Tenho conversado muito com os meus amigos Jean-Pierre Changeux, Thomas Insel e António Damásio grandes cientistas das novas interrogações. Também Jean-Pierre se apaixonou pela arte, também ele caiu nas suas mãos traiçoeiras. Mas não se meteu propriamente com ela, foi mais esperto. Não se deixou levar pela tentação do seu corpo nem pelo calor das suas tintas, não tentou penetrá-la e possuí-la de forma séria, profunda e infinita, agarrando-a pelo sexo numa cumplicidade de tragédia. Deixou-se embevecer e atrair pela sua beleza, é certo, mas dentro de uma espécie de amor platónico, não ousando tocá-la, talvez por imposição profissional, talvez por medo, talvez por pudor. Daí o ter-se preocupado, essencialmente, com a razão estética e com a força ontológica da criação. Provavelmente, por isso, nunca lhe fora apresentada a amiga frustração, tendo-se livrado, assim, quem sabe, do valente frete que constitui a obscura consciência da inferioridade e da falsamente compensadora necessidade de uma indignada afirmação de si próprio.
Materialismo e Espiritualismo (3)

(adão cruz)
Materialismo e Espiritualismo (3)
Conheço Jean Pierre Changeux desde a década de oitenta, não pessoalmente, embora tenha assistido a uma conferência sua, nessas alturas, em Paris, salvo erro. Mas conheço-o através de alguns dos seus livros, como “Homem Neuronal” de 1980, e “Razão e Prazer”, livros que li e reli. Muita vontade tenho de ler outras obras suas como “Fundamentos naturais da ética”, “A verdade e o cérebro”, “O que nos faz pensar”, etc., mas não consigo a benevolência do tempo. Hei-de conseguir. [Read more…]
Comentários Recentes