
Agora que os vídeos estão vistos, os memes partilhados e a coça dada pelo Ricardo Araújo Pereira talvez já seja tempo de colocar um pouco de seriedade na matéria ou não….
O caso “gastronómico” de Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras, é o espelho do que se passa em dezenas e centenas de autarquias e outros entes públicos em Portugal. A facilidade com que se torra o dinheiro dos outros é uma velha tradição e não parece incomodar os respectivos dadores. Quem já trabalhou para ou nestes sectores sabe perfeitamente que é assim. E quem nunca com eles lidou directamente também sabe. É o velho “quero lá saber” a que se junta o “são todos iguais” terminando com o “é assim”. Não sei se a Sábado se vai limitar ao Isaltino ou vai aproveitar o embalo e “aqui vai disto” de Norte a Sul passando pelas Ilhas. Não sei mas desconfio que não o fará. Porque é um trabalho imenso (três centenas de autarquias e resmas de institutos públicos, administrações regionais, etc, etc, etc) que obriga a ter meios humanos e financeiros, duas coisas que faltam ao jornalismo. E são refeições “de trabalho”, telemóveis e viaturas “de serviço”, viagens “de trabalho” e uma infinidade de outras coisas acabadas nestas maravilhosas palavras justificativas como “representação, serviço, trabalho, urgência”. E como nunca fomos “grande espingarda” em matemática não será coisa fácil multiplicar isto por centenas.
Este momento “isaltinador” vai passar com o tempo. Sem qualquer sobressalto cívico por parte dos doadores. Porque sim. Porque foi sempre assim. Quem nunca bebeu um pêra manca à custa do dinheiro dos outros que atire a primeira rolha. Siga a rusga.
Quem nunca viveu no concelho com mais licenciados por metro quadrado e não votou num candidato condenado a sete anos por corrupção que atire a primeira pedra.
Não esquecer o “se eu lá estivesse fazia igual”. Ou o “quem nunca…”
Serve para almoços, carros de serviço, ou arranjar colocações para família e amigos.
Quem nunca bebeu um pêra manca à custa do dinheiro dos outros
Pode mesmo especular-se que o vinho Pêra Manca, com o seu elevado preço, é um produto de marketing que foi produzido precisamente para ser consumido única e exclusivamente por quem o faz à custa do dinheiro dos outros.
Esse vinho não existiria, ou então existiria mas teria um preço muitíssimo inferior, se não houvesse pessoas com capacidade de beber à custa do dinheiro dos outros.
Isaltino foi mestre e aprendiz na cadeia por onde passou e os seus eleitores sabiam disso mas voltaram a colocá-lo na presidência da Câmara. Que culpa tem ele que voltassem a por–llhe o tacho á frente? É, como diz, há milhares de Isaltinos por esse país fora e a democracia não faz nada para os evitar porque as leis o permitem.
Talvez, mas não me choca que haja despesas de representação e quejandos, com mais ou menos pequeno abuso – esmiuçar ao detalhe era um desperdício diferente de recursos. Já usar a conta camarâria como a conta pessoal, e ainda afirmar que é para publicitar a região, exige um certo tipo de pessoa que não insipira confiança em coisa nenhuma.
Já o Moedas torrou 40 milhões e tá tudo caladinho.
Isso já é dinheiro a sério, e provavelmente foi acima disso.
“coça dada”
não me digam que “arrasou” o isaltino. É que o homem nem se levanta mais, se for o caso. Se calhar vai ter de passar a dieta de líquidos, só sopinha e batidos.
provavelmente para alguns o problema nem são os almoços de trabalho, mas o facto de meter lagosta. Fossem almoços de cozido ou um arroz à valenciana, com máximo de 2 finos por pessoa, o caso até se tolerava. Roubar, não, usufruir da coisa publica, mas com jeitinho, à fartazana é um insulto aos pobres.
Ou seja, foi cancelado.
Bem, já tivemos a Ferreira Leite a justificar uma fuga ás mais-valias do Duarte Lima com um “quem nunca pôs um champoo no IRS?”. De resto, grunhos a asseguram que se lá estivessem faziam igual há paletes deles e o pior é que fariam mesmo. O Isaltino vive sob o lema do tal político brasileiro que assegurava em campanha “roubo, mas faço”. Muita gente em Oeiras reconhece que o homem é um ladrão mas acha que o ladrão desenvolveu o concelho e por isso tem desculpa, e por isso vota, nele. O que é difícil é explicar a essa gente que o latrocínio não tem desculpa, que talvez um político menos ladrão fizesse o mesmo ou até melhor, justamente por não roubar tanto. Nos anos pós-25 de Abril, em que tudo estava por fazer, houve autarcas que dera o litro para levar tudo o que faltava aos seus concelhos e continuaram a viver na mesma casinha alugada de sempre. E não bebiam vinho do bom. Em resuno, para desenvolver não é preciso ser ladrão. Mas já agora gostava de conhecer a garrafeira do Isaltino, dado que o homem diz que o Pera Manca é um mero vinho corrente. Deve ter cá umas pomadas…