Julgo que será mais ou menos consensual que ninguém esconde 75 mil euros em livros e garrafas de vinho, a menos que tenha algo a esconder.
E Vítor Escária tinha, pelo menos, uma coisa: evasão fiscal. Os 75 mil euros encontrados pelas autoridades no gabinete em São Bento não tinham sido declarados.
O que esconderiam?
Talvez nunca venhamos a saber. Em Portugal é assim.
O que sabemos, porque o seu advogado nos disse, é que os 75€ são provenientes de trabalho de consultoria para um cliente angolano.
Que cliente será esse, para Vítor Escária sentir a necessidade de esconder o dinheiro?
Julgo que deveríamos estar a olhar mais para isto do que para o montante.
Mas ninguém parece interessado em seguir o rasto dinheiro.
Estranho. Ou talvez não.
deveríamos estar a olhar mais para isto do que para o montante
Não. Também temos que olhar para o montante. Porque em Portugal é proibido por lei pagar ou receber mais do que 3000 euros em dinheiro vivo. Qualquer pagamento superior a isso tem que passar pelos bancos. E a nenhum banco é permitido dar para a mão de um cliente 75000 euros de dinheiro vivo sem fazer perguntas detalhadas.
Ou seja, aqui não há somente fraude fiscal.
os discos que foram apreendidos provavelmente contarão outra história…ou perguntem ao Costa.
Qual Costa?!
Pois talvez…
O Costa da Caparica. Parece que é onde o Ministério Público costuma ir a banhos. Daí as naturais confusões.
Quanto aos discos, pois contam muitas histórias, sem dúvida. O primeiro foi muito apreciado pela malta da investigação. Era um álbum de fado, intitulado “Era Tudo Igual ao Lítio”, onde prontificam os sucessos “Marcelo Que Nadas no Rio”, “A Escária do Capelão”, e a obra-prima “Estranha Forma de Guardar Graveto”.
Devia-se; mas em termos puramente legais, pode ser uma coisa tão simples como uma herança não declarada de algum idoso que decidiu que dinheiro seguro é no colchão.
Já no gabinete oficial, nem para o esconder tem lógica; de qualquer forma, são valores um bocado para o insultuoso. Esperemos que o MP tenha alguma coisa séria.
o gabinete oficial, nem para o esconder tem lógica
Tem toda a lógica. Pode estar mais seguro no gabinete oficial do que em casa. Em casa pode, sei lá, haver uma mulher que gosta de andar a espiolhar as coisas do marido. Ou haver uma empregada doméstica de menos confiança. Ou haver filhos drogados que andam a tentar sacar dinheiro aos pais.
O gabinete oficial é um local privado, onde as pessoas têm todo o direito de guardar coisas suas.
Legalmente, têm.