Celebrou-se hoje o 1° de Maio, Dia do Trabalhador, mas o sindicalismo, ameaçado à escala global, continua em trajectória descendente, de desmobilização. Ainda assim, sobrevivem boas excepções, como os inevitáveis nórdicos, onde a percentagem de trabalhadores sindicalizados, face ao total da população empregada do país, é mais alta. Ainda que enfrentando a mesma tendência de queda.
50,4% na Noruega, em 2019. Em 2000 estava nos 53,6%.
58,8% na Finlândia, em 2019. Em 2000 estava nos 74,2%.
65,2% na Suécia, em 2019. Em 2000 estava nos 81%.
67% na Dinamarca, em 2019. Em 2000 estava nos 74,5%.
92,2% na Islândia, em 2020. Em 2000 estava nos 89,1%.
Em 2019, a média da OCDE – onde fui buscar estes valores – era 15,8%. Em 2000 era 20,9%.
Em 2016 – os números mais recentes no site da OCDE – a média em Portugal era 15,3%. Em 2002 – também não tem 2000. Ou 2001 – era 20,5%. Em linha com a média.
Tirando os cinco do Norte, o nível de participação sindical nos países da OCDE é preocupante, porque sem mobilização, os trabalhadores encontram maiores dificuldades na defesa dos seus direitos. O facto de, ainda assim, serem os nórdicos os únicos a sobressair, diz-nos alguma coisa sobre o nível de igualdade que reina naquelas sociedades. Tal como o facto de ser nesses países que os trabalhadores têm mais poder de representação nos conselhos de administração das empresas, algo que por cá seria interpretado como um exotismo de extrema-esquerda.
Num tempo estranho em que alguns nos tentam convencer que os escandinavos não são aquela malta que tem um Estado enorme, com o maior número de funcionários públicos, com uma ampla oferta de serviços públicos de qualidade, a larga maioria dos quais gratuitos, com impostos entre os mais elevados do mundo e um nível de liberdade praticamente inigualável, importa também olhar para estas nações enquanto grandes bastiões do sindicalismo, onde a negociação colectiva ainda mantém a sua força. E não consta que se ganhe mal por lá. Ou que os direitos laborais sejam frouxos. Ou que se possa despedir alguém só porque sim. Em principio terá alguma coisa a ver com a prosperidade dos gajos, não sei.
Não é só no sindicalismo que os países nórdicos estão à frente da maioria dos restantes congéneres europeus. Por exemplo, a Noruega é o pais da Europa, quiçá do mundo, onde mais se lê jornais, incluindo os que têm edição online. Presumo que os outros vizinhos nórdicos, estejam num patamar similar.
Fala-se muito na economia circular. Mas o mais importante é termos uma espécie de cultura e cidadania circular. Mais escolaridade, melhor educação, melhores profissionais, melhores qualificações, mais e melhor leitura, mais e melhor cultura, mais participação cívica, mais sindicalismo, menos corrupção, etc.
O problema destes países segundo creio, é que tendo esta máquina a funcionar de forma mais ou menos afinada, sem grandes oscilações, quando um deles salta fora da carroça, por vezes dá-lhe o treco. Daí a significativa taxa de suicídios, para países que vivem de forma tão equilibrada. Não estão habituados a lidar com a ansiedade, com o stress, mas acima de tudo, com trafulhas.
«diz-nos alguma coisa sobre o nível de igualdade que reina naquelas sociedades»
O que nos diz é que onde os sindicatos respeitam o trabalho e os trabalhadores e não a p* da ideologia da luta de classes, os trabalhadores se sentem representados.
Não são os “sindicatos que respeitam o trabalho”, são mesmo os patrões, fofo.
«por cá seria interpretado como um exotismo de extrema-esquerda»
O que os sindicatos querem é tadinhos arregimentados e não gente capaz de medir e valorizar o trabalho.
Ora pois!
Quando há tipos, e são cada vez mais, que ganham mais num mês do que uma boa percentagem da população a vida toda, as medições tornam-se bastante difíceis.
Aliás estas coisas da medição do trabalho sempre foram um bocado complexas. Basta ver o que, por cá, aconteceu ao Camões: morreu na miséria. E bem! Aquilo dos “Lusíadas” era trabalho? Ora essa!
Trabalho bem medido tiveram o Zeinal Bava, o Mexia, o Berardo, o Catroga, o Ricardo Espírito Santo, e a malta banqueira amplamente condecorada… no dia 10 de Junho, designado por Dia de Camões porque terá sido nessa data que chegou a vias de facto com a Violante.
É para que o Zarolho aprenda! Já cá não estar não é desculpa!
8 horas de trabalho são 8 horas de trabalho. O resto é roubo.
um país acrítico, silenciado, estupidificado, amordaçado pelo silencio cúmplice, inimigo da luta por melhores vencimentos e melhores condições de trabalho é também o motor necessário para a desregulação total do mercado de trabalho – estamos no bom caminho para o abismo.