Furacão eleitoral

Em parelo com a divulgação das sondagens que apontam para o PS em queda nas intenções de voto, assistimos à participação de António Costa numa reunião da Protecção Civil para acompanhamento do furacão que passou ao largo dos Açores, sem que o alarido comunicacional que o antecedeu se tivesse concretizado. É a campanha eleitoral a funcionar, o que revela muito sobre a sua utilidade quando realizada nestes moldes.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Pedro Abrunhosa – Músico
    2 de Outubro de 2019

    COMO TANCOS SALVA A DIREITA DE SI PRÓPRIA

    Quando, em 2016, a poucos dias das eleições presidenciais norte-americanas, James Comey, então director do FBI, decidiu abrir um inquérito sobre alegadas irregularidades na utilização do e-mail pessoal de Hillary Clinton por parte da candidata, o resultado final da já então titubeante disputa entre Trump e a ex-secretária de Estado ficou decidido. O resto é história. Da mesma forma, nesta semana, e na sequência do criminoso assalto a Tancos ocorrido há dois anos, a putativa influência do Ministério Público, após deduzir acusação contra Azeredo Lopes, na decisão dos portugueses atribuírem ou não maioria absoluta ao PS será determinante.

    Embora distantes na essência, na matéria e no direito, talvez a nenhum dos dois casos seja estranho o sentido de oportunidade na cronologia dos calendários eleitorais. Se assim for, por muito que Rui Rio tenha esbracejado contra o favoritismo deste Governo pelos magistrados, parece que os factos não lhe dão razão. Pelo contrário: com um vulgar assalto feito por Rambos-de-Meia-Tigela, caiu nas mãos da oposição, sobretudo à direita, um balão de oxigénio que será espremido, séria ou demagogicamente, até à segunda-feira subsequente ao acto eleitoral. Maioria absoluta ou não, daqui a uma semana, “à Justiça o que é da Justiça”, como diz, e bem, António Costa. Curioso é que esta ande mais depressa nestas semanas e mais devagar no pousio dos mandatos. A propósito: como vamos de Salgado, Bava, Granadeiro, Sócrates e Marquês?

    Tancos teve pelo menos a virtude de, além de trazer para o debate público o mistério do ‘achamento’, outorgar ao CDS verdadeiras razões para exigir responsabilidades políticas ao Governo, abandonando, até ver, o lancinante discurso de Calimero: querem acabar com os nossos valores, as nossas tradições, a Família, a Pátria e, talvez, autoridade. Se acabar com isso tudo significar pôr fim às touradas, manter os direitos no casamento gay, ao mesmo tempo que se sobe o salário mínimo, se aumenta a tributação sobre o consumo de produtos petrolíferos, se mantém vivo e recomendável o SNS, e tudo isto dentro de um quadro económico sustentado, então vamos a isso. Tem o CDS toda a razão. Afinal é para isto mesmo que existe uma esquerda e uma direita.

    A segunda virtude de Tancos é ter sido salvífico para Rui Rio que, após um brilhante debate com o primeiro-ministro em que mostrou estar à altura da única matéria que dá alguma alma àquele ar arreliado, a contabilidade, consegue diminuir, ainda que residualmente, o fosso que separa PSD do PS nas intenções de voto. O homem que esvaziou o Porto como está a esvaziar o PSD – massa crítica, identidade, desígnio -, lá vai carregando a caravana pelas ruas do país longe das arruadas laranja de outrora. Como no Porto, talvez estas eleições sirvam para renovar o partido, uma vez terminadas. Trazer chama e visão à liderança do PSD urge, porque é fundamental para o país que a direita se reencontre como parceira de um centro comum para esvaziar a chico-espertice saloia da ladainha populista.

    • Paulo Marques says:

      Discordo de duas coisas:
      – O caso é bastante mais simples de investigar do que os casos económicos, graças à ampla liberdade de obscurecer os fluxos de capital;
      – O país não precisa de uma direita, já a tem a Bruxelas a garantir que o acima nunca mude.

    • José Peralta says:

      “Quando, em 2016, a poucos dias das eleições presidenciais norte-americanas, James Comey, então director do FBI, decidiu abrir um inquérito sobre alegadas irregularidades na utilização do e-mail pessoal de Hillary Clinton por parte da candidata, o resultado final da já então titubeante disputa entre Trump e a ex-secretária de Estado ficou decidido” . (Pedro Abrunhosa)

      Sem dúvida ! E a comparação que faz com as eleições nos EUA, faz-me lembrar o famoso e escabroso caso das vítimas da Casa Pia, destinado “a cortar a cabeça” ao PS, e onde, pelo menos duas pessoas, foram vilmente acusadas, e transportarão até ao fim das sua vidas, um indelével ónus da culpa !

      Por fim, a minha declaração de princípios : Fui, e sou apoiante de um dos partidos da “geringonça”, mas não do PS, e sou contra uma sua eventual maioria absoluta !

      Tão contra, como contra esta e outras oportunas manobras políticas do “isento” Ministério Público…

    • Fernando says:

      Já o roubo da nomeação que Bernie Sanders sofreu em 2016 por parte da campanha de Clinton isso não interessa nada…


  2. As sondagens só têm um único intuito: manipular os resultados eleitorais. Já vi sondagens darem a maioria absoluta a Fernando Gomes na câmara municipal do Porto e depois Rui Rio vencer. Já vi sondagens darem a vitória a Sócrates quando depois o PSD ganhou com 10% dos votos. Já vi sondagens na Inglaterra darem a vitória aos que queriam ficam na UE e a vitória dos Clinton face ao candidato mais ridicularizado da história.
    Já vi sondagens para todos os gostos, mas todas têm sempre um intuito: manipular a opinião pública.

    Estou para ver, por exemplo, os 5% que já se apontava ao PAN depois das europeia se vão concretizar ou não.

    De resto nada acontece por acaso. Que grande coincidência, por exemplo, o processo do Ministério Público sobre as armas de Tancos ter reaparecido a céu aberto em plena campanha eleitoral.

    • j. manuel cordeiro says:

      Exacto, nada acontece por acaso. Aqui, o Ministério Público, esse monumento à incompetência, resolveu passar uma mensagem bem clara a todos os que têm telhados de vidro.

  3. Julio Rolo Santos says:

    Antônio Costa, pelos vistos, não sabe apagar fogos mas disponibiliza-se para enfrentar o furacão e todos os que lhe seguirem mas, á última hora, recua e manda os seus ministros. Será que o negócio dos fogos não lhe interessam? Em campanha eleitoral os políticos escolheram Tancos para tema de conversa e nem uma palavra para os incêndios que, mais uma vez, varreram o país. Com o negócio dos fogos milhares de pessoas vão perdendo o seu sustento e ninguém se importa. Um furacão que assusta mas não mata deixa os políticos com os cabelos em pé. Vamos lá entender esta corja.