Quando nos pisam os calos, no mínimo, exprimimos um gemido de desconforto. Se nos pisarem os calos demasiadas vezes, a coisa descambou para falta de cuidado ou para agressão.
Os professores já andam a ser pisados desde 2005, pelo que é natural que se queixem, que protestem. Talvez se possa mesmo dizer que os protestos são poucos para tanta pisadura.
Entretanto, são os professores e todos os outros profissionais da área que mantêm as escolas a funcionar de uma maneira exemplar, contra ventos e marés constituídas também pela incompetência e pelo desinteresse das sucessivas equipas ministeriais, que se limitam a cumprir instruções superiores, aprofundando um desinvestimento constante e ignorando problemas já estruturais (formação inicial de professores, atracção dos jovens), até porque não estão lá para resolver. Graças aos professores, os alunos estão, pelo contrário, sempre em primeiro lugar.
Tenho pelas greves um respeito quase religioso, mesmo quando não sou praticante, porque cada um deve reagir às pisaduras como muito bem entender. Permito-me duvidar de métodos de luta que não consigam ferir verdadeiramente o adversário, mas isso é outra questão.
Entres os políticos no poder, mesmo em democracia, há uma vulgata antigrevista a que João Costa não resiste, tendo afirmado que lamenta (que é diferente de lamentar) a convocação de greves, uma vez que os alunos deveriam estar em primeiro lugar. Trata-se de demagogia pura e tem por objectivo propagandístico transformar o grevista num irresponsável ou mesmo num agressor. O poder, mesmo em democracia, na verdade, sonha com a ditadura e a greve deveria, no máximo, existir em teoria.
A greve é, assim, uma resposta a uma agressão. Chega a ser cómico ouvir o agressor queixar-se da reacção do agredido.
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