Detenho-me à saída do hospital porque a porta está bloqueada por um grupo acabado de chegar. No centro do grupo está um velho em equilíbrio precário, ladeado de mulheres que tentam ampará-lo. Na confusão de braços à sua volta, o homem emerge como um colosso arruinado, prestes a afundar-se. As mulheres soltam gritinhos, risos abafados, há demasiadas mãos a puxá-lo para um e outro lado. E é então que lhe caem as calças, ao velho homem, e é assim que ele me aparece, à porta do hospital, com as calças caídas no chão e a ignominiosa fralda à mostra de todos. Ao meu lado, de saída também, e à espera que a passagem obstruída pelo grupo fique livre, uma mulher abafa uma risada.
O homem tem um rosto corado, um pouco tumefacto, e não está claro se mantém a lucidez. As mulheres sobem-lhe as calças, seguram-no quando, num momento de atrapalhação delas, ele quase se derruba sobre si mesmo, e fazem-no risonhas, como se houvesse algo de burlesco em tudo aquilo, e tratassem com uma criança pequena, ou com um pobre tonto de quem todo o bairro faz pouco. [Read more…]
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