, ainda hajam pessoas a culpabilizar o sucedido pelos sujeitos que passam pelo próprio trauma sexual.

Até quando vamos continuar a culpabilizar a vítima por ter sofrido de assédio, violação ou trauma sexual? Já não basta que as vítimas tenham de lidar com a própria experiência traumática, por si só? Ou a sociedade também tem de cair sobre os ombros das mesmas, dizendo-lhes que as responsáveis por aquilo ter acontecido são elas?

Até quando vamos continuar a contribuir para um discurso que perpetua as diferenças e violência de género, a violência doméstica e no namoro? Até quando?

A violação não é culpa da vítima, é de quem viola. A violação não acontece pela forma como a vítima fala ou veste, se tem mais ou menos tecido no corpo. A violação é um atentado aos Direitos Humanos, é um boicote à Liberdade e à Dignidade Humana.

Empenhemo-nos na mudança dos discursos sociais em casa, no café, com amigos, colegas de trabalho, familiares e simples civis que se encontram no passeio, principalmente no que respeita ao fenómeno da violação. Empenhemo-nos em educar os homens e as mulheres da sociedade para que a violação não seja vista como algo normal e justificável. Empenhemo-nos em consciencializar as crianças e jovens, adultos e idosos, que o consentimento é chave principal para o respeito da vontade de cada um, aceitação e empatia pelo outro. Passar a mensagem de que precisamos de saber como o outro pensa e sente, os seus limites e barreiras, para sabermos o nosso lugar.

Por isso, espero que aprendamos a conhecer melhor o nosso lugar no mundo.

Otelo – mais uma vaca no milho

Na minha terra natal de Vale de Cambra utiliza-se amiúde a expressão “mais uma vaca no milho” para definir algo que é rotineiro ou previsível. Para mim a morte de Otelo é apenas isso, mais uma vaca no milho. Qualquer pessoa sensata sabe do seu papel no 25 de Abril e nas FP-25 e seus crimes horrendos. Mas a morte de Otelo não me causou nem comoção nem alegria. É um simples rodapé.
Preocupante é este padrão e mais esta prova de que pouco se apurou naquele período revolucionário, poucos foram responsabilizados e que no fim se seguiu o caminho fácil deixando correr várias verdades e aplicando-se pouca justiça.

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Quem tudo quer, tudo Sardenha

Imagem do JN

A displicência com que o capitalista-mor, ou Rei Sol-Salgado do Reino Lusitano, “descansa” na Sardenha devia revoltar cada um de nós. 

Depois de ter sido dispensado de estar presente em tribunal, face às circunstâncias da pandemia de covid-19, Ricardo Salgado foi visto a passear, calma e pacientemente, vestido com o seu linho principesco e de pochete na mão, ao lado da sua presumível esposa, na boa, velha e barata ilha da Sardenha. Como é óbvio e presumível, viajaram em segunda classe, sendo que chegados a Itália ficaram hospedados num radical hostel, partilhando um beliche num quarto com mais oito pessoas, em regime de meia-pensão.

É até curioso – caso de estudo, quem sabe, mas deixo para a Ciência resolver – a capacidade que um pobre e humilde homem tem de pôr de lado a sua “idade avançada”, a qual o impede de comparecer em tribunal (a quarenta quilómetros de sua casa), para, no fim do mês de Julho – como toda a plebe – ir de férias para a Sardenha. Já pensamos todos no que este pobre homem sofre? [Read more…]

Hoje, fui ajudar a minha mãe nas compras

e fiz publicidade gratuita ao Pingo Doce (nada contra, mas não sou cliente, moro no estrangeiro), ao leite Matinal (não bebo leite) e à Hoffen (desconheço a marca, só conheco o conceito, porque falo alemão). Por uma boa causa. Boa? Óptima!

Otelo, liberdade e democracia

Há quem considere que Otelo foi um herói que, anos mais tarde, cometeu alguns erros. Mas Otelo não cometeu erros. Erro cometi eu, quando uma vez fechei a porta de casa com a chave metida na fechadura do lado de dentro. Já Otelo integrou uma organização terrorista que assassinou 17 pessoas, e isso não foi um erro. Porque os erros, como fechar a porta com a chave na fechadura do lado de dentro, são involuntários. Ou fruto de ingenuidade, de distracção. O que as FP-25 fizeram foi calculado, planeado, intencional. Hediondo. E a negação dos ideais de Abril.

Há quem considere que Otelo foi um simples criminoso. Mas Otelo foi nada menos que o cérebro da Revolução dos Cravos, a tal que nos libertou do fascismo opressor. Conspirou contra o regime, mobilizou militares e civis, correu enormes riscos, arquitectou o plano e dirigiu-o com genialidade, na noite de 24 para 25 de Abril, a partir do Quartel da Pontinha. Sem ele, a revolução que derrubou a ditadura poderia não ter sido possível. Com outro líder, é possível que a revolução tivesse sido sangrenta, que não foi. Otelo é, sem sombra de dúvida, um dos grandes obreiros de Abril. Da liberdade e da democracia. E o país, a liberdade e a democracia, devem-lhe muito.

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Procrastinação, submissão e cheias

Ocorrem inundações dramáticas na Alemanha e os políticos vêm debitar frases feitas e bem sonantes. Como o líder da CDU, Armin Laschet, candidato a chanceler nas próximas eleições de 26 de Setembro, como sucessor de Merkel: “É necessário acelerar as medidas de protecção climática”. Tal hipocrisia chega a ser dolorosa: durante 16 anos, no estado federal da Renânia do Norte-Vestefália (NRW), Laschet e o seu partido bloquearam uma viragem nos sectores da energia e dos transportes. Laschet sabotou a expansão da energia eólica e teimou na combustão do carvão.

Há 30 anos que os líderes políticos se recusam a tirar as palas, subjugados pelo poder dos lobbies e dos interesses das multinacionais. O número de postos de trabalho, que supostamente andaram a defender, já podiam ter sido criados há décadas em actividades económicas sustentáveis, de futuro. Mas para isso, era preciso que tivessem visão e coragem e não inércia e moleza perante a pressão dos poderosos.

Há muitos anos, perguntava Othello:

What is the matter heere?Ora bem, fazendo de Montano, respondo: por um lado, o que diz o Maio, por outro, o que recorda o Moreira de Sá. Haja Aventar.

A partida

Mariana Seabra da Silva

Hoje, dia vinte cinco de julho de dois mil e vinte e um, morreu um dos mais importantes capitães de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, deixando a dor da partida e a recordação dos seus feitos heroicos.

Numa noite longínqua, a vinte e quatro de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, os militares portugueses que formavam o Movimento das Forças Armadas, arquitectado pelo artilheiro Otelo e outros camaradas, também capitães de Abril, invadem vários lugares estratégicos do país, como a Rádio Renascença e o Terreiro do Paço, dando lugar à missão mais importante das suas e das nossas vidas: a luta pela Liberdade, o derrube do regime salazarista e o fim da Guerra Colonial.

É inegável a importância das mentes que estiveram por detrás de um acontecimento tão marcante na vida de todos, não só daqueles que vivenciaram o regime Salazarista ‘in loco’ e a sua queda, como para mim que, só ouço falar na Revolução dos Cravos em documentários, filmes ou conversas de café com amigos, familiares e/ou desconhecidos. Reconheço a liberdade que tenho como resultado da luta contínua de pessoas como o Otelo, que não descansaram até eliminar o fascismo em Portugal, para que hoje, eu, todos e todas possamos falar sobre História e pensar como esta ainda nos afecta. O que fica na memória é a lembrança de alguém que contribuiu, de forma altruísta, para a libertação do povo português e dos povos colonizados.

Apesar dos erros que cometeste, o povo lembrar-te-á pela libertação que lhe trouxeste.

Agora, “Otelo, vencerás porque o povo vencerá”.  Obrigada por tamanha inspiração, Capitão. Até um dia.

Imagem: Centro de documentação 25 de Abril, Coimbra

O 30 de Abril de 1984 e a morte de Otelo

30 de Abril de 1984 –  Morte de um bebé de quatro meses num atentado à bomba na casa da sua família em São Mansos, Évora”. De seu nome Nuno Manuel Polido Dionísio. Enquanto dormia no seu berço.

É dele e das restantes vítimas da organização terrorista liderada por Otelo Saraiva de Carvalho que me lembro neste dia. Que Deus lhe perdoe.

Até sempre, camarada, pá

1936-2021

Vais para um sítio melhor, pá.

Camarada, pá! Não se encheram Campos Pequenos com contra-revolucionários. Mas, se te descansa, há por aí muito boi à solta que a História, certamente, colocará a dar marradas num qualquer Campo Pequeno.

Independentemente das derivas ideológicas que o PREC trouxe, és e serás, para sempre, um dos fundadores da Liberdade neste Portugal, outrora, açaimado. Há coisas que nunca te perdoarei, mas tu deves saber, melhor que ninguém, os erros que cometeste. Mas sei que, no fim de contas, fica o saldo positivo do muito que fizeste naquela noite. Sem a tua estratégia, método e foco, talvez não tivesse sido possível acabar com o fétido fascismo. E isso, pá, os verdadeiros anti-fascistas nunca esquecerão.

Camarada Otelo, até um dia!

O privilégio da Psicologia

Mariana Seabra da Silva

Em Portugal, o acesso a serviços de Psicologia é pautado pela pertença a determinados grupos sócio-económicos, sendo, indubitavelmente, regido por um sistema social que beneficia pessoas com um estatuto sócio-económico mais elevado, excluindo e impossibilitando o mesmo a indivíduos que vivam em situações e condições de vida desfavoráveis.

O sistema público de acesso a estes serviços é composto apenas por mil psicólogos a nível nacional, o que parece ser um número reduzido quando se olha para os números de portugueses e portuguesas que consomem ansiolíticos e anti-depressivos, para as taxas de suicídios nos jovens, mulheres e forças de segurança, assim como para as taxas de violência doméstica e femicídio. Na prática, significa que pessoas com maior capacidade económica têm mais possibilidades de conseguir pagar consultas de Psicologia, ou serem acompanhadas em psicoterapia, por longos períodos de tempo. Por outro lado, indivíduos com menor capacidade económica, vêem-se, cada vez mais, colocados de parte no que respeita ao acesso a serviços de Psicologia, uma vez que as consultas tendem a rondar os quarenta ou cinquenta euros.

As filas de espera para consultas de Psicologia, a escassez de psicólogos e psicólogas no Serviço Nacional de Saúde, a falta de investimento em políticas públicas de saúde mental e prevenção das perturbações mentais são uma realidade bem viva que perpetua as diferenças sociais e económicas entre os indivíduos das diferentes classes sociais.

Como é que se quebra um sistema tão estruturado que mantém este ciclo diferenciador entre as pessoas? Nos dias de hoje, a Psicologia é um privilégio de poucos. Privilégio daqueles que têm um quinhão para investir na sua saúde e bem-estar. No entanto, a maioria fica à sua mercê, a tentar gerir os problemas diários, sem qualquer apoio ou suporte psicológico. A Psicologia deveria ser um direito à nascença, para todos e todas, sem excepção.

Assim, é fundamental a contratação de mais psicólogos para o SNS, não só nos cuidados de saúde primária, como nos cuidados continuados e paliativos, bem como nas organizações sociais de cariz comunitário, a criação de equipas multidisciplinares em instituições escolares e o desenvolvimento de um programa nacional de promoção de bem-estar e saúde mental.

Imagem retirada do site https://www.sns.gov.pt/

Continuar a viver, convivendo com o vírus…

Com alguma frequência vamos ouvindo e lendo, que teremos que nos habituar a conviver com o vírus, algo que a maioria dos portugueses já interiorizou e pratica diariamente, perante alguma relutância ou renitência dos responsáveis políticos e de saúde, nesta altura completamente impotentes para impor grandes restrições, que a generalidade da população não quer, até porque já suportou mais do que seria legítimo pedir-lhe.
Desde a 1ª hora que a comunicação é desastrosa, miserável mesmo, quem não se lembra dos tempos em que “não sabíamos se o vírus chegaria a Portugal”, ou das “máscaras serem ineficazes ou até contraproducentes”? [Read more…]

Neo-liberal-capital: as Marteladas bilionárias

Desde 1980 (antes também, mas marquemos o barómetro aqui, porque Thatcher+Reagan=amor infinito) que se tem assistido a um cavalgar do capitalismo selvagem, imposto pelas políticas neo-liberais, o que levou à abertura do fosso, já de si grande, entre os muito ricos e os pobres e muito pobres. Para além disso, a narrativa dominante demonstra uma aporofobia asquerosa, de rejeição e hostilização do Ser que é pobre, negando-lhe acesso aos mais elementares direitos básicos de sobrevivência, assim como o hábito de inculpar o pobre por ser pobre, ao invés de se inculpar o sistema capitalista vigente há mais de quatro décadas.

Thatcher e Reagan, os dois maiores expoentes de um neo-liberalismo colonial entre as potências ocidentais; Fotografia retirada do site Aventuras na História

  • Uma pessoa, associação ou partido político defende que toda a gente deveria ter direito e acesso a uma habitação condigna, água e luz a preços acessíveis: radical!

 

Fotografia: DW.

  • Um senhor calvo, com semelhanças arrepiantes com o Dr. Evil, explora milhares de trabalhadores e gasta bilhões de euros numa viagem ao espaço, apenas para proveito próprio e vê a sua acção apoiada por certas pessoas, associações e partidos políticos: empreendedor!

Imagem de Humans of Late Capitalism.

Assim vai o mundo…

O reino do André ‘Sanguessuga’ Ventura

Imagem retirada do Instagram do O Polígrafo.

André Ventura, Imperador do CHEGA! e pau-para-toda-a-obra no que ao populismo da extrema-direita diz respeito, recebeu duzentas e vinte cinco vezes mais de subvenção estatal do que uma família de etnia cigana (dois adultos e uma criança) recebem de rendimento social de inserção. Repito, em números: 225 vezes mais! DUZENTAS E VINTE CINCO VEZES MAIS. [Read more…]

Se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então provavelmente é um pato

Agora, já não se escondem.

Podem dar as voltas que derem, dizerem-se anti-sistema quando são, há muito, a escória do sistema, mudarem programas políticos de ano em ano, mudarem o sentido de votação três vezes no mesmo dia; já não enganam ninguém.

A extrema-direita é isto. É ódio, é violência, é ignorância. A extrema-direita é igual em todo o lado e já esteve por todo o lado. A única coisa que surpreende, ainda, mesmo não surpreendendo, é a incapacidade do Ser Humano de aprender com os erros passados. Somos, sem dúvida, a única espécie que tropeça vinte vezes na mesma pedra.

Depois dos ataques à sede da SOS Racismo, depois das ameaças a deputados e deputadas da AR e a activistas sociais, depois de um programa, mais maltrapilho que programa, a defender a extinção do Estado Social e com tiques pidescos, das incitações à desordem, das “sugestões” de deportação de cidadãos portugueses, das máfias e dos dePaços desta vida, já não enganam ninguém. [Read more…]

Censura está de regresso 49 anos depois de Abril

A Assembleia da República, com os votos a favor do PS, exceptuando 4 deputados, do Bloco de Esquerda e do PAN, aprovou a primeira Lei de censura após 49 anos de liberdade de expressão que o 25 de Abril nos concedeu.
Apelidaram a Lei n.º 27/2021 de Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, não curando saber que a internet foi o maior passo que demos para a liberdade de expressão em todo o mundo, mesmo para os opositores nas ditaduras, uma vez que ela não se circunscreve à liberdade dos jornalistas!
A liberdade de expressão é uma dos Direitos constitucionais e é protegida pelo Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que transcrevo:
“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”

Repare-se que não [Read more…]

A traição aos povos é uma constante histórica – África do Sul

Jacob Zuma desbaratou ignobilmente a África do Sul. Revolvem-se as entranhas, ao ver esta reportagem.

E as KPMGs e as McKinseys deste mundo arrebanham poder e seguem auditando e “aconselhando” negócios e governos.

Uma pessoa, às vezes, não consegue encontrar maneira de saber onde ir buscar um pingo de esperança para enfrentar esta trampa toda.

P.S.- Já agora, ali ao lado, em Moçambique:

Dívidas ocultas: “É uma questão de tempo até que Nyusi seja chamado”.  Caso das dívidas ocultas chega aos tribunais de Moçambique em agosto.

“Ainda hoje estava a ler argumentos da Privinvest, do mesmo julgamento das dívidas ocultas que está a decorrer em Londres, e eles reafirmam que pagaram dinheiro a altos funcionários do Estado e inclusivamente ao Presidente Nyusi.“

“Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), “dois milhões de moçambicanos foram empurrados para a pobreza absoluta, de 2016 a 2019″, por causa do maior escândalo financeiro do país, que envolve cerca de dois mil milhões de euros.”

 

Em nome do…

Alexandre Rola

Quando olho para esta pintura de Jean-Michel Basquiat, a primeira coisa que me vem à cabeça é Joe Berardo. Eu sei que estão a pensar que é por causa da auréola, mas não. Podia também ser do sorriso à “Joker”, mas não.  Além do (que) “falo”, esta obra intitulada “Pater”, de 1982, pertence ainda à Coleção Berardo. Atualmente, o Senhor Zé Manel é acusado de uma série de coisas pouco bonitas e a sua coleção, com cerca de 2200 obras, como não pode ser guardada na sua garagem, dizem que foi arrestada. Espero que com cuidado para não estragar as obras.

A segunda coisa que me vem à mente, ao observar esta obra, é o Euro 2020. E não é por causa das bolas, nem por a figura se parecer com o Unai Simón, o rei dos Frangos deste euro (não me refiro ao verdadeiro).

Falando de coisas menos interessantes, Basquiat, ao longo da sua carreira, sempre lutou contra o racismo, exclusão de negros da história e, ao mesmo tempo, reivindicava o protagonismo dos mesmos.   Trabalhou outras temáticas como a violência policial e a exclusão sociocultural da população afro-americana.  Nesta tela, temos a representação do homem negro. Lembrei-me imediatamente de Rashford, Sancho ou Bukayo Saka. Como sabem, estes são os três jogadores ingleses que falharam grandes penalidades na final do Euro2020 e que foram vítimas de comentários racistas nas redes sociais. Ficaram á mercê da algoritmocracia que nos desumaniza. [Read more…]

Milhões perdidos em corrupção e os governos não têm vontade de lhe pôr fim…

Todos os anos, a União Europeia perde 904 mil milhões de euros por causa da corrupção. Portugal perde anualmente 18 mil e 200 milhões de euros. É o equivalente a 10 vezes o orçamento da Justiça e mais de metade do orçamento da Saúde.“

Porque… o crime compensa e a vontade política de o cercear é pequenininha. Eu é que sou muito estúpida quando insisto com os vizinhos que para as obras efectuadas no condomínio devemos pagar o IVA.

P.S.:

 Escassez de recursos afeta estratégia anticorrupção

A Comissão Europeia considera que não se verificaram “grandes desenvolvimentos no que se refere ao quadro institucional anticorrupção em Portugal” desde o relatório do ano passado. A “Estratégia Anticorrupção 2020-2024” foi aprovada pelo Governo de António Costa e aguarda, de momento, a votação na Assembleia da República. Esta medida visa “atender a uma necessidade de longa data de criar uma estrutura anticorrupção robusta”.

O Governo propôs ainda outras medidas para garantir um tratamento mais eficaz dos casos complexos de corrupção, mas apesar dos esforços para melhorar o histórico de investigações e processos por corrupção, a Comissão Europeia refere que “as autoridades do Ministério Público consideram a falta de recursos para a polícia e o Ministério Público uma preocupação”.

De acordo com o relatório foi aprovada, em 2019, uma nova alteração ao sistema de declaração de ativos, “mas a entidade de transparência encarregada de verificar as informações ainda não está operacional”. Além do mais, aponta o documento, os recursos “atribuídos ao Conselho de Prevenção da Corrupção permanecem limitados”.

Bruxelas frisa ainda que os riscos de corrupção, como conflitos de interesse, “no âmbito da pandemia Covid-19, foram objeto de várias recomendações a nível nacional”.

Isto chama-se o quê? Conivência?

O capitalismo tem uma relação amorosa com a discriminação

Fotografia: EPSILON

Depois de se recusar a usar biquíni durante os jogos, a Selecção feminina de andebol de praia apareceu em campo de calções, tal qual os atletas da Selecção masculina, do mesmo desporto.

Por tal, enfrentam, agora, uma multa, pois, diz a Federação Europeia de Andebol que é mais “atractivo ao espectador” e, também, “gerador de mais patrocínios” que as atletas se dispam – o contra-senso é tão grande que espanta-me que a FEA não se aperceba disso.

Não espanta, ainda assim, que o machismo estrutural (que – e lá chegaremos – anda de mãos dadas com o capitalismo selvagem imposto pelo neo-liberalismo que hoje vigora nas sociedades ocidentais) se revele, mais uma vez, de unhas para fora e dentes afiados, escorrendo baba, qual predador pronto a atacar a sua presa com uma dentada no pescoço. Mas a questão é que atletas de alta competição, sejam de que género forem, são isso mesmo: atletas. E o único factor de atractividade deve ser, como é lógico, a qualidade do desporto que praticam e não a roupa que usam ou os atributos físicos de que dispõem. [Read more…]