A satisfação da vontade popular

Este livro não pode agradar a ninguém.
Camilo Castelo Branco

Une histoire abracadabrantesque.
Jacques Chirac

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A propósito da Ponte Almeida Garrett (que acabou por se chamar Ponte Dona Antónia Ferreira ou Ponte da Ferreirinha), Rui Moreira, presidente da câmara do Porto, pronunciou-se nos seguintes termos:

A parceria com o JN vai permitir-nos chegar a um nome para a nova ponte que prestigie a história das duas cidades, valorize a infraestrutura [sic] e satisfaça a vontade popular.

Hoje, ficámos a saber, através do Público, que Rui Moreira estará prestes a satisfazer a vontade de alguns (37 pessoas) que não querem esta estátua:

Rui Moreira quer que a escultura de Francisco Simões, inaugurada há 11 anos, vá para as reservas municipais. Artista [Francisco Simões] diz que petição subscrita por 37 cidadãos é “lamentável” e treslê a obra.

Há uns anos, Steve Hackel, professor de História na Universidade da Califórnia, Riverside, e promotor de uma moção a favor da substituição da denominação Dia de Colombo pela de Dia dos Povos Indígenas, criticou a vereação de Los Angeles (EUA) por ter retirado uma estátua de Cristóvão Colombo do Grand Park, numa decisão tomada “quase em segredo e sem debate”.

Veremos se há consulta da vontade popular ou se nos ficamos pelos gostos pessoais de alguns e sem debate.

Efectivamente, abradacadabrant.

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Se o Porto Canal tivesse ouvido uma das partes interessadas,

saberia que aquela mulher não é Ana Plácido: “aquela mulher é simbólica – representa a mulher na obra do Camilo, no Amor de Perdição. Não é, nunca quis ser, um retrato de Ana Plácido“.

Amor de Perdição, de Francisco Simões

Autoria da foto (e os meus agradecimentos): http://permanentereencontro.blogspot.com/2012/12/amores-de-perdicao.html

A propósito desta notícia de hoje.

Roubar aos pobres para dar aos ricos no PRR

Águas do Algarve apresentou investimentos na produção de Água para Reutilização (ApR) em Vilamoura e na Quinta do Lago.

“Estes investimentos, financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no âmbito do Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve (PREHA), permitirão produzir cerca de 3,41 milhões de metros cúbicos (m³) de água para reutilização destinada à rega de campos de golfe e de espaços verdes, assegurando um maior equilíbrio entre a procura e a disponibilidade do recurso hídrico.”

Estima-se que o custo total do investimento ascenda a 2,7 milhões e é imprescindível porque os riquitos da Quinta do Lago precisam muito, mas muito, de jogar o seu golfe e têm de ser apoiados pelo PRR.

Não há nem adjectivos, nem substantivos, nem uma gramática completa que consigam classificar isto.