Adega de Pegões na linha da frente da resistência à ocupação russa

Cumprido o seu propósito, esta garrafa da adega de Pegões foi transformada em cocktail molotov, e será – talvez já tenha sido – usada para resistir à ocupação do Adolfo de São Petersburgo. Melhor que reciclar uma garrafa de boa pinga setubalense, só mesmo arremessá-la e fazê-la explodir contra o exército invasor. No mínimo, rebenta com um blindado.

Esta é pelos produtores de vinho deste país, que estão agora privados de um mercado de 45 milhões de euros – que até cresceu 61% em 2021, apesar da pandemia – porque aquele filho da Putin decidiu invadir a Ucrânia e ameaçar os países da NATO com nukes. Em vez de deixar os russos beber o seu Adega de Pegões em paz. Facho de merda.

Conversas vadias 4

Mais um périplo dos  vadios pela passagem do Porto aos quartos-de-final dos Campeões Europeus, pelas emoções e pelas azias, passando pelo PCP e pelo PS, a Comunicação Social e suas (in)tolerâncias, Tancos, Sporting, Santana Lopes, o Calimerismo, O Independente e Cavaco Silva, Roquete e o vinho, confinamento e a Via Norte.

Os aventadores vadios são António Fernando Nabais (moderador/provocador), Fernando Moreira de Sá, Orlando de Sousa, José Mário Teixeira e João Mendes. Tudo com a assessoria do ausente especial Francisco Miguel Valada.

Conversas Vadias
Conversas Vadias
Conversas vadias 4







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O rótulo que eu ando para escrever

Se tenho de comprar uma garrafa de vinho escolho-a, claro está, pela prosa do rótulo. Coisas como “mime-se a si próprio após um dia atarefado” fazem-me pousar logo a garrafa. Mas se me anunciarem “ginjas com matizes tostados” eu fico interessada, mais pela ginja, é certo, e pelo calorzinho nas faces que ela deve trazer. Se me confessarem que um vinho revela a presença de fruta “dando sinais de fadiga” imagino uvas pálidas, tombando sem ganas no cesto da vindima,  “ai filhas, que vida a nossa”.

Já “taninos firmes e redondos” soa-me a promessa de máquina para glúteos da tvshop, mas sempre traz algo de viço e juventude.

Se me dizem que as origens do que está na garrafa são “vinhas dramáticas de montanha” eu peço para me encherem o copo, que drama é comigo e dramas montanhosos, com a promessa de montes uivantes e acidentes trágicos pelas escarpas abaixo, deixam-me empolgada.

Um vinho que “na boca deixa um longo e persistente final” tem ecos de Philip Marlowe, logo imagino que será um pouco ácido, mas apenas nos primeiros sorvos. [Read more…]

Margem de incerta maneira

Foto: Carla Olas

Não vou dizer onde fica, não. Mas sempre posso contar que tem uma varanda para o rio, e uma esplanada que cresceu à volta da imagem de um Cristo que o povo traz apaparicado, sem que nunca lhe faltem as velas acesas e os ramos de cravinas.

É um desses sítios em que é necessário entrar sóbrio e sair um pouco ébrio. Não demasiado, que aqui não há passeio e há que caminhar sem ziguezagueios pela marginal. Ébrio o suficiente para segurar-se à mesa e ver erguer-se, como se pelas ondas, as paredes cobertas por lanternas, arpões, lemes, sextantes, bóias, sinetas, cordames, remos, reproduções de barcos, gravuras antigas, o emblema do FCP.

O peixe assa à porta, os pimentos começam a queimar-se, o sal dos robalos há-de cair aos pés do Cristo, da cozinha saem os primeiros mexilhões, vêm num embalo de salsa e cebolinha, um consolo para eles depois de uma vida de embates do mar. [Read more…]

Um homem das mulheres

Perdi durante anos o contacto com a ovelha negra da minha família, o mais ruinoso, boémio, mal comportado, sacana de tio que nos pode tocar em sorte, e apesar – ou por causa – disso, o favorito de qualquer sobrinha.

Voltei a falar com ele há pouco e encontrei um desses conquistadores arruinados pelo tempo e pela vida vagabunda mas que continua a sentir-se, e a ser, irresistível. Há muitos anos era um campeão da má vida, um gabarolas que ganhava todas as rixas de bares, até aquela em que lhe cortaram um tendão com um gargalo de garrafa, o que o deixou com um dedo mendinho perpetuamente espetado, sinal de elegância que pode condizer com a chávena de chá mas não com o copo de vinho tinto que ele costumava erguer. Se algum recém-chegado ao tasco tinha a infeliz ideia de fazer pouco do dedo espetado, acabava a noite nas urgências do Santo António. Acho que em alguns antros de má fama, o mendinho espetado ainda é recordado como uma lenda, como certas histórias de piratas. [Read more…]

A China e a picada de escorpião

Vejam só as voltas que o mundo dá. Essa China que nos anos 90 levou à destruição da nossa indústria têxtil, graças à ganância dos que, sistematicamente, deixaram ultrapassar o limite das já de si muito elevadas quotas de importações de têxteis, é a mesma China que agora quer impor uma taxa às importações de vinho europeu. Fica a curta quota portuguesa no mercado de vinho na China ainda mais curta. É o efeito do escorpião que pica o mercado que o alimentou.

Nota: o segundo link do post, sobre o panorama víniculo em Macau merece uma  leitura atenta

Talvez para umas sopas de cavalo cansado (e sim, há quem precise de regressar às aulas)

Copo de vinho

“Trabalhar um livro até à minúcia de uma palavra.

E depois um leitor engole tudo à pressa para saber «de que se trata».

Vale a pena requintar um vinho para se beber como o carrascão?”

(Vergílio Ferreira, Pensar)

O vinho e o Direito do Consumo

O vinho, de harmonia com o Regulamento (CE) n° 1493/1999, do Conselho, de 17 de Maio de 1999, define-se como o produto obtido exclusivamente por fermentação parcial ou total de uvas frescas, inteiras ou esmagadas ou de mostos.

Cautelas peculiares se impõem no que tange ao consumo do vinho e demais bebidas alcoólicas por jovens, em natural processo de formação…

Já o DL 9/2002, de Janeiro, previne no seu preâmbulo: 

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Como Se Fora Um Conto – Natália, a Cigana

Natália era cigana. Vivia num acampamento no meio do pinhal, lá para as bandas de Albergaria. Não teria mais de quinze anos e era muito bonita e vistosa.

Como qualquer uma na sua situação, passava por muitas dificuldades. Havia dias em que faltava a comida. Havia dias em que faltava todo o resto. Nesses dias ela sentia falta da escola onde já não ia há mais de quatro anos. O trabalho de apanhar gravetos no pinhal, de lavar a roupa da catrefada de irmãos, de procurar água para se lavar ou comida para se alimentar, de ajudar os pais na sobrevivência do dia a dia, eram mais importantes que a aprendizagem numa qualquer escola.

Natália tinha uma amiga dos tempos da escola. Leonor não era cigana nem passava dificuldades como as de Natália, mas trabalhava de sol a sol, nas lides do campo, nas lides da casa, nos estudos que sabia importantes para o seu futuro. A amizade das pequenas era tal que Leonor, tinha permissão de [Read more…]

E se beber 4?

Diga adeus à obesidade com dois copos de vinho por dia.

Pensamentos XXXI e XXXII

XXXI

Abre uma garrafa de vinho e deixa-o respirar. Se, passado um pouco,

não o ouvires respirar, bebe-o, antes que morra.


XXXII

Levanta bem alto a tua voz.

Mas não tanto que a possas deixar cair.


Conheça o primeiro Caderno de Pensamentos do Sr. Anacleto da Cruz.

Coisas boas em Portugal

Um artigo sobre Portugal pelo Embaixador Britânico sobre o nosso país – vale a pena ler!
Dez coisas que melhoraram em Portugal nos últimos 15 anos
Alexander Ellis,
Embaixador Britânico

Chegou a época do espírito natalício. Então, deixemos de lado quaisquer miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas – não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há quinze anos. Agora,  de volta, quero sugerir dez coisas, entre muitas outras, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo aqui coisas que já eram, e ainda são,
fantásticas (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria).
Aqui ficam algumas sugestões de melhorias:

– Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem – o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2008. A experiência de conduzir na marginal é agora de prazer, não de terror.  O tempo do Fiat Uno a 180km/h colado a nós nas auto-estradas está a
passar.

– O vinho; já era bom, mas agora a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. Também se pode dizer a mesma coisa sobre o azeite e outros produtos tradicionais.

– O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.

– A zona da Expo;  era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário <http://www.oceanario.pt/>  entre os melhores que há no Mundo.

– A saúde; muitas das minhas colegas têm feito esta sugestão – a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2008.

– Os parques naturais; viajei muito este ano do  Gerês <http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-Geres?res=1280×1024>  a
Monserrate
<http://www.parquesdesintra.pt/index.aspx?p=parksIndex&MenuId=9&Menu0Id=9>
; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.

– O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar – mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.

– A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido <http://ukinportugal.fco.gov.uk/en/doing-business/>  ; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e – o mais importante de tudo – não
há medo.  Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.

– O metro de Lisboa.  É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.

– As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria – recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical.

Em termos de imagem, parece-me um elogio!

Esta é a minha lista. E a sua?
Alexander Ellis,


Pão e vinho

Lembrei-me de escrever este artigo, a propósito da “missa do galo”.

Sou membro da igreja católica, baptizado, comungado e crismado por opção própria, coisa que nem qualquer católico se pode gabar.

Embora nunca tenha sido muito dado a missas – porque raro é o padre que consegue cativar a minha atenção com o seu discurso -, o certo é que tenho desde há muito um complicado sentimento contraditório quanto aos rituais da missa.

Por um lado aprecio o modo cuidadoso com os padres tratam das questões de “menage”. O modo como limpam o cálice do vinho e o prato da hóstia no fim de cada comunhão cuidando das migalhas e do asseio dos utensílios.

É, sem dúvida, um bom exemplo até mesmo para os homens casados e que, estou certo, as mulheres apreciam.

Por outro lado, quanto aos modos como se realiza a comunhão, acho, com o devido respeito, que não são os melhores. Entendo mesmo que violam o princípio da igualdade apregoado pelo ideal cristão, e acaba por ser um entrave á participação de mais gente nas missas e á concretização de uma das mais importantes missões da Igreja, além da evangelização.

Primeiro porque só o padre bebe, o que acho mal pois a hóstia não se pega só no céu-da-boca dos padres, mas sim de toda a gente. Além de que o vinho é produto nacional e há todo o interesse em promover o seu consumo, desde que com moderação.

Em segundo lugar, porque a distribuição daquela película que é a hóstia, não satisfaz o paladar e muito menos o estômago. Obviamente que a hóstia tem um valor simbólico, e deverá ser encarada numa perspectiva litúrgica. Mas se Cristo dividiu pão, deveria ser o pão, e não aquela coisa que se cola na boca, e, pior, nas próteses dentárias dos crentes.

Pão e vinho, sempre com moderação, deveriam ser os elementos da comunhão. Porque essa é a raiz histórica, e essa é uma das missões maiores do cristianismo: matar a sede e a fome ao próximo.