Uma força da natureza

Ontem levei um murro no estômago. Eu e muitos que nalgum momento as suas vidas se cruzaram com a Virgínia Coutinho.

Eu tive o grato prazer de a conhecer nos idos de 2010 quando através de um amigo comum, ela me convidou para encerrar o Upload Lisboa 2010. Sobre isso escrevi AQUI. E já nessa altura, sobre a Virginia, alinhei estas parcas palavras: “uma nota final para destacar a Virgínia Coutinho: é fantástico verificar que ainda existe gente jovem disposta a arriscar e com muita carolice conseguir organizar eventos desta envergadura. Os meus parabéns para ela e toda a sua equipa”.

A Virgínia Coutinho, ontem, escreveu uma das coisas mais bonitas da história do Facebook em Portugal. Como só uma grande Mulher o podia fazer. Como só a força da natureza com quem me cruzei em 2010 o poderia fazer. Citando-a:

“Aproveito esta partilha para vos fazer alguns pedidos… até porque em nenhum momento tenciono que tenham pena de mim, me considerem uma vítima, e muito menos demagógica 🙂
1- Dêem sangue. 🩸💉 Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas 6) que me foi feita, por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito.
Quem tiver a oportunidade de o fazer, mande-me fotos!! Vou adorar saber que “inspirei”
2- Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias a todos os órgãos abdominais que tinha feito em fevereiro de 2020, e em março de 2021 é-me detectado um cancro, com um tumor de 11cm sem cura, e que não pára de crescer… Não descurem da vossa saúde.
3- Aproveitem a vida. Dêem valor ao pouco que por vezes parece que têm…”.
Não é preciso dizer que se fica sem palavras quando se vê alguém tão jovem, com uma dinâmica ímpar, com aquele sorriso (o mesmo com que me cruzei em 2010) nos conta uma coisa destas. É injusto. A vida é demasiadas vezes injusta.
Não existem muitas palavras a ser ditas ou escritas depois de um murro destes. As únicas que te posso dizer, Virgínia, é que terás aqui mais um a torcer por ti, a acreditar que vais fazer “das tripas coração” e vencer este combate. Tu és mulher para contrariar todas as estatísticas. Tal como foste, naqueles idos de 2010, ao fazer o que ainda não tinha sido feito.
Um enorme beijinho e aqui estarei, eu e todos os que contigo se cruzaram, à tua espera para vermos qual o próximo desafio que vais superar. Como sempre.

Lucie enfrenta o nazi

Imagem captada pelo fotógrafo Vladimír Čičmanec, que retrata uma jovem escuteira firme contra um grunho nazi, numa manifestação da extrema-direita checa em Brno, República Checa. Haja esperança!

via Distractify

Facada

lula

A corrupção surge em todo o lado. Porém, há sistemas que lhe são mais favoráveis e outros que o são menos, há sociedades em que é mais tolerada e outras em que o é menos. Acredito que a única possibilidade de lidar com esse bicho virulento é controle, controle, controle, transparência, transparência, transparência. A corrupção por parte de políticos a quem demos o nosso voto de confiança é sempre uma agressão contra a sociedade e põe em causa os pilares do sistema em que (julgamos) viver. Quando, além de serem políticos em quem confiámos, são políticos que hastearam a bandeira da justiça social e mobilizaram a esperança popular para se içarem ao poder, a agressão é dupla, porque é uma facada na frágil esperança de um mundo melhor; é a indiscutível redução ao não vale a pena, ao vai dar tudo ao mesmo. Vem isto a propósito do caso Lula, sobre o qual, por agora, deve manter-se o pressuposto da inocência, já que não foi condenado e afirma estar inocente. Mas não deixa de ser doloroso que um presidente que indubitavelmente trouxe benefícios às camadas mais pobres possa estar a ser ligado a estas acusações de benefícios ilegais e, mais ainda, de ter propiciado a disseminação da corrupção no sistema.

Às vezes, parece que a humanidade não tem, nem nunca poderá ter pernas para andar para a frente. E no entanto, se acreditarmos e “lutarmos, podemos perder. Se não o fizermos, já perdemos” (Brecht?).

Outono Vermelho

Vermelho

Eles estão impacientes. A máquina de propaganda era uma das mais fortes e bem oleadas de que havia memória, a estratégia de se fingirem de mortos resultava a ponto de haver quem não soubesse que o PàF era afinal uma coligação entre o PSD e o CDS-PP, os trambolhões da campanha do PS faziam a sua parte e algumas sondagens chegavam mesmo a atribuir maioria absoluta às tropas de além-Troika. A coisa não correu como esperado mas nem tudo estava perdido. Não seriam os primeiros a governar com maioria relativa. [Read more…]

Mais uma lição a Passos Coelho

“Os contos de crianças trazem sempre esperança.” – do gabinete do Ministro das Finanças da Grécia

São flores aos milhões entre ruínas

Não sei se gostei de 2013. Há anos que se fazem difíceis de gostar, é preciso peneirá-los bem para descobrir-lhes o brilho que a areia e a lama tentam encobrir. Não, não foi um ano fácil. Houve quem, de entre os meus mais próximos, tivesse a vida por um fio e eu nada podia fazer. Perdi coisas muito importantes, coisas que foram durante anos pilares na minha vida e sem as quais pensava que não podia viver. E afinal posso. Passei muitos dias de angústia, dois ou três de desespero. Também tive dias luminosos, horas felizes, por vezes arrancadas da lama. Fiz umas quantas asneiras, passos em falso, opções erradas, podia fazer um mea culpa de muitas coisas mas deixemo-lo para outro lugar. Vivi uma sucessão de acidentes, azares, moléstias, que me pareceu interminável e ainda não chegou ao fim. Quando pensei que nada poderia correr pior, correu mesmo. Aprendi que se pode viver com a tristeza, deixá-la ocupar um quarto permanentemente, mas nunca toda a casa. [Read more…]

25 de Abril, em tempos de governo maldito

Estou bem no interior do Alentejo. Terra de pouca gente, larga maioria de idosos, mas de memória bem viva e sólida. Jamais esquecem a data. No café da vila, à hora do café e do bagaço após o almoço, combinavam os festejos para a meia-noite. Haverá febras, pedaços de Javali caçado na reserva do clube local e mais uns petiscos, pão alentejano… ah!, e o vinho d’um cabrão oferecido pela Junta, a escorregar pelas goelas abaixo, que é uma maravilha.

Sempre foi e continuará a ser assim – juram-me – as comemorações do 25 de Abril aqui na terra. – Não nos vergamos a esta cambada que nos rouba e desgoverna – diz-me um homem de cinquenta e tal anos. – Hão-de cair, como todos os que nos atraiçoam – acrescenta, confiante.

Ouvi apenas. Sem comentar. Evitei desiludir quem comemora e sente com alegria o 25 de Abril, desde sempre. De mim para mim, penso no Passos Coelho, na Paula Teixeira da Cruz, no Relvas que já partiu e no Pedro Pinto. Todos estes e congéneres, no 25 de Abril de 1974, viviam em Angola. Sem saber sequer  das mortes, dos sacrifícios e de inúmeros riscos de militares, idos da Metrópole, para defender as vidas e patrimónios das suas famílias. Iguais a tantas da burguesia colonial.

Um dia destes, falando dessa gente ignóbil e dos ‘gaspares’ que se lhe juntaram, dizia-me um alentejano: – Eles não são retornados…são apátridas. – É isso, apenas um conjunto de apátridas, à frente da governação, por escolha de um povo sem saber, sorte e norte, é capaz de tranquilamente transformar Portugal, no País envelhecido, deserto, falido, sem rumo, que os mais novos, e portugueses legítimos, são forçados a deixar para trás. Uns com amargura e saudade, outros ressentidos e dispostos a não regressar tão depressa.

O País, por força de políticas desumanas e anti-patrióticas,  está gravemente enfermo. Sem querer quebrar o ânimo alentejano dos festejos de logo, à meia-noite, com foguetes no ar, gritos de alegria, canções que a revolução inspirou, e vice-versa, lá regarei o pedaço de pão e a febra com o vinho que, também a mim, me transportará à excitação e esperança de ver regressar o 25 de Abril, do lugar onde está amarguradamente prisioneiro, livrando-se de amarras semelhantes àquelas que aprisionavam tantos  anti-fascistas libertados na histórica data de 1974, no derrube da ditadura.

Viva o 25 de Abril!

Um caquizeiro mais forte que a bomba atómica

Acabo de descobrir que o fruto que eu mais aprecio tem um outro nome, o malandro! Não é que o meu dióspiro – chego a comer 2 ou 3 por dia na sua época (que é justamente agora), simples, com banana e/ou bolacha Maria- , também é conhecido como caqui (kaki, no Japão)?

Santa Ignorância!

Estou mesmo radiante, porque aquilo que eu ia escrever sobre um certo caquizeiro é afinal, sobre a minha árvore predilecta.

Descobri, ontem à noite, uma história linda, mas ainda mais fenomenal por ser verídica: conta-se que um diospireiro (caquizeiro) foi mais forte que a segunda bomba atómica que matou 200 mil pessoas em Nagasaki.

Escreve Rubem Alves, em Do Universo à jabuticaba:

Morreram os seres humanos, morreram os animais, morreram as plantas. Foi então que uma coisa extraordinária aconteceu: passado o tempo, uma árvore que o fogo havia queimado e todos julgavam morta começou a brotar. Era um caquizeiro. Os japoneses se assombravam com aquele milagre: uma árvore mansa que foi mais forte que a bomba! E tomaram a ressurreição da árvore do caqui como um símbolo da teimosia da vida. Começaram então a colher as sementes lisas dos frutos daquela árvore e a plantá-las. Quando as plantinhas nasciam e cresciam um pouco, eles as enviavam como presentes de paz a todas as partes do mundo. Para que ninguém perdesse as esperanças…

E sabem que mais? Eu mesma tenho um diospireiro… e assim que puder, vou contar-lhe esta história de um certo primo que vive lá longe, na ‘Terra do Sol Nascente’!

Outubro

October and the trees are stripped bare
Of all they wear.
What do I care?

October and kingdoms rise
And kingdoms fall
But you go on
And on.

byU2

Retratos da Crise – Espera(nça)

Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair do porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na nossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre, O canto e as armas

O fosso que todos ajudamos a cavar

O fosso de que se trata neste post é aquele que “se cava” entre a política e a vida.

Não somos apenas nós, cidadãos comuns, que o dizemos (sobretudo sentimos). São também, pelos vistos, alguns políticos como o deputado do PS Francisco Assis, que escreveu ontem no Público: “Quando entre a política e a vida se cava um fosso, tudo pode acontecer”.

Eu quero e preciso acreditar que ele, enquanto agente político, está a ser sincero e a trabalhar no bom sentido ou de boa fé para o bem comum.

Ele reconhece a “profunda distância que separa o discurso prevalecente na política do mundo concreto da vida”.

Ele sabe, ou finge saber, ou isso lhe interessa (maquiavelicamente) que, para nós, homens e mulheres comuns,  os discursos políticos já não significam nada, que são «montados» de “palavras ocas”. Assis refere-se sobretudo aos homens e mulheres “que se limitam a viver uma vida sem esperança, sem futuro, sem projecto, quase sem dignidade”.

“Tudo pode acontecer”. Tudo pode acontecer quando se cava um fosso entre a política e a vida. Já conhecemos muitos exemplos disso mesmo.

O fosso está cada vez mais profundo.

Mas nós, às vezes, damos uma ajudinha e não é só pelo voto…

Um exemplo: foram criados 1008 movimentos na sequência da iniciativa do governo «O Meu Movimento». Ideias boas e reveladoras de um interesse genuíno dos portugueses em melhorar este país. 

Um apenas foi recebido pelo PM (eles a cavar com toda a força): o movimento denominado «Abolição das Corridas de Touros». Teve mais de 8000 apoiantes (a nossa ajudinha). Não havia causas mais importantes a apoiar? Porque ganhou esta? O que se passa connosco? De que estamos à espera?

Não sou contra os touros, mas os portugueses estão a precisar mais de serem ouvidos e atendidos… Foi desperdiçada uma grande oportunidade.  Mais de 1000 pessoas registaram as suas preocupações através da criação do «seu» movimento, para depois ser selecionado apenas 1. Entre os 4 primeiros com mais apoiantes, 2 manifestam preocupação pelos animais…

Para quando uma audiência com os graves problemas das pessoas?

Uma vergonha.

Um pontinho de luz

Há uma criatura na minha rua, não sei se um homem se uma mulher que, todas as noites, ou quase todas as noites, deixa uma vela acesa na varanda envidraçada. Não sei desde quando o faz…

E eu, todas as noites, ou quase, pergunto-me «por quê ou por quem o faz»?

AntiDeuteronómio I

  (Javier-de Juan-Creix)

A cidade está deserta por dentro e por fora de nós começa a não haver vivalma neste lusco-fusco brumoso neste irracional azul de um céu de chumbo nesta descrença de manhãs de sonho em bicéfalas e bárbaras bandeiras de um mundo informe e medonho [Read more…]

«Esperança» com um ótimo resultado

 

A Porto Editora organizou uma votação intitulada “Palavra do ano 2011” que determinou o seguinte: «Austeridade» é a palavra do referido ano; «Esperança », a segunda; e «troika» em 3º lugar. Austeridade: palavra repetida, insistida e ouvida mais vezes ao longo do ano passado. Mas ainda neste início de 2012, como já se esperava: o governo prepara novas medidas de austeridade… Palavra nº 1, é, porém, indesejada, odiada, desencadeando arrepios. Mas esta insistência do governo na “via da austeridade” poderá ser, segundo o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, “uma aposta falhada”. “Sem crescimento, os níveis de dívida não serão sustentáveis”.

Tanta austeridade poderá não ser o melhor caminho. Talvez não seja a palavra do ano 2012.  Esperemos que venha a ser destronada pela «Esperança» que esteve lá perto…

No fundo, eu sou um sentimental

Todos nós herdámos do sangue lusitano uma boa dose de lirismo

além da sífilis, claro

amizade e solidaridade

amizade1.JPG

 

….para as pessoas que se estimam minhas amigas… e lembram-se de mim…

Hoje em dia, a amizade e a solidariedade, parecem ser dádivas. Mas dádivas raras. Em outros dos meus textos tenho definido, mania académica, o que é amizade: uma atracção recíproca com a pessoa que nos entendemos. Não envolve nem erotismo nem amor, apenas entendimento, alegria de se estar juntos e poder confidenciar assuntos que a mãos ninguém diríamos.

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Valsa das Flores e Versos à Primavera

Na minha homenagem à Primavera, recorro a ‘Valsa das Flores’, editada por Adya Classic. E, não sendo escritor, e muito menos poeta, atrevo-me a publicar uns singelos versos, meus, à Primavera:

Oh Mãe Natureza, imploro-te com amor

Manda o Sol suave, doce e reluzente

Trazer a Primavera no matinal alvor

Para valer a este mundo carente.

Que os campos se vejam floridos,

De manhãs e tardes de mil cantares

E de misteriosos voos destemidos

De aves livres em todos os lugares.

Oh Primavera de sentidos sonhos

Volta a abençoar-me o frágil coração

E incandesce de brilho os meus olhos.

Regressa, dá aos novos as esperanças

Porque, dizia o sábio Poeta de então,

O melhor do mundo são as crianças.

Um filme sem Sol

Este AntiCrist é um filme que coloca o realizador perante os seus fantasmas. Só podia ser realizado por alguem que vive na penumbra, em regiões onde a luz é sempre escassa, vidas vividas para dentro de si mesmas, não há ponta de esperança e muito menos de alegria.

É uma dor que se compraz a si mesma, sem justificação, sem utilidade, sem refúgio. De degrau em degrau, a culpa leva-o ao inferno, à insanidade.

Afinal pode-se viver sem sermos responsáveis pelos nossos actos ? A memória é o drama do ser humano , mas é tambem o que lhe permite ser mais digno e melhor. . O limite é não sermos capazes de viver com o nosso passado!

Este filme mostra essa verdade, a que não podemos fugir, de uma forma muito dolorosa…

A felicidade

Meus amigos:
Os meus amigos e a nossa Carla em particular põem-me cada questão que eu fico sempre naquela…que o mesmo é dizer: é melhor ficar calado. E é, é melhor ficar calado, porque há assuntos em que nos perdemos sempre que neles nos aventuramos a entrar. A felicidade…sei lá eu o que é a felicidade! Sabe lá a Carla o que é a felicidade! sabemos lá nós o que  é a felicidade! A felicidade do meu organismo, ou seja do meu ser global, porque eu não aceito qualquer dualidade corpo-espírito, é aquilo a que chamamos a homeostasia, isto é, a sintonia de todos os fenómenos que em mim se processam. Se há um desequilíbrio, grande ou pequeno,  em toda a constelação de vivências da minha harmonia, há um grito de alarme, mais estridente ou menos estridente. Se eu tenho dor, dita física ou dita psíquica, essa dor é um sinal ou um alarme acusando que a sintonia está perturbada. E a felicidade é a sintonia do meu ser. A felicidade é a ausência do sentimento da dor, dor como sentimento de desequilíbrio, seja ele qual for. Portanto, no seio de tão complexa textura, dizer que a felicidade está no dinheiro ou na carteira vazia, no carro topo de gama ou no andar a pé, no poder ou no desprendimento, no hotel cinco estrelas ou na casa de campo em que a Carla foi passar o fim de semana com lobos à mistura, na vivência da nossa razão ou na esperança das crenças sobrenaturais é puro disparate. A felicidade possível pode estar ou não estar em qualquer destas circusntâncias, porque ela só está na nossa homeostasia, na ausência de dor, como sentimento de alarme. E a dor tem uma escala incomensurável que abrange, felizmente, todos os seres humanos do mais rico ao mais pobre, do mais pensante ao mais irracional. Graduar a felicidade é, no fundo, mas bem no fundo, como pretender guiar o nosso fluxo neuronal através de três biliões de neurónios.

O cardeal

Cañizares

Volto uma vez mais a esta repugnante foto de António Cañizares, patente num dos posts anteriores, cardeal do jet set espanhol, vivendo em Roma, e que passa a vida em forrobodós, casamentos, baptizados, aniversários, bodas de ouro e prata, de gente rica e famosa. Convidado para abençoar tudo o que seja festas multimilionárias, reaccionário até ao tutano, mostra, com efeito, não ter o mais pequeno sentido do ridículo, mas mantendo o portentoso sentido de orientação nas águas em que ele e a igreja se movem.

Quer a igreja quer o capital sempre coordenaram interesses e estabeleceram estratégias comuns para consolidarem as suas complementares posições. Sempre se engalanaram pomposamente, sempre se calaram perante os graves problemas nacionais e internacionais, e em tudo dão e sempre deram as mãos, em pactos mais ou menos secretos, para atingirem os seus idênticos fins, isto é, a Fé no Capitalismo, a Esperança na exploração e no super-lucro e a apaziguadora caridade de prometer aos pobres a vida eterna.

O Discurso de Natal

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AINDA E SEMPRE O CALIMERO
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Não tenho tido vontade de escrever sobre política. A coisa é sempre a mesma e os nossos dirigentes todos a mesma trampa.
No entanto, pequei, e resolvi ouvir a mensagem de Natal do nosso maravilhoso líder, Sócrates II, O Dialogador.
As palavras estavam por lá, no discurso, mas a quererem dizer exactamente o oposto do que aprendemos na escola e no dicionário. Solidariedade e esperança, palavras sempre encontradas em qualquer discurso que se prese, em especial na época natalícia, pareceriam ao menos atento, palavras sérias e a mensagem de um Primeiro interessado e atento aos problemas do País. Mas não esqueçamos que estamos perante o mestre do disfarce, o perito do embuste, o cínico que pensa que é o maior, que é o mais inteligente e que é o detentor da verdade. O ar sofredor que adoptou, qual Calimero, e a face sem um sorriso para amenizar as palavras, ajudaram a criar um clima que lhe será cada vez mais adverso.
Já ninguém acredita que o investimento público possa trazer riqueza ao País, embora vá enriquecer alguns.
O discurso de ocasião, feita de promessas ocas, já não colhe, nem nos seus apoiantes. O seu partido anda perdido e sem saber já o que fazer com este personagem.
Um dia, Deus queira que muito próximo, para nosso bem, vai deixa-nos, e nessa altura poderá ser já tarde para uma recuperação, que outros encetaram já, enquanto nós nos continuamos a afundar.

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