Jean Giraud morreu, mas Giraud e Moebius sentem-se bem

A banda desenhada foi, desde sempre, a par do comboio, um dos meus meios de transporte preferidos. Depois de um estágio na Disney, com a leitura dos Patinhas, em edição brasileira (perfeitamente legível, imagine-se), passei para a escola franco-belga, com o pequeno repórter Tintim e o ainda mais pequeno gaulês Astérix. A pulsão coleccionadora da revista Tintim proporcionou-me, ainda, o conhecimento de outros heróis e de outras escolas.

Habituado ao traço de Hergé ou de E. P. Jacobs, comecei por estranhar Corto Maltese e Blueberry, que, depois do estranhamento, se entranharam. Blueberry ainda por cima, fez parte de uma outra aprendizagem: a de que os índios eram seres humanos e a de que os brancos podiam ser desumanos.

Mais tarde, primeiro através de textos de divulgação publicados na própria revista Tintim e, depois, através da compra milionária de álbuns e revistas estrangeiros, tive ocasião de estranhar outros desenhos e outros heróis. Na revista Métal Hurlant, apareciam mundos desconhecidos, desfigurações espectaculares do traço franco-belga. Um dos autores assinava com o nome de Moebius e criava universos absurdos através de um traço absolutamente límpido.

Pouco tempo depois, descobri que Moebius era, afinal, uma espécie de heterónimo de Giraud, o autor de Blueberry. Sendo um homem das imagens, soube que teve, ainda, passagens pelo cinema e pelos jogos.

Hoje, morreu o cidadão Jean Giraud, criador dos autores Giraud e Moebius. É um bom dia para revisitar o tenente Blueberry e Jerry Cornelius.