A felicidade

Meus amigos:
Os meus amigos e a nossa Carla em particular põem-me cada questão que eu fico sempre naquela…que o mesmo é dizer: é melhor ficar calado. E é, é melhor ficar calado, porque há assuntos em que nos perdemos sempre que neles nos aventuramos a entrar. A felicidade…sei lá eu o que é a felicidade! Sabe lá a Carla o que é a felicidade! sabemos lá nós o que  é a felicidade! A felicidade do meu organismo, ou seja do meu ser global, porque eu não aceito qualquer dualidade corpo-espírito, é aquilo a que chamamos a homeostasia, isto é, a sintonia de todos os fenómenos que em mim se processam. Se há um desequilíbrio, grande ou pequeno,  em toda a constelação de vivências da minha harmonia, há um grito de alarme, mais estridente ou menos estridente. Se eu tenho dor, dita física ou dita psíquica, essa dor é um sinal ou um alarme acusando que a sintonia está perturbada. E a felicidade é a sintonia do meu ser. A felicidade é a ausência do sentimento da dor, dor como sentimento de desequilíbrio, seja ele qual for. Portanto, no seio de tão complexa textura, dizer que a felicidade está no dinheiro ou na carteira vazia, no carro topo de gama ou no andar a pé, no poder ou no desprendimento, no hotel cinco estrelas ou na casa de campo em que a Carla foi passar o fim de semana com lobos à mistura, na vivência da nossa razão ou na esperança das crenças sobrenaturais é puro disparate. A felicidade possível pode estar ou não estar em qualquer destas circusntâncias, porque ela só está na nossa homeostasia, na ausência de dor, como sentimento de alarme. E a dor tem uma escala incomensurável que abrange, felizmente, todos os seres humanos do mais rico ao mais pobre, do mais pensante ao mais irracional. Graduar a felicidade é, no fundo, mas bem no fundo, como pretender guiar o nosso fluxo neuronal através de três biliões de neurónios.