Misha Lerner

Quantas vezes se referem os líderes políticos ao escrutínio que das suas decisões farão as gerações vindouras, e quantas vezes fica claro que esse é um tema que não lhes merece nem um segundo de reflexão?

Diz-se que a verdade fala pela boca das crianças e essa é talvez uma das mais óbvias razões para que estas sejam tão persistentemente silenciadas. Mas quando essa voz se faz escutar pode ser ensurdecedora…

O Washington Times conta a história da visita de Condoleeza Rice a uma escola primária da capital americana. Estava previsto que Rice falasse sobre temas tão inofensivos como as suas viagens e a importância de aprender idiomas, dando depois lugar a um período de perguntas que as crianças haviam preparado.

A princípio tudo correu conforme o esperado. Como foi crescer no Alabama segregado?Por qual das suas aptidões gostaria de ser lembrada? Foi então que Misha Lerner, aluno do 4.º ano, levantou-se e perguntou:

Que pensa sobre aquilo que a administração Obama está a dizer acerca dos métodos que a administração Bush usava para obter informação dos detidos? (Recorde-se que poucos dias antes, na Universidade de Stanford, Rice tinha afirmado que a tortura por afogamento era legal “por definição se o presidente a autorizava”.)

Conta o jornal que a pergunta que Misha queria fazer era ainda mais pontiaguda: Se trabalhasse para a administração Obama defenderia a tortura? Mas, de acordo com a sua mãe, a escola terá pedido que a pergunta fosse reformulada, evitando o uso da palavra “tortura”.

Depois de se esquivar a uma crítica directa a Obama, e de defender a legalidade de todos os actos cometidos, as palavras finais de Rice são já de derrota. “Espero que entendam que foi um período muito difícil. Estávamos aterrorizados com um novo ataque ao país. O 11 de Setembro foi o pior dia da minha vida no governo, assistir à morte de 3.000 americanos… Mesmo sob essas circunstâncias tão difíceis, o presidente não estava preparado para cometer uma ilegalidade, e eu espero que as pessoas entendam que estávamos a tentar proteger o país”.

Misha Lerner, menino judeu americano, filho de imigrantes russos, não parece ter entendido.