Carrosséis

Não há gente mais triste do que a que se dedica aos divertimentos de feira. O homem do carrossel, que recebe as fichas das mãos das crianças, encosta-se a uma das colunas, vai remexendo, sem olhá-las, as fichas entre as mãos encardidas, fixa o olhar no chão e nada mais vê nem ouve até o carrossel novamente se deter. Tem os olhos inchados, a barba por fazer e um sorriso manso, que logo se apaga. A sua sócia, e mulher, vai vendendo as fichas, sentada na cabine onde há uma televisão que ela já não vê. Deve ter sonhado por muito tempo com as carruagens douradas que o carrossel reproduz em infantil escala, mas há muito que se resignou a olhar os três ou quatro botões que controlam as engrenagens do engenho, e a contar as moedas com que dá o troco aos paizinhos. [Read more…]